Noites de verão são sinónimo de cervejas, caipirinhas, gins, sangrias, cocktails e por aí adiante. O dia seguinte, às vezes, não é tão feliz como a noite por causa das dores de cabeça, má disposição, falta de energia e todos os outros sintomas da ressaca.

Descobrimos a cura perfeita para a ressaca. É quente, ácida e custa apenas 1,90€
Descobrimos a cura perfeita para a ressaca. É quente, ácida e custa apenas 1,90€
Ver artigo

Mas, a 4 de julho, parecia que todas as manhãs de verão se iam tornar boas e sem qualquer sintoma depois de beber álcool: a farmacêutica sueca, De Faire Medical, lançou um comprimido anti ressaca. O site do suplemento vendido no Reino Unido e enviado para a Alemanha, França, Irlanda, Itália, Suécia, Áustria, Finlândia e Suíça diz que decompõe 70% de álcool depois de uma hora, com efeito de 12 horas.

O objetivo é que o corpo decomponha muito mais rápido o álcool, resultando numa diminuição dos efeitos conhecidos da ressaca. A recomendação é a toma de dois comprimidos até uma hora antes de beber a primeira bebida.

O Myrkl é um produto clinicamente testado de forma independente que decompõe o álcool rapidamente antes de chegar ao fígado. É feito com vitamina B12 para ajudar a aumentar a imunidade e os níveis de energia dos consumidores”, explicou a produtora do comprimido ao “i”.

A produtora dá o exemplo prático: “os consumidores que beberam dois copos de vinho e tomaram Myrkl antes tinham 50% menos álcool no sangue após 30 minutos do que o grupo placebo (formulações que não possuem nenhuma propriedade farmacológica) e 70% menos após 60 minutos”.

Até aqui, parece que o comprimido vai curar as ressacas depois de ter ingerido muito álcool. Mas, não é bem assim. “A ressaca é uma condição médica e o nosso produto é um suplemento, não visa o impacto do consumo excessivo de álcool. Eu acho que isso está muito claro”, explica o cofundador do suplemento, Frederic Fernandez, ao “P3”.

De sublinhar que a associação de ser um comprimido anti-ressaca existiu porque se há uma forma de diminuir a absorção do álcool no corpo isso vai-se traduzir numa diminuição de efeitos de pós-ingestão de bebidas. Além disso, inicialmente, o comprimido foi vendido como “a pílula pré-bebida que funciona”, mas essa informação já foi retirada do site.

“O objetivo de Myrkl é ajudar quem bebe álcool de forma moderada a acordar bem no dia seguinte e alguns ensaios clínicos independentes já comprovaram o quão poderoso é o produto na quebra dos efeitos do álcool”, defendeu a De Farie Medical, quando foi lançado o produto.

O cocriador do suplemento expôs ainda ao “P3”: “A nossa posição é muito clara: o álcool é uma substância tóxica, achamos que deveria ser proibido. As pessoas que estão mais interessadas no nosso produto tomam apenas duas bebidas de vez em quando e têm dificuldade em metabolizá-las. Não é virado para consumidores excessivos, nem é nisso que eles estão interessados”, conclui.

Para chegar a estas conclusões foi feita uma investigação que partiu na avaliação de 24 jovens. Entre os 13 homens e as 11 mulheres escolhidas para o estudo, uma parte tomou duas cápsulas de Myrkl e outros cápsulas placebo durante uma semana. Depois, foi lhes dada a beber entre 50 e 90ml de álcool. A quantidade foi determinada de acordo com o peso corporal e nas duas horas seguintes foi medido o nível de álcool.

A partir daqui começam as críticas e as opiniões adversas. Félix Carvalho, professor catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, explica ao “P3” que os erros no estudo começam a partir do momento em que não é feita uma diferenciação entre homens e mulheres. Sublinha ainda que como uma parte dos participantes do estudo não apresentou “a concentração de álcool relevantes mensuráveis” apenas foram valorizadas 14 pessoas do estudo. Segundo o professor de Ciências Farmacêuticas, “não se pode tirar conclusão nenhuma” com tão poucas pessoas.

Depois de o comprimido anti ressaca ter esgotado em 24 horas no Reino Unido, Frederic Fenrnandez já assumiu que serão realizados ensaios clínicos numa maior escala. Ainda assim, sublinha que, como o Myrkl é um suplemento, não é obrigatório realizar ensaios clínicos. “Não é porque os fizemos que devemos ser culpados por isso”, explica o cofundador.