Foi uma conversa tensa entre Donald Trump e Lesley Stahl. Mas já era de prever. Lesley Stahl, jornalista do programa "60 Minutes", do canal CBS News, alertou logo no início: "Está preparado para algumas perguntas difíceis?". E assim foi: COVID-19, a relação com os media, a forma como se relaciona com os eleitores foram temas que fizeram parte da lista de questões. As respostas foram sempre escrutinadas.

O candidato republicano, que está na corrida para a reeleição para a Casa Branca, competindo contra Joe Biden, não gostou. A gota de água decorreu mesmo no final, a poucos minutos da conversa terminar. "Desejava que entrevistasse Joe Biden da mesma forma que me entrevista a mim",  lamentou, mais uma vez, Donald Trump (foi uma crítica constante ao longo da conversa). O presidente refere ainda "um escândalo maior": o concorrente democrata ter, alegadamente, estado a espiar a sua campanha. A apresentadora, cética, diz: "Isto é o '60 Minutos'. Não podemos pôr no ar coisas que não podemos verificar."

É aí que, depois de o produtor lembrar que restam poucos minutos para a entrevista terminar, Trump põe um ponto final à conversa, recusando-se a permanecer na sala para se gravarem imagens de corte. "Acho que temos o suficiente."

Momentos antes, falava-se sobre redes sociais. "Se eu não tivesse redes sociais, não teria voz", diz Donald Trump. Lesley Stahl recorda-o de uma frase que o presidente lhe havia dito no passado: "Lembra-se do que é que me disse quando eu lhe perguntei o porquê de estar sempre a dizer 'fake media'?", começa por perguntar. "Disse-me que dizia isso porque precisava de nos descredibilizar, de forma a que, quando dissessem mal de mim, ninguém acreditasse em vocês." Trump responde: "Eu não preciso de vos descredibilizar. Vocês descredibilizam-se a vocês próprios."

Mas houve mais momentos tensos, que culminaram com o presidente dos Estados Unidos a divulgar a entrevista antes do tempo, quebrando assim o acordo com o canal de televisão — que, entretanto, já divulgou a conversa integral, tendo também vários trechos partilhados no Twitter.  Selecionámos cinco.

1.  "Está ok com perguntas difíceis?"

O tal momento inicial: "Está preparado para perguntas difíceis?". Donald Trump responde: "Vai ser justa. Seja justa." Lesley afirma que assim será, mas pergunta-lhe, de novo: "Está ok com perguntas difíceis?". Ao que o presidente dos Estados Unidos diz: "Não", lembrando depois que a Joe Biden ninguém faz perguntas duras.

2. Sobre Antohony Fauci e as máscaras nos comícios

Sobre a COVID-19, a jornalista lembra o momento em que Trump chamou "idiotas" ao epidemiologista Anthony Fauci e a outros médicos. "Quando é que o chamei de 'idiota'?", questiona. Mas logo de seguida afirma: "Gosto dele, mas ele tem errado muito." Entretanto, a repórter questiona-o sobre se ele acredita que as máscaras não funcionam. "Eu acredito que é possível que funcionem", responde, falando depois de ser mais importante distanciamento social. "Não tenho nada contra máscaras e digo às pessoas para usarem máscara." Quando questionado sobre o porquê de, então, muitas pessoas não usarem máscara nos seus comícios, Donald Trump afirma: "Lesley, entregámos milhares de máscaras em todos os comícios." 

3. Porque é que os números de casos positivos de COVID-19 estão a subir?

Donald Trump afirma que os casos de COVID-19 estão a subir por causa do aumento dos testes. No entanto, de acordo com o programa "60 Minutes", que cita o COVID Tracking Project, o maior volume de testagem não justifica o aumento de casos em todo o país, ou o aumento em 40% de pessoas internadas em setembro.

4. "Gostava que entrevistassem Joe Biden assim"

Novamente, Joe Biden: "Gostava que entrevistassem Joe Biden assim". "Pensei que gostasse disto. Pensei que gostasse de conspirar". Trump nega e lembra um episódio entre os media e o candidato democrata: "Ele sai de uma loja com um gelado e a pergunta que lhe fazem é: 'Que tipo de sabor escolheu?'".

5. Ninguém acredita nos media

"Podem gostar de mim? Por favor?", disse Donald Trump a eleitoras femininas dos subúrbios. "Salvei o vosso bairro", continua. O momento é visível num vídeo que o "60 Minutos" incluiu na entrevista. Lesley Stahl recordou o presidente deste episódio e ele não ficou contente. "Eu não disse isso. É enganadora a forma como coloca a questão. Eu disse a brincar: "Mulheres dos subúrbios, vocês deviam amar-me, porque eu dei-vos segurança." Ele estava a brincar, reforça, acrescentando que é por questões destas que ninguém acredita nos media. "Mas está atrás nas sondagens com mulheres dos subúrbios", lembra Lesley. "Duvido", responde.