Numa das últimas conversas com a mãe, Charlie Proctor, um rapaz britânico de 5 anos com um tumor raro, pediu desculpa à mãe. "Mãe, lamento muito". Depois de dois anos a lutar contra o cancro, a criança acabou por morrer na sexta-feira, 9 de novembro. A história emocionou o país e o mundo — incluindo a cantora Pink, que chegou a doar quase 12 mil euros para ajudar a criança.

Traquina, sorridente, sempre bem-disposto. Amber Schofield e Ben Proctor tiveram o primeiro filho, Charlie, a 24 de abril de 2013. Charlie nasceu em Accrington, Lancashire (Reino Unido) com uns impressionantes 4,9 quilos. Era um bebé tão enérgico como robusto. A 1 de fevereiro de 2016, porém, tudo mudou: com apenas 3 anos, Charlie foi diagnosticado com um tumor no fígado.

O nome correto desta doença é Hepatoblastoma, um tumor muito raro que afeta sobretudo crianças até aos 3 anos. Durante dois anos, Amber Schofield e Ben Proctor fizeram tudo o que estava ao seu alcance para salvar o filho. Mas nada foi capaz de fazer com que o tumor entrasse em remissão.

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A situação piorou drasticamente este verão. "Charlie tem apenas duas semanas para respirar, 14 dias para ver o mundo, 336 horas para passar com a sua irmãzinha, a irmãzinha que ele não vai conseguir ver crescer", escreveu a mãe, Amber Schofield, na página de Facebook Charlie's Chapter.

Os pais receberam a notícia de que o filho tinha poucas semanas de vida quando estavam de férias na Grécia
Os pais receberam a notícia de que o filho tinha poucas semanas de vida quando estavam de férias na Grécia

De férias na Grécia, os Proctor receberam a notícia que nenhum pai quer alguma vez ouvir: tinham surgido mais tumores no fígado da criança — tinha entre duas a seis semanas de vida. Amber e Ben decidiram continuar a viagem como se nada fosse. Charlie merecia continuar a fingir que era o capitão do barco ou a dar mergulhos na piscina.

Mas os pais tinham de fazer alguma coisa. Contactados por um médico nos Estados Unidos, que lhes garantiu que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para salvar o menino, os pais lançaram uma campanha para angariar fundos para o tratamento.

Charlie e a irmã
Charlie e a irmã

Toda a gente se juntou para ajudar Charlie — na plataforma GoFundMe, conseguiram arrecadar mais de 410 mil euros. Pink foi uma das pessoas a contribuir, assim como o empresário Umar Kamani, fundador do site de venda de roupa online, Pretty Little Thing.

Só que não foi suficiente. No final de agosto, os pais decidiram parar com os eventos de angariação de fundos. "Este sábado recebemos a estimativa do tratamento e, com um transplante de fígado, a vida de Charlie, para ter um futuro, custa quase um milhão de euros".

Garantindo que nunca perderiam a esperança, os pais de Charlie pediram que a publicação fosse partilhada o máximo possível — talvez alguma celebridade ou empresário milionário a visse e quisesse ajudar. Infelizmente nada aconteceu. Em outubro a família decidiu antecipar o aniversário, para que Charlie cumprisse o sonho de fazer 6 anos.

A 9 de novembro, horas antes de morrer, Amber Schofield e Ben Proctor partilharam a última fotografia de Charlie. "À medida que os dias passam, ele deteriora-se cada vez mais. Já não parece o Charlie. Está tão magro, consigo ver e sentir cada osso do seu corpo minúsculo, o seu rosto a afundar, os seus olhos revirados. Para onde foi o meu bebé robusto?"

"Hoje ele tem estado muito agitado, querendo deitar-se, sentar-se, deitar na cama, depois no puff, depois no sofá, e assim por diante. A certa altura, o Charlie virou-se para mim e disse com uma voz baixa e ofegante: "Mãe, lamento muito". Ele arrependeu-se porque precisava de mudar de posição de novo, por isso sentiu que precisava de pedir desculpa."

Amber Schofield descreve que sentiu o coração a partir-se naquele momento. "Nenhuma criança deve sentir as emoções que Charlie está a sentir. Nenhuma criança. Nenhum pai deve ficar a ver o filho partir devagar".

No final, Charlie estava quase irreconhecível
No final, Charlie estava quase irreconhecível

Horas depois, Charlie morreu. "Ontem à noite, às 23h14, o meu melhor amigo, o meu mundo, Charlie, deu o seu últimos suspiro. Adormeceu pacificamente abraçado nos meus braços e com os braços do pai em volta de nós. Os nossos corações estão a doer. O mundo perdeu um miúdo incrível" escreveu a mãe no Facebook. "Tu mostraste-me o que significava o amor, Charlie. Agora chegou a altura de voar", continuou ela numa publicação por baixo de uma foto manipulada pelos pais: colocaram umas asas no filho.