Em poucas horas, morreram 642 pessoas — homens, mulheres e crianças. Decorria o ano de 1944, estávamos em plena Segunda Guerra Mundial e a aldeia de Oradour-sur-Glane, em França, era palco de um dos mais violentos massacres nazis de que há memória. A 10 de junho, homens afetos à Schutzstaffel — uma organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler, mais conhecida por SS — entravam na aldeia. Mataram todos os que conseguiram, deixando apenas alguns sobreviventes não intencionais.
"É um sítio muito pesado", descreve de imediato Gonçalo Gouveia, de 39 anos, à MAGG. O informático de profissão e fotógrafo de lugares abandonados nos tempos livres, esteve em Oradour-sur-Glane em setembro do ano passado. "Assim que se entra na aldeia, rapidamente se consegue perceber que aquilo foi uma destruição total e gratuita. Consegues perceber isso ao olhar para as casas, para os carros incendiados, para a igreja. Conseguimos perceber e até sentir um bocadinho do que se passou ali — e as minhas fotografias também mostram um bocadinho isso — que foi algo de muito negativo e horrível."
A igreja da aldeia tornou-se num dos símbolos deste massacre. Mulheres e crianças foram ordenadas a irem para o edifício, enquanto que os homens foram divididos por outras infraestruturas. A igreja foi incendiada com material bélico e outros. Quem tentava fugir pelas janelas era atingido a tiro. Apenas uma mulher conseguiu escapar viva: Madame Rouffanche. Lá dentro estavam 247 mulheres e 205 crianças que morreram queimadas ou a tiro.
Oradour-sur-Glane foi saqueada e todos os outros edifícios foram incendiados. Sobreviveram seis homens. A aldeia francesa que, ao que tudo indica, estava fora de qualquer centro de conflito, ficou totalmente destruída e até hoje não existe explicação para o que aconteceu. Atualmente está preservada, ainda que em ruínas.
Gonçalo Gouveia, autor da página GG Photography, estava com dois amigos a explorar os locais deixados ao abandono em França. "Tinha alguns conhecimentos sobre a história da aldeia, que tinha sido devastada pelos nazis. Como estávamos a passar lá perto decidimos que, já que estávamos ali, íamos visitá-la porque também era um sítio histórico."
Eram cerca das 9h30 da manhã quando chegaram a Oradour-sur-Glane. O céu estava "muito nublado" e podia chover a qualquer momento. "Tivemos sorte porque enquanto lá estivemos não choveu", recorda.
Chegar até à aldeia histórica, ainda que situada num local isolado, foi "fácil", uma vez que os acessos eram bons. "É uma aldeia extremamente pacata, no meio da natureza. Ao redor só se veem campos agrícolas e também entrámos com facilidade na aldeia, os portões estavam abertos." Gonçalo Gouveia lembra que, durante o período em que lá estiveram, não se viu mais do que 20 pessoas.
Estiveram cerca de duas horas a fotografar. "Como é uma aldeia, ainda é um sítio bastante grande. E depois existem lá imensas coisas como os carros, as casas, a igreja e tentámos cobrir o máximo possível da aldeia."
Gonçalo Gouveia não tem dúvidas ao apontar o difícil que foi estar naquele lugar. "Os carros incendiados espalhados pela aldeia são, para mim, e em termos fotográficos, uma coisa fantástica, mas sabendo toda a história que está por detrás, é algo muito marcante. E depois a igreja, ao ter conhecimento da quantidade de pessoas que morreram lá dentro, também se sentiu um ambiente muito tenso e foi igualmente muito marcante."
Admite, porém, que depois de ter fotografado e de ter regressado a Lisboa, ficou com vontade de perceber melhor tudo o que tinha acontecido e foi ler "mais um bocadinho" sobre a história de Oradour-sur-Glane. De lá veio com várias fotografias.
Depois da guerra, Oradour-sur-Glane não foi reconstruida para permanecer como um memorial do massacre que ali acontecera. Construiu-se uma nova aldeia nas proximidades com o mesmo nome. Atualmente, na igreja da nova aldeia de Oradour-sur-Glane é realizada, todos os anos, uma cerimónia no dia 10 de junho que inclui, entre outras atividades, uma visita às ruínas da velha aldeia.