Tal como as sondagens das últimas semanas indicavam, os resultados da primeira volta das eleições legislativas em França este domingo, 30 de junho, confirmaram a ascensão da extrema-direita. O partido União Nacional de Marine Le Pen, agora liderado por Jordan Bardella, conquistou 33,2% dos votos, à frente da coligação de esquerda Nova Frente Popular de Manuel Bompard, com 28,1%, e do partido Renascimento de Emmanuel Macron, que arrecadou 21%.

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Nestas eleições, quase 70% dos eleitores franceses foram às urnas, tendo sido o número mais elevado dos últimos 40 anos. Nas celebrações, Jordan Bardella pediu uma “mobilização” para uma das “votações mais decisivas da história da V República”, tendo considerado que os resultados constituíram “um veredicto claro” e a prova de uma “clara aspiração à mudança”.

O líder da extrema-direita garantiu que, vencendo as eleições, será um “primeiro-ministro da coabitação, respeitador da Constituição e da função do presidente da República, mas intransigente na política ao serviço de França e dos franceses”, segundo o “Jornal de Notícias”. A segunda volta acontecerá no próximo domingo, a 7 de julho.

Mas quem é Jordan Bardella? Do caminho na política à imagem pública como a sua prioridade, eis quatro coisas que precisa de saber sobre o líder da extrema-direita francesa de 28 anos.

1. Narrativa do “self-made man” pode não ser 100% verdadeira

Jordan Bardella nasceu em 1995 na comuna francesa Saint-Denis, nos subúrbios de Paris, num complexo habitacional de baixos rendimentos. Filho de mãe solteira, uma imigrante italiana que veio de Turim para França nos anos 60 e que se separou do pai quando o jovem tinha 1 ano de idade, o político tem-se apresentado como um sobrevivente de um passado difícil.

“Tal como muitas famílias que vivem nestes bairros, fui confrontado com a violência, vendo a minha mãe a não conseguir fazer face às despesas”, disse numa entrevista ao canal de televisão francês France 2, em abril.

A infância foi dividida entre o apartamento da mãe e a casa do pai, que tinha um negócio de distribuição de bebidas, na cidade mais abastada de Montmorency. Segundo o que Pierre-Stéphane Fort, um jornalista de investigação que publicou recentemente uma biografia crítica não autorizada de Jordan Bardella, disse à Euronews, o político “frequentou sobretudo escolas privadas católicas”.

“Quando era adolescente, o pai levou-o numa longa viagem aos Estados Unidos. Aos 19 anos, o pai comprou-lhe um carro Smart. Aos 20 anos, deu ao filho um apartamento num subúrbio rico de Paris, no Val d'Oise. Mas tudo isso não se enquadrava na narrativa política, por isso foi apagado”, atirou.

Além disso, um inquérito recente do “Le Monde” tentou encontrar vestígios do jovem no bairro de Saint-Denis, que se tornou o centro da sua narrativa de “self-made man”, mas não conseguiu encontrar nada, já que poucos moradores se lembram de o ter visto e os poucos que o viram não se recordam se ele tinha um interesse particular pela política ou pela extrema-direita.

2. Desistiu da universidade para se dedicar à política

O caminho de Jordan Bardella na política começou aos 16 anos, quando o jovem aderiu ao União Nacional, na altura conhecido como Frente Nacional. Já nessa altura o político ostentava a sua imagem de marca, já que chegava às reuniões políticas de fato e com o seu cabelo penteado para trás.

Alguns anos mais tarde, Jordan Bardella abandonou a universidade – tendo ido estudar Geografia para a Universidade Sorbonne, em Paris – para se juntar ao partido a tempo inteiro. Foi consecutivamente conselheiro regional, porta-voz e vice-presidente do partido antes de liderar a lista do União Nacional nas eleições europeias de 2019, com apenas 23 anos de idade. Neste ano, tornou-se o segundo eurodeputado mais jovem da história europeia.

Em novembro de 2022, foi eleito sucessor de Marine Le Pen na presidência do partido de extrema-direita. Atualmente, é deputado europeu e é o favorito para se tornar primeiro-ministro de França.

3. Ascensão rápida do político ligada a relacionamento amoroso

Segundo Pierre-Stéphane Fort, a ascensão rápida de Jordan Bardella tem muito que ver com a sua relação amorosa com a filha de um antigo conselheiro do União Nacional, Frederick Châtillon, o antigo presidente do Groupe Union Défense (GUD), uma organização estudantil de extrema-direita dissolvida pelo governo na quarta-feira, 26 de junho.

Jordan Bardella namora com Nolwenn Olivier desde 2020. A jovem é neta do fundador do União Nacional Jean-Marie Le Pen e filha de Marie-Caroline Le Pen, a irmã mais velha de Marine Le Pen, o que levou a alegações de nepotismo a favor do jovem no seio do partido União Nacional.

4. Imagem pública é a prioridade de Jordan Bardella

Jordan Bardella é a primeira pessoa a liderar o partido União Nacional que não é membro da família Le Pen. Marine Le Pen sucedeu ao seu pai, Jean-Marie Le Pen, na liderança do partido em 2011. O seu jovem sucessor está a revelar-se um grande chamariz, atraindo um público mais jovem para votar no partido através de aparições na televisão e da aposta nas redes sociais.

Bardella utiliza o TikTok, onde tem 1,7 milhões de seguidores, como um meio de “chegar aos jovens que são despolitizados e se tornam politizados através das redes sociais”. No Instagram, conta com 779 mil seguidores.

Contudo, os críticos acusam-no de passar demasiado tempo a cultivar a sua imagem pública em detrimento do aprofundamento de questões políticas cruciais. A deputada europeia de esquerda Manon Aubry chamou-lhe “deputado fantasma”, devido à sua ausência frequente do hemiciclo europeu nos últimos cinco anos.

Além disso, Pierre-Stéphane Fort descreve Jordan Bardella como um “camaleão” que “muda de opinião com muita frequência”. “Quando fala com os jovens, é uma espécie de defensor dos direitos das mulheres, que quer lutar contra o aquecimento global. Ele compreende que estas são questões importantes para os jovens. Mas quando olhamos para as suas votações no Parlamento Europeu, apercebemo-nos de que ele faz o oposto do que diz nas redes sociais. Por exemplo, em várias ocasiões, recusou-se a condenar a proibição do aborto na Polónia”, explicou o jornalista.