Foi um debate atípico e adaptado às novas circunstâncias aquele que decorreu na madrugada de quarta-feira, 8 de outubro (hora de Portugal): os candidatos ao lugar de presidente dos Estados Unidos deram lugar aos seus vices, o republicano Mike Pence e a democrata Kamala Harris, depois de Donald Trump ter testado positivo para a COVID-19 e lançado o caos em plena campanha presidencial.

Moderado por Susan Page, do "USA Today", foi uma conversa menos agitada e exaltada do que a anterior — marcada por insultos, perda de paciência e interrupções constantes, descrita pelo "Business Insider" como "espetáculo de terror". Apesar de, por diversas vezes, Kamala ter se visto obrigada a pedir para não ser interrompida, houve, de longe, mais espaço para que cada lado pudesse defender as respetivas posições em relação a temas diversos, desde a COVID-19 ao problema da violência policial nos Estados Unidos.

EUA. No primeiro debate, Joe Biden chamou "palhaço" e "mentiroso" a Trump antes de o mandar calar
EUA. No primeiro debate, Joe Biden chamou "palhaço" e "mentiroso" a Trump antes de o mandar calar
Ver artigo

Mas o momento mais marcante em nada se relaciona com política: a personagem mais famosa do segundo debate às presidenciais foi mosca pousada, durante dois minutos, na cabeça de Pence.

1. Kamala Harris: "O povo americano testemunhou aquilo que foi o maior falhanço de qualquer administração presidencial da história do nosso país"

Harris criticou a Casa Branca e a administração de Donald Trump na forma como lidou com a pandemia COVID-19. "O povo americano testemunhou aquilo que foi o maior falhanço de qualquer administração presidencial da história do nosso país", disse, acrescentando os números: mais de 210 mil americanos morreram, mais de sete milhões contraíram a doença, uma em cada cinco empresas fechou e mais de 30 milhões de pessoas entraram com pedido de desemprego nos últimos meses.

2. Pence: plano para lidar com a pandemia de Biden é "plágio"

Ainda no capítulo pandemia, Pence fez questão de dizer que o plano de Biden para lidar com a pandemia parecia um plágio — fazendo, assim, referência ao slogan "Build Back Better", uma vez que a expressão já teria sido usada por outros partidos nos Estados Unidos e até por Boris Johnson, primeiro-ministro britânico.

"Sinceramente, quando vejo o plano que fala sobre testes avançados, criação de novos EPI [Equipamento de Protecção Individual], desenvolvimento de uma vacina, parece-se tudo um pouco com plágio, que é algo que Joe Biden conhece bem.”

3. Kamala Harris: “Sr. Vice-presidente, estou a falar.”

O segundo debate foi bem mais calmo do que o primeiro, que foi marcado por vários episódios em que Trump e Biden falavam um por cima do outro. Ainda assim, Kamala Harris pediu algumas vezes ao atual vice-presidente dos Estados Unidos que não a interrompesse.

Um desses momentos deu-se quando a democrata estava a tentar falar sobre os planos fiscais de Biden e foi novamente interrompida. "Sr. Vice-Presidente, estou a tentar falar", disse. Pence ignorou e continuou a falar. Até que Harris, diz: "Se não se importar de me deixar terminar, podemos conversar."

4. Pence defende o evento em Rose Garden, onde várias pessoas acabaram contaminados com COVID-19 

A 26 de setembro, Donald Trump anunciou a nomeação de Amy Coney Barret para o Supremo Tribunal num evento ao ar livre, que incluiu 30 pessoas, poucas com máscara e quase nenhumas a respeitarem a distância de segurança. Como resultado, várias contraíam a COVID-19, incluindo o presidente dos Estados Unidos.

No debate, Pence defendeu esta reunião, referindo que houve "muita especulação" sobre o resultado. Até porque ele esteve lá: Eu e a minha mulher tivemos a honra de estar lá. Muitas pessoas foram testadas para coronavírus, e foi um evento ao ar livre que todos os nossos cientistas aconselham regularmente e rotineiramente."

