O perigo de erupção nos Açores é real e está a levar à adoção de várias medidas preventivas. Devido à crise sismovulcânica, com mais de 2000 sismos registados em menos de semana, o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, avisou esta quinta-feira, 24 de março, que os habitantes das fajãs do concelho das Velas, em São Jorge, vão ser retirados, passando a ser proibido ir para aquelas zonas.
"Foi declarada situação de alerta para uma referência muito especifica para garantir que haja condicionamentos de acesso às fajãs do concelho de Velas na ilha de São Jorge, bem como evacuação dos residentes das mesmas", afirmou aos jornalistas, citado pelo "Jornal de Notícias".
De acordo com o líder regional, a decisão é tomada com base na declaração de alerta e vai vigorar das 00h deste sábado até às 23h59 de segunda-feira. A medida, que até aqui era uma recomendação, passa agora a ter caráter obrigatório: "A declaração de alerta tem, no termo da lei de bases de proteção civil, bem como do decreto legislativo regional que regulamenta nos Açores a proteção civil, esta eficácia que é determinativa e por isso obrigatória. Quem não fizer esse cumprimento está em desobediência", referiu José Manuel Bolieiro, citado pelo mesmo jornal.
O alerta surge também devido à chuva prevista para esta sexta-feira, 25, e sábado, 26, que, segundo o presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques, conjugada com a crise sísmica, pode provocar desabamentos em São Jorge. As informações avançadas esta quinta-feira, 24, pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores foram as de que a atividade sísmica na ilha de São Jorge "continua acima do normal" e nas últimas horas "foram sentidos 11 sismos".
"O sismo mais energético ocorreu no dia 19 de março, às 18:41 local" (19:41 em Lisboa) e teve "magnitude 3,3 na escala de Richter", lê-se no comunicado, avançado pela CNN Portugal.
Governo dos Açores insiste no desaconselhamento de viagens a São Jorge
Devido à crise sismovulcânica, também as viagens não essenciais para a ilha de São Jorge foram desaconselhadas. "Tendo em conta a intensidade da atividade sísmica e o nível de risco vulcânico que está identificado com o nível de alerta V4, entendemos que não é aconselhável deslocações para São Jorge que não sejam por razões estritamente necessárias" reiterou o secretário regional da Saúde, Clélio Meneses, que tutela a Proteção Civil, citado pelo jornal "Açoriano Oriental".
Na sequência dos acontecimentos, Clélio Meneses sugeriu também o adiamento das atividades desportivas ou culturais marcadas para a ilha. "Na ocorrência de uma situação de sismo de maior magnitude ou de uma erupção vulcânica será maior o número de pessoas" a retirar e por isso, nesta fase, "não se aconselha que haja deslocações para São Jorge do exterior", acrescentou.
Planos de Emergência já foram ativados na ilha
Tendo em conta o cenário de perigo, na quarta-feira, 23, a Proteção Civil dos Açores ativou o Plano Regional de Emergência devido à elevada atividade sísmica que se regista em São Jorge desde sábado e os planos de emergência municipais de Calheta e Velas, os dois concelhos da ilha, também já foram ativados.
À população com maiores vulnerabilidades da principal zona afetada na ilha de São Jorge, o executivo açoriano recomendou o abandono das suas casas.
"O que se aconselha às pessoas que vivem entre as Velas e a Fajã das Almas é que façam uma deslocação das suas residências, sobretudo pessoas com mobilidade reduzida, pessoas dependentes de terceiros para as suas atividades básicas, pessoas residentes em edifícios sem garantias de segurança antissísmica e residentes em zonas próximas de vertentes ou falésias de particular perigosidade de deslizamento ou desabamento, como são as fajãs", afirmou o governante, citado pelo jornal "Observador".
Esta terça-feira, 22 de março, em entrevista ao jornal "Expresso", Rui Marques, vulcanólogo e presidente do CIVISA, frisou que "neste momento é precoce prever” o que vai suceder na ilha, no entanto, “tanto um fenómeno eruptivo como um sismo de maior magnitude são cenários que a nível de proteção civil têm de ser postos em cima da mesa e estudados", disse ao mesmo jornal.
Em setembro de 2021, Rui Marques tinha já alertado: "Vai haver uma erupção nos Açores, mas não sabemos quando. É impossível fazer esse tipo de previsões. Mas a cada dia que passar ficaremos mais próximos do dia em que vai ocorrer", disse, na altura, ao "Correio da Manhã".