Com duas crianças ao colo, num carro que atravessa a fronteira que separa a Ucrânia da Roménia. Depois, já de madrugada, num vídeo emocionado, em que se percebem apenas, para quem não fala ucraniano, as palavras "obrigada".

São imagens que não podiam estar mais distantes daquelas que, em maio de 2016, em Estocolmo, milhões viram através da televisão. Jamala, cantora ucraniana de 38 anos, faz parte dos 420 mil cidadãos daquele país que fogem em direção às fronteiras dos países vizinhos para escapar à guerra.

É também a intérprete de "1944", canção que venceu o Festival Eurovisão da Canção em 2016. Uma vitória polémica, já que a letra da música tem uma forte mensagem política e histórica. Remete para o ano em que aconteceu a deportação em massa de tártaros (minoria étnica muçulmana) da região da Crimeia, levada a cabo pelo exército da União Soviética, sob o pretexto de alegada colaboração com as forças da Alemanha Nazi.

Os números relativos a deportações, mortes e se este acontecimento constituiu um genocídio ou uma tentativa de limpeza étnica são, até aos dias de hoje, disputados e mesmo negados. Mas a bisavó de Jamala estava, juntamente com cinco filhos, entre os milhares de tártaros deportados. Uma das crianças não sobreviveu.

78 anos depois, a História parece querer repetir-se de forma arrepiante. Jamala, nascida no Quirgistão, filha de mãe arménia e pai muçulmano, tártaro da Crimeia, também se viu obrigada a fugir da sua terra natal.

Na madrugada desta segunda-feira, 28 de fevereiro, Jamala publicou vários vídeos a caminhar no meio de um descampado, juntamente com os filhos, Emir, de 4 anos e Selim, de 1 ano e meio. Estas imagens foram captadas no posto de fronteira de Dyakovo, que separa a Ucrânia da Roménia e que também fica a uma distância curta da Hungria. São quase 900km desde Kiev, onde vivia a cantora com a família, uma distância que, em circunstâncias normais, se faz em 12 horas.

Na quinta-feira, 24 de fevereiro, o primeiro dia da ofensiva russa na Ucrânia, Jamala ainda se encontrava em Kiev. Foi nesse dia que decidiu abandonar a cidade onde vive, como relatou este domingo nas redes sociais.

"Na noite de 24, saímos de Kiev com as crianças, passámos quase quatro dias no carro, em filas, sem comida que, em estado de choque, nem sequer pensámos levar. Fizemos dois quilómetros em quatro horas", conta, não sendo percetível se a cantora se encontra acompanhada do marido, Bekir Suleimanov.

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Jamala fala de "crianças feridas" e manifesta a sua revolta. "Eu não entendo esse terror sangrento! Acredito no nosso presidente, No nosso exército, Nos nossos homens e mulheres fortes e corajosos. Nós ganharemos! A Ucrânia não pode ser silenciada! A Ucrânia não pode ser derrotada", escreve a cantora, apelando também aos russos que se manifestem e contra o governo de Putin.

A MAGG entrou em contacto com a agente de Jamala, que nos informou que a cantora "chegou em segurança" à Roménia, não tendo entrado em mais detalhes.

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