Não se sabe o que aconteceu ou que responsabilidades há por apurar. Sabe-se apenas que o piloto do voo da Ethiopian Airlines, com destino a Nairóbi, no Quénia, terá detetado um problema no sistema do aparelho após a descolagem e comunicou à torre de controlo — que terá dado a autorização para regressar ao aeroporto. Era tarde demais: o avião estava incontrolável e terá caído no domingo, 10 de março, seis minutos após ter partido do aeroporto de Addis Ababa, na Etiópia.
A caixa negra do aparelho foi recuperada esta segunda-feira, 11, segundo escreve a companhia aérea na sua conta de Twitter, e vai ajudar a perceber o que causou o acidente que matou os 149 passageiros e os oito membros da tripulação a bordo do aparelho.
Este foi o segundo acidente a envolver um Boeing 737/800 MAX depois de, no final de outubro de 2018, um outro da Lion Air ter caído no mar de Java — provocando a morte de 189 pessoas.
No voo da Ethiopian Airlines estavam passageiros de mais de 30 nacionalidades, mas houve dois que nunca chegaram a embarcar — escapando por pouco à morte certa.
Um deles foi Antonis Mavropoulos. Tinham passado apenas dois minutos do fecho da porta de embarque quando o cidadão grego terá tentado entrar, sem sucesso. Na altura, estava longe de imaginar que o atraso lhe tinha salvo a vida, tal como conta numa publicação feita na sua página de Facebook, onde mostra o cartão de embarque referente ao voo.
"Perdi o avião por dois minutos. Quando cheguei, os últimos passageiros estavam a entrar no túnel e a porta de embarque já tinha fechado. Gritei para me deixarem entrar, mas não permitiram", conta.
Mavropoulos conseguiu lugar no voo seguinte com partida marcada para as 11h20, e aguardou no lounge até ser chamado. Poucos minutos antes de embarcar no novo voo, terá sido abordado por agentes de segurança que lhe transmitiram que não lhes seria possível permitir a sua embarcação.
"Um oficial do Departamento de Polícia do aeroporto disse-me para não protestar e agradecer a Deus, porque eu era o único passageiro que não tinha entrado no avião que tinha acabado de cair. Foi como se me tivessem tirado o chão", continua.
Depois de uma breve pesquisa pela internet, que dava conta da queda de um avião seis minutos após descolar com destino ao Quénia, decidiu contactar a família e amigos para os tranquilizar. Mavropoulos tinha sobrevivido por um triz depois de perder o avião devido a um acontecimento totalmente aleatório.
"Foi aí que fiquei em choque e percebi a sorte que tinha tido. Talvez não seja muito velho para o rock & roll, mas sou certamente muito jovem para morrer", desabafou.
Ahmed Khalid foi o segundo passageiro que escapou à tragédia de domingo, devido a um atraso no voo de ligação. O homem, cidadão do Dubai, tinha acabado de chegar ao aeroporto Addis Ababa onde estava previsto apanhar o voo da Ethiopian Airlines — mas o seu primeiro voo atrasou-se e fê-lo perder o de ligação.
"Quando cheguei a Addis Ababa, disseram-me para apanhar o segundo voo que partiria às 11 horas", conta ao jornal "The National". Mas foi já no segundo avião que vários passageiros começaram a aperceber-se de que algo de errado tinha acontecido minutos antes.
"Toda a gente começou a perguntar à tripulação o que tinha acontecido, mas ninguém parecia saber de alguma coisa. Eles andavam pelos corredores até que um passageiro do meu voo leu no telemóvel que o primeiro avião, que tinha acabado de descolar, tinha caído", recorda à mesma publicação.
Enquanto isto, o pai de Ahmed Kalid esperava no aeroporto de Nairóbi pelo filho sem saber que este não tinha embarcado no aparelho da Ethiopian Airlines.
"Cheguei aqui [ao aeroporto de Nairóbi] e um segurança abordou-me. Perguntou-me por que voo estava à espera. Disse-lhe que estava à espera do voo onde vinha o meu filho ele só me disse 'lamento, mas esse avião caiu'. Fiquei em choque e temi o pior. Mas depois o meu filho ligou-me e explicou-me que ainda estava em Addis Ababa", desabafou.
A Boeing já reagiu ao que aconteceu e diz estar muito atenta aos desenvolvimentos da investigação. Apesar de a empresa ter defendido o modelo, lançado em 2016, o "The New York Times" reporta agora que a China já ordenou as suas companhias aéreas a manter em terra todos os 96 aparelhos que estão, atualmente, em funcionamento.