O aperfeiçoamento da inteligência artificial e da tecnologia, que permitem tornar cada vez mais viáveis os carros autónomos, não deixam margem para dúvidas. De ano para ano, os avanços tecnológicos são cada vez mais notórios e têm um impacto significativo na vida de todos nós. Mas também têm levado vários investigadores e especialistas da área a levantar algumas preocupações.
Algumas dessas dúvidas estão bem documentadas na ficção, que toma algumas liberdades criativas para mostrar o pior de um mundo altamente tecnológico. "Black Mirror", uma das séries mais conhecidas da Netflix, faz uso dessa retórica que já é imagem de marca de grande parte dos episódios.
No terceiro episódio da primeira temporada, intitulado "The Entire History of You", é-nos apresentado um mundo onde as pessoas vivem com um chip implementado nos olhos que lhes permite gravar tudo o que veem e ouvem. Problema? A hipótese de poderem reproduzir, em retrospetiva, todas as situações por que já passaram servem como catalisador para destruir relações e levar personagens à loucura.
Embora seja difícil, e até improvável que um chip destes venha a ser implementado nos próximos anos, há outras ideias que estão a tirar o sono a vários investigadores ouvidos pela revista "Business Insider" — que identificam problemas relacionados com a utilização de drones ou de carros que se conduzam sozinhos.
1. Os drones como armas de destruição
Os drones tornaram-se o brinquedo preferido de muitas crianças. E se aquele que tem em casa não é capaz de voar muito alto ou, pelo contrário, cai com uma rajada de vento, há outros capazes de destruir estruturas. E essa é a grande preocupação do engenheiro civil J. Luke Bennecke. Especializado na área de engenharia de transporte, Bennecke preocupa-se com a possibilidade de os drones destruírem a infraestrutura da energia nacional.
"É muito fácil configurar milhares de drones que custam cerca de 890 euros", conta ao "Business Insider". Além disso, continua, está à distância de qualquer um colocar explosivos na parte interior destes objetos, pilotá-los numa rota pré-programada e conduzi-los contra um edifício.
2. A recolha de imagens e informação sensível através de drones
Cada vez mais desenvolvidos e inteligentes, os drones parecem, para a maioria, um brinquedo inofensivo. Os pais acham divertido e as crianças percorrem a casa, o jardim e chegam mesmo a conduzir o aparelho a locais escondidos, onde estes não chegam.
E esta é a grande preocupação de James Song, um tecnólogo da empresa Shadow Foundry, que teme um cenário onde as imagens recolhidas pelo gadget possam ser recolhidas e utilizadas para fins ilícitos. Em caso de uso indevido, as imagens podem mostrar as formas mais simples e pragmáticas de entrar dentro de sua casa, alerta o especialista.
3. Os carros autónomos e a dependência de uma rede externa
Falar de avanços tecnológicos é, cada vez mais, falar da hipótese de conduzir um carro autónomo. Mas este é um processo que depende da conexão a serviços externos ao veículo e a uma rede de alta velocidade 5G. Segundo um dos especialistas ouvidos pela "Business Insider", o perigo pode vir precisamente desta dependência.
Se existisse uma faixa de rodagem dedicada exclusivamente a carros autónomos, todos estes poderiam ser programados para se manterem à mesma distância e velocidade. A problemática adensa-se quando se pensa em situações mais graves e que envolvam a perda de vida humana.
À mesma publicação, o especialista diz que um terrorista poderia infiltrar-se na rede dos carros e conduzi-los a uma velocidade superior à suposta, causando várias mortes.
4. Uma cidade ligada em rede 5G que deixe de funcionar
Embora a rede 5G traga vantagens na forma como comunicamos, para Joseph Cortese, diretor da empresa de segurança A-LIGN, há também alguns motivos para alerta ao termos uma cidade completamente ligada via 5G — porque o impacto de um determinado problema é exponencialmente maior.
"Um ataque simples terá o potencial de prejudicar uma cidade inteligente que esteja dependente da rede 5G para funcionar", explicou à "Business Insider".
5. A nova tecnologia que pode contaminar a água
O CRIPSR, uma nova tecnologia que permite alterar o ADN, está a ser utilizada por cientistas para remover o vírus da malária dos mosquitos, tratar a distrofia muscular ou até melhorar a qualidade dos alimentos. E embora seja um passo notável na ciência médica, na medida em que pode ajudar a criar medicamentos mais eficazes, pode revelar-se um problema.
Quem o diz é J. Luke Bennecke que, em casos de uso indevido, podem servir para contaminar os armazenamentos de água das cidades — pondo em risco milhões de pessoas.
6. As DeepFakes e usurpação de identidade
Através da inteligência artificial, as DeepFakes permitem substituir o rosto de pessoas em imagens e vídeos ao ponto de ser quase impercetível de que se trata de uma imagem manipulada. A facilidade de uso desta tecnologia leva a que Matt Rahman, COO da IOActive, venha alertar para os perigos.
"Daqui a uns anos não seremos capazes de identificar o que é falso", explica. É que a tecnologia pode ser utilizada para destruir carreiras de governantes e fomentar crises no setor privado. "Quando um vídeo falso é partilhado e se espalha pelos meios de comunicação, as ações de uma empresa de capital aberto podem cair", revela.
E continua: "Enquanto a empresa tenta restaurar a credibilidade e a confiança dos investidores, o adversário já está a ganhar dinheiro com as ações da empresa, que entretanto caíram."
7. A problemática da publicidade direcionada
De certo que já se apercebeu disto: não, não é coincidência surgir-lhe um anúncio publicitário sobre as sapatilhas de que andava à procura há meses. Este é um processo pensado e trabalhado para seduzir o consumidor a comprar impulsivamente um produto.
A tentativa de conhecer cada vez melhor os consumidores e de saber exatamente o que procuram está a recolher cada vez mais informação privada e sensível.
Para Charlie Cabot, especialista em informática, o perigo de conhecer cada vez melhor o consumidor pode vir a fazer com que o que lhe é proposto se torne cada vez mais uma tentação. "A capacidade de convencê-lo a comprar um determinado produto pode atingir níveis inaceitáveis", alerta.
8. E se os carros autónomos ganharem vontade própria?
Os carros com condução automática são uma realidade cada vez mais presente. E a gestão dos veículos é feita através da inteligência artificial autoconsciente — que pode vir a ser capaz de entender o mundo da mesma maneira que os humanos.
Mas Shriram Ramanathan, analista da Lux Research, teme a capacidade de resolver problemas. Com duas atividades em simultâneo, como mudar de canção ou conduzir o carro, como pode o sistema do veículo ser capaz de entender qual a tarefa com maior prioridade?
Além disso, o especialista identifica outros riscos."E se um carro semi-autónomo tomar a decisão sobre em qual pessoa bater, analisando os dados do LinkedIn e do Facebook para determinar o património líquido de um indivíduo?."