Depois, Pence explica a abordagem que a administração de Trump escolheu na forma de lidar com o vírus. “O presidente Trump e eu confiamos que o povo americano fará escolhas no melhor interesse de sua saúde.”

Terá que ver com confiança e liberdade, dois aspetos que o candidato democrata parece, do seu ponto de vista, não ter em conta. “Joe Biden e Kamala Harris falam constantemente sobre mandatos, e não apenas de mandatos com o coronavírus, mas uma aquisição governamental dos cuidados de saúde.”

5. Kamala sobre os impostos de Trump: "Só para que toda a gente perceba: quando dizemos 'em dívida' significa que o presidente deve dinheiro a alguém"

"Agora sabemos, por causa do jornalismo de investigação, que Donald Trump pagou 750 dólares em impostos", frisa a senadora. "Quando eu soube, eu literalmente disse: "Queres dizer 750 mil dólares?"

Kamala Harris destaca que o presidente americano deve dinheiro."Agora sabemos que Donald Trump deve e está em dívida com 4 milhões de dólares. E só para que toda a gente perceba: quando dizemos 'em dívida' significa que o presidente deve dinheiro a alguém. E seria bom saber a quem é que o Presidente dos Estados Unidos, o comandante e chefe, deve dinheiro, porque o povo americano tem o direito a saber o que é que está a influenciar as decisões do presidente."

6. Pence nega racismo sistémico e abuso de poder das autoridades

Pence criticou os danos que foram causados pelos motins que ocorreram no verão, na sequência do movimento Black Lives Matter. "O nosso coração parte-se pela perda de qualquer vida americana inocente... mas não há desculpa para os distúrbios que se seguiram", disse, respondendo à questão sobre se teria havido justiça no caso da morte de Breonna Taylor — uma profissional de saúde de 26 anos, de Louisville, no Kentucky, morta a 13 de março de 2020, pelo Departamento de Polícia Metropolitana de Louisville, que invadiu o seu apartamento enquanto esta dormia, disparando oito tiros sobre ela.

Apesar de o vice-presidente ter dito que "justiça será feita" (reconhecendo assim que, efetivamente, não foi feita), Pence defendeu o apoio da administração de Trump às autoridades. “Não temos que escolher entre apoiar a aplicação da lei, melhorar a segurança pública e apoiar nossos vizinhos afro-americanos e minorias”, disse.

Nega a ideia de os Estados Unidos terem racismo sistémico e nega a acusação de que as autoridades policiais exercem abuso de poder sobre as minorias. "É um grande insulto aos homens e mulheres que aplicam a lei. E eu quero que todos saibam, que todos os que põe o uniforme todos os dias saibam, que o presidente Trump e eu estamos com eles."

"A vida dela foi levada, injustificada, trágica e violentamente", respondeu Harris, que considerou, de imediato, que não foi feita justiça. A democrata faz ainda referência à morte de George Floyd e considera: “Nunca vamos tolerar a violência. Mas devemos sempre lutar pelos valores que prezamos, incluindo a luta pelos nossos ideais", defendeu Harris.

"Polícias maus são maus para os bons polícias", disse ainda. "Precisamos de reformas do sistema policial e de justiça."

7. Finalmente, a mosca — ou o "flygate".

Com um debate sem grandes alaridos e feito de momentos mornos, a grande protagonista da noite foi a mosca que — enquanto se debatia a violência policial — pousou na cabeça de Pence, onde terá permanecido durante cerca de dois minutos.

O vice-presidente nem percebeu que o inseto estava pousado no seu cabelo, mas o resto do mundo não deixou escapar o insólito da situação, e já são muitos os meses e piadas a correr no Twitter. O "Business Insider" chamou-lhe o "Flygate"

Joe Biden alinhou: