"Neste momento, transitámos de uma floresta para um verdadeiro pântano". É desta forma que Matt Kirwan, ecologista do Instituto de Ciência Marinha de Virgínia, descreve, em declarações ao jornal americano "Time", o Refúgio Nacional de Blackwater, nos Estados Unidos, onde está a chamada floresta fantasma.

Bastou um passeio para identificar a problemática: as florestas já não são florestas e tudo porque o solo agora é salgado e demasiado húmido para suportar a vida das árvores. Mas como é que isto acontece? Quando a água salgada entra na área das florestas, primeiro diminui e depois interrompe o crescimento de novas árvores. Ou seja, quando as árvores velhas morrem, não são substituídas por outras mais novas.

Este processo aconteceu progressivamente e, como resultado, hoje restam apenas árvores velhas e brancas que formam a tal floresta fantasma — "o indicador mais marcante das mudanças climáticas em qualquer lugar da costa atlântica", refere Kirwan.

De acordo com a última pesquisa da ecologista, este processo tem-se tornado cada vez mais rápido. Os dados revelam que o recuo da floresta aumentou três vezes em relação ao período anterior à Revolução Industrial (altura em que as emissões de gases com efeito de estufa aumentaram).

Um dos primeiros fatores que levou ao desaparecimento da floresta foi a subida do nível médio das águas do mar, revela um artigo recente publicado na revista académica "Nature Climate Change" pela professora Keryn Gedan da Universidade George Washington e pela ecologista Kirwan. Este fator é fácil de perceber, uma vez que se conhece a influência da água salgada na sobrevivência das árvores.

"Quando as árvores morrem, o pântano ocupa o seu lugar", explica Matt Hurd, um engenheiro florestal regional do departamento de recursos naturais de Maryland. O problema atual é que não se sabe como travar este fenómeno.

Apesar disso, os terrenos pantanosos podem ter algumas vantagens, refere Matt Kirwan. Isto porque têm uma grande diversidade biológica e podem reter mais carbono do que a floresta. Só que o pântano que substitui as árvores mortas não é a ultima fase da transformação e é neste ponto que a questão se agrava.

O pântano pode ficar submerso pela água que resulta da subida do nível médio dos oceanos, levando a maiores quantidades de carbono na atmosfera e a uma perda de terrenos ou de superfície pantanosa, explica Emily Bernhardt, professora na Universidade Duke.

Mas o terreno florestal não é o único que se perde: "Em consequência da mudança das florestas, há imensos terrenos agrícolas que se perderam", refere Keryn Gedan. Só entre 2009 e 2017, um terreno agrícola em Maryland perdeu cerca de 2% da área, de acordo com a pesquisa feita pela professora da Universidade George Washington.

Amazónia. O mundo lança boicote e já nem a picanha vem do Brasil
Amazónia. O mundo lança boicote e já nem a picanha vem do Brasil
Ver artigo

Mas este fenómeno não é novidade. Já em 1910 havia relatos da existência de florestas fantasma. Só que a diferença está no facto deste fenómeno se ter expandido, chegando a toda a Costa Atlântica da América do Norte — desde Luisiana até ao sul do Canada.

Aquilo que hoje em dia é diferente é a cada vez maior preocupação dos cientistas em investigar o fenómeno: "Sempre foram vistas como uma exceção e não como uma regra", refere Kirwan. Mas à medida que a situação se agrava, a preocupação dos cientistas aumenta.

Neste momento, aquilo que os investigadores procuram é perceber qual a área total destas florestas fantasma e qual o ritmo da evolução do fenómeno.

Se nós percebermos que mudanças estão a acontecer, "talvez possamos ser mais proativos na forma como atuamos nestas transformações", indica Marcelo Ardon, ecologista da Universidade da Carolina do Norte, que estuda as florestas fantasma.

As coisas MAGGníficas da vida!

Siga a MAGG nas redes sociais.

Não é o MAGG, é a MAGG.

Siga a MAGG nas redes sociais.