Em 2020, foram adotadas 180 crianças (quase metade, 361, das que foram recebidas em novas famílias em 2016), o que corresponde ao valor mais baixo registado em cinco anos, após descidas consecutivas. Este dado consta no Relatório Anual do Conselho Nacional para a Adoção (CNA) para 2020, que revela ainda que a tendência de decréscimo diz respeito não só às sentenças de adotabilidade dos tribunais, como às propostas e crianças encaminhadas para os serviços que permitem a adoção.
Enquanto que em 2019, ano pré-pandemia, 227 crianças iniciaram processos de adoção, em 2020 esse número reduziu e menos 49 crianças foram encaminhadas para o CNA, que inclui a Segurança Social e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Segundo o jornal "Público", que teve acesso ao relatório, não há referências de que estes números devem-se ao impacto da pandemia da COVID-19, até porque o decréscimo tem sido sucessivo ao longo dos últimos anos.
Menos 14 crianças foram adotadas em 2020 do que em 2019, entre 2020 e 2018 a diferença foi de menos 33 e em 2017 foi de 88. Ao todo, após a criação do CNA, em 2015, já foram adotadas um total de 1.096 crianças — número que poderia ser superior dada a facilitação do processo de adoção com a aprovação do Regime Jurídico do Processo de Adoção (RJPA), em 2015.
"Tudo estava a ser feito para facilitar [o processo de adoção] e, no fundo, recorre-se menos a ele", afirmou Ana Perdigão, jurista do Instituto de Apoio à Criança (IAC), ao mesmo jornal. Uma das medidas — promoção e proteção mais grave — prevê que as crianças cortem relações com os pais biológicos e fiquem à guarda do Estado até encontrarem um família adotiva e é aplicada com vista a "pôr a criança nos carris da adoção", explica Ana Perdigão.
Contudo, mesmo nos processos em que o tribunal chega a atribuir uma sentença de adaptabilidade, por vezes a adoção é interrompida. Isso aconteceu a 11 crianças (a maioria entre os 9 e 12 anos) em 2020, embora não seja especificado o que aconteceu no relatório do CNA. É apenas dito que o processo de encaminhamento para as famílias atribuídas demorou entre dois e seis anos e que dez das crianças que regressaram ao sistema de acolhimento continuavam no final de 2020 "a aguardar integração numa nova família".