A estação de radio e televisão dinamarquesa DR, equivalente à BBC no Reino Unido, acaba de lançar uma nova série de televisão animada que tem as crianças com idades compreendidas entre os quatro e os oito anos como público-alvo. A personagem principal da história? John Dillermand, um homem cujo pénis gigante lhe permite fazer várias tarefas como roubar gelados às outras crianças, pintar murais ou até mesmo içar bandeiras.

Sem surpresa, a estreia da série, que aconteceu no sábado, 2 de janeiro, gerou discussão sobre que temas a televisão focada nas idades mais jovens deve ou não abordar. Uma das vozes críticas da decisão tomada pelo canal dinamarquês foi a da escritora Anne Lise Marstrand-Jørgensen: "É mesmo esta a mensagem que queremos transmitir às crianças enquanto estamos no meio desta grande onda do movimento #MeToo?".

A autora refere-se à carta aberta, assinada em setembro de 2020 por mais de 1.600 mulheres, que revela haver um problema de sexismo e assédio nas áreas de comunicação, política e médica da Dinamarca — um país que, regra geral, é tido com um dos exemplos onde a igualdade entre homens e mulheres é respeitada e cultivada.

Christian Gores, professor associado e investigador da questão de género da Universidade de Roskilde, na Dinamarca, acredita que o facto de esta nova série celebrar o poder dos genitais masculinos é motivo mais do que suficiente para atrasar a luta contra a igualdade. "Isto perpetua uma ideia padrão de uma sociedade patriarcal que tem sido usada para desculpar muito do mau comportamento dos homens. [A série] foi feita para ser engraçada, por isso é vista como inofensiva. Mas não é, e é isto que estamos a ensinar aos nosso filhos", explica em declarações ao jornal britânico "The Guardian".

Erla Heinesen Højsted, psicóloga de formação e que, diariamente, trabalha com crianças e famílias, acredita que as vozes que se mostram contra a série poderão estar a exagerar. "O John Dillermand [o protagonista da série] fala com as crianças e partilha da forma delas de pensar. E a verdade é que os miúdos acham graça aos genitais", diz ao mesmo jornal.

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"A série mostra um homem que é impulsivo e nem sempre em controlo de si mesmo, que comete erros, como os miúdos. Mas o Dillermand toma sempre a posição certa. Assume a responsabilidade das suas ações. Quando uma mulher lhe diz que ele deveria manter o pénis dele dentro das calças, por exemplo, ele acede. Isso é bom. Ele é responsabilizado", continua.

A psicóloga diz ainda que "esta não é uma série sobre sexo" e que "fingir que é projeta ideias adultas nela".

Face às críticas de que tem sido alvo, a estação de televisão já reagiu dizendo que, em vez de John Dillermand, facilmente poderia ter feito uma série "sobre uma mulher que não tem controlo sobre a sua vagina". Além disso, considera que o aspeto mais importante é que as crianças adoraram a personagem de John Dillermand.

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