Será que encontrar o amor pode resumir-se a uma fórmula matemática? Foi esta a pergunta lançada pelo matemático Bobby Seagull. "Tinha 32 ou 33 anos, era solteiro, amava matemática e ciências, então pensei: 'Será que posso usar a matemática para me ajudar?'", contou ao jornal britânico "The Guardian".
Inspirado por Peter Backus, um professor de economia da Universidade de Manchester que em 2010 escreveu um artigo intitulado de "O porquê de não ter namorada", Seagull usou a equação de Drake (desenvolvida para estimar quantas civilizações alienígenas inteligentes poderiam existir na galáxia) de forma a determinar o número de companheiros com potencial. "Começas por assumir que existem infinitamente muitos, depois continuas a diminuir cada vez mais os grupos", continua.
Do total de populações femininas de Londres e Cambridge, no Reino Unido, as cidades entre as quais o britânico se dividiu, o matemático selecionou aquelas com idades compreendidas entre a sua e dez anos mais novas. De seguida, reduziu esse grupo à proporção que provavelmente teria formação superior, para se adequar à sua realidade, uma vez que era professor de matemática com um doutoramento.
Neste ponto, Bobby Seagull encontrou o primeiro impasse: que fração deste grupo é que ele poderia achar fisicamente atraente? Depois de analisar a sua lista de amigos no Facebook, encontrou 1.200 mulheres que correspondiam aos critérios de idade e local. A cada 1 em 20, o matemático dizia que “os imaginava juntos, mas noutra vida”.
Ficou com um total de 29.369 namoradas possíveis. Mas isso não resolvia os dois próximos obstáculos: a futura namorada tinha de ser solteira e convinha achá-lo atraente também. O número rapidamente reduziu-se para 73.
Pode a matemática ajudar (mesmo) a descobrir o amor?
O namoro online fortaleceu o papel da matemática na procura do amor, não só por dar infinitas opções de possíveis companheiros, mas também por usar algoritmos de modo a filtrar os requisitos que nós queremos numa pessoa. Só que talvez não faça assim tanto sentido continuar a acreditar que cada um de nós só tem uma alma gémea.
"Eu acho que existem imensos 'companheiros perfeitos'", afirma Seagull. "Existem 107 mil milhões de pessoas que já existiram — se realmente acha que só há uma pessoa que é o amor da sua vida, provavelmente ela já morreu."
Atualmente com 35 anos e ainda solteiro, Seagull continuou a investigação sobre "fazer a matemática do amor funcionar" no livro "The Life-Changing Magic of Numbers". Quando chegou ao número 73, o matemático mostrou o resultado à mãe, de forma a responder à eterna questão da progenitora "Mas afinal porque é que não tens namorada".
"A realidade está no papel — isto não diz se vai ser compatível pessoalmente. No papel, provavelmente sou uma combinação perfeita com o meu pai, se ele fosse uma mulher e não tivéssemos um grau de parentesco. Estas 73 pessoas são a combinação perfeita para mim, mas eu posso não ser perfeito para elas".
Como a equação de Drake, o namoro virtual pode apresentar apenas um conjunto de pessoas adequadas que poderia conhecer. A atração deve ser avaliada pessoalmente e "não existe uma fórmula para isso", diz Seagull. Ou pelo menos ainda não, acrescenta. Por enquanto, a abordagem mais eficiente para namorar é conhecer o maior número possível de pessoas — e as aplicações ligam-nos a um número aparentemente infinito. Só que isso também pode levantar problemas. Se a aplicação está sempre a apitar com um novo match, como é que podemos ter a certeza de que a pessoa com quem estamos a sair é a certa? E se o que vier a seguir for melhor?
Seagull tem uma resposta para isso. Imaginemos que ele queria ter uma relação aos 40 anos e delineava como plano ter dois encontros por semana, durante 50 semanas (por ano), por cinco anos. Isto daria um total de 500 encontros. Com base nos seus cálculos, precisaria de dois anos — isto é, de 185 encontros — para escolher qual a mulher de quem gostava mais. A partir do 186.º, está preparado para fazer essa opção.
"Nesses 500 encontros, não se sabe em que momento vamos encontrar a pessoa mais adequada e provavelmente vamos sentir falta dela mas, matematicamente, é assim que assentamos melhor."
“E é aqui precisa de confiar na matemática — pode até pensar que a primeira pessoa que conhece é incrível, mas precisa de passar pelos primeiros 185 [encontros]".
Mas para manter o controlo deste número exato, seria necessário anotá-lo — um passo demasiado extremo, até para Seagull: "Eu ainda não cheguei a esse nível de cinismo", diz. Porém, segundo o matemático, não devemos basear tudo no cálculo pois este não se pode relacionar com traços de personalidade e emoções humanas. São questões irracionais e que não se podem prever nem estudar dentro de estatísticas.
Desde que Bobby Seagull começou a usar a equação de Drake, só teve sete ou oito encontros. "Eu sou terrível, faço intervalos longos entre os encontros. Depois de me encontrar com alguém, se não me divirto, fico desanimado". E revela: "Eu tinha um encontro, onde eu gostava dela e ela não gostava de mim. Como ser humano, é normal ficar chateado. É por isso que os cientistas confiam na matemática".