Marina Ovsyannikova, a jornalista que exibiu um cartaz no noticiário Vremya (Tempo), do canal 1, com mensagens como "não acreditem na propaganda", foi libertada pelas autoridades russas, de acordo com o "The New York Times". A jornalista, que se tornou um símbolo do movimento antiguerra na Rússia, tinha sido detida na segunda-feira, 14 de março, e desde então esteve incontactável.

"Foram dias complicados, porque fiquei dois dias sem dormir. O interrogatório durou mais de 14 horas. Não me deixaram contactar os meus familiares, nem me foi dado nenhum apoio jurídico", contou Marina à porta do Tribunal Distrital de Ostankinsky.

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Até ao momento em que saiu do tribunal russo, ninguém sabia do paradeiro da jornalista, nem mesmo o advogado Anton Gashinsky. A libertação significa que o Kremlin não quis converter Marina Ovsyannikova em mártir, segundo a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

"Habitualmente a repressão é muito mais dura, mas, sem dúvida que o Kremlin quer banalizar esta ação e não fazer de Marina Ovsianikova uma mártir", disse o secretário-geral da Organização Não Governamental (ONG), Christophe Deloire, à agência noticiosa EFE, citado pelo "Jornal de Negócios".

Contudo, Marina Ovsyannikova não escapou a várias horas de interrogatório e também ao pagamento de uma multa.

O que aconteceu durante o desaparecimento de Marina Ovsyannikova?

A jornalista do canal 1, transmitido na Rússia, passou "dois dias inteiros sem dormir" dado que o interrogatório durou mais de 14 horas, conforme avançou à imprensa.

Durante este tempo não lhe foi permitido ter qualquer contacto com a família ou sequer com o advogado. Marina esteve por si, numa situação que foi espoletada também por uma decisão sua. "Foi a minha decisão antiguerra. Eu tomei esta decisão sozinha, porque não apoio a invasão da Rússia. Isto é terrível", disse logo no início da curta conferência.

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A jornalista, que acusava cansaço do duro interrogatório, pediu que os comentários fossem feitos esta quarta-feira, 16, para poder descansar. "Hoje preciso apenas de descansar", terminou, não sem antes ter agradecido "o apoio de todos, amigos e colegas".

A multa por "uma infração administrativa"

Livre das autoridades russas, mas não do pagamento de uma pesada multa. Marina Ovsyannikova foi condenada a pagar 30 mil rublos (cerca de 256 euros) pela manifestação antiguerra em direto no estúdio de televisão e também por um vídeo que partilhou nas redes sociais e no qual disse tudo o que não coube no cartaz com as frases "parem a guerra", "não acreditem na propaganda" e "aqui, estão a mentir-vos" levado para o noticiário.

"Infelizmente, nos últimos anos, trabalhei no Canal 1, trabalhei para a propaganda do Kremlin. Agora, tenho muita vergonha. Tenho vergonha por ter permitido que as mentiras fossem ditas nos ecrãs das televisões", afirmou a Marina Ovsyannikova, filha de pai ucraniano e mãe russa. "Não tenham medo de nada, eles não nos podem prender todos", rematou.

Mais tarde, a jornalista publicou no Twitter (antes de a conta ter sido desativada) que estava ciente de que poderia ser condenada entre cinco a dez anos de prisão, conforme estabelece o código criminal russo. Contudo, continuava a afirmar que estava confiante em relação ao que tinha feito. "Não me arrependo. Preciso do vosso apoio", escreveu.

Quanto à possível pena de prisão até 15 anos pela publicação de "informações falsas", o advogado da jornalista acredita que não será aplicada.