Somos uma família de sete: uma mãe, um pai e cinco filhos (mais um cão e um gato) e estamos há 19 dias em isolamento social.

O facto de sermos muitos tem tanto de cansativo como de divertido. Não tenho tempo para mim, é verdade,  mas também não tenho nenhum momento aborrecido.

Desde que iniciámos a nossa quarentena apenas um de nós saiu, duas vezes para ir às compras. As crianças ainda nunca sairam, embora o facto de termos um jardim ajude muito a não nos sentirmos tão  “presos”.

Passeamos o cão duas vezes por dia, perto de casa.

Temos a sorte de ser uma família que, mesmo em tempos normais, gosta muito de estar em casa  e isso tem ajudado a diminuir a estranheza destes tempos já de si tão estranhos. Curiosamente, eles apesar de falarem em “corona” e “quarentena” e “"COVID” não estão ansiosos, e até aqui acho que até estão a gostar destes dias embora falem nas saudades dos amigos e do resto da família. Não vemos notícias (pelo menos perto deles) tenho a certeza que isso tem ajudado a mantê-los tão serenos.

Organizámos uma rotina diária para os dias de semana, o que nos tem ajudado muito a conseguir fazer o que temos de fazer mas também a diferenciar os dias úteis dos fins-de-semana. E para nós, isto tem sido mesmo fundamental.

Esta rotina inclui tempo para a casa, tempo para o jardim, tempo para eles trabalharem e estudarem (3 já estão em idade escolar), tempos livres, tempo para nós trabalharmos e claro, refeições, refeições, refeições. Arrumações, arrumações, arrumações.

O nosso dia começa cedo, mas devagar — e isso tem sido a melhor parte da quarentena: viver devagar, ou pelo menos, começar o dia devagar. Pequeno-almoço sem pressa, com sumo de laranja natural todos os dias (vitamina C nestes tempos é fundamental!)

Depois dedicamos uma hora a arrumar a casa. Não é difícil pôr os miúdos a arrumar a casa, sobretudo porque temos uma combinação que eles adoram: depois de terem tudo arrumado e limpo e estarem prontos e arranjados, podem ir uma hora para os ecrans! Sim, TV , playstation, telefone… o que quiserem. É aqui que eu começo a trabalhar, enquanto o Francisco fica com o Lucas, que só quer brincar e ouvir historias. O tempo que tenho para trabalhar é muito reduzido e fica muito aquém daquilo que preciso de fazer.

É muito difícil gerir ao longo do dia a triangulação casa — escola — trabalho.  É um 3 em 1 impossível!

Felizmente, somos dois e conseguimos dividir o tempo com eles entre os dois mas…. Eles são 5! E de idades tão diferentes (13,10,8, 5 e 1)

Quando acabo de trabalhar — eu na verdade não acabo de trabalhar porque nunca tenho conseguido acabar o que tenho para fazer, por isso, quando acaba a “hora estabelecida para eu trabalhar”, vamos almoçar e preparar os trabalhos da escola para eles fazerem.

Confesso que, de tudo o que vem da escola tento encontrar um equilíbrio. Para já, eles ainda não têm aulas, só fichas e trabalhos  que nós, pais, fazemos a triagem e escolhemos apenas uma parte. A parte possível. Estes tempos não são para ser de zangas  e conflitos nem nós pais somos professores. Eles recebem bem esta hora de  trabalho mas porque (e só porque) é apenas uma hora. Relembro que temos um no sétimo ano, um no quarto, uma no terceiro e uma em pré escolar (que é a que prefere a hora do trabalho!). Um de nós está com os 4. O outro com o bebé, ou tudo misturado e o bebé ao colo, já não sei.

A seguir aos trabalhos cada um vai  fazer o que quiser — é o tempo de trabalho para o Francisco (é pintor). Para mim… é a hora de  gerir birras, de desligar o telemóvel e de tentar ser inteira para os 5 — o que é impossível pois eu sou uma e eles cinco por isso, se conseguir ser 1/5 para cada já não é mau.

Temos um jardim, e por isso conseguimos aproveitar ar livre e sol. Jogar basquete, plantar a nossa horta e arranjar flores. Somos  mesmo uns privilegiados. Também é nesta altura que tento fazer alguma coisa criativa com eles, mas só consigo às vezes.

A verdade é que, apesar tudo vamos fazendo o que é preciso — trabalhar , limpar, entreter, cozinhar, dar aulas, trabalhar, cozinhar, lavar loiça, limpar, trabalhar, entreter — e os dias passam e até se passam bem.

Mas tenho a certeza de que não faço nenhuma destas coisas bem e em pleno, muito pelo contrário: o trabalho não rende, a casa não está bem limpa, não consigo focar nem dar atenção a nenhum deles, e, quando o dia chega ao fim, sinto que podia ter sido muito melhor.

Em tudo. E isso dá um sentimento muito grande de incapacidade e frustração.

Tento pensar muito para não me sentir frustrada e ansiosa. Penso mais na sorte que temos de estar nisto juntos, de termos casa, comida e de nos termos uns aos outros e de sermos uma família que vive em harmonia.

Penso que, mesmo que não lhes consiga ensinar nada de jeito, e que falhe no meu trabalho  e em tantas outras coisas, estamos a aprender a superar-nos, a ESTAR sem limites uns com os outros.

Acredito que aprendemos mais com isto do que eles iam aprender no 3.º período inteiro.

Fecho o olhos de noite e tento imaginar que um dia vamos ter saudades destes tempo de viver apertados.

* Maria Cordoeiro tem 39 anos, é psicóloga de formação e há dois meses abriu uma agência criativa de impacto social, a Ttouch. É casada com Francisco Moreira, de 40 anos, artista plástico ."Têm-nos perguntado muitas vezes como é ser pais de cinco. Tem sido a melhor coisa que nos aconteceu", escreve no blogue Seis Mais Dois, que usa para contar algumas das peripécias do dia a dia em família.

Veja aqui algumas das imagens que ilustram o dia a dia de Maria, Francisco, Jacinto, Benjamim, Luz, Jasmim e Lucas. Ufa, tantos.

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