Nunca se discutiu tanto como agora o uso, ou não, do sutiã. Existem as que o defendem com unhas e dentes, e aquelas que garantem que o seu uso é desprovido de qualquer vantagem. O hashtag #FreetheNiple, que incentiva as mulheres a não usarem sutiã, foi, em tempos, um dos mais populares no Instagram, tendo sido seguido e partilhado por influenciadores digitais, como é o caso da youtuber portuguesa Inês Rochinha (que tem um vídeo no YouTube a explicar o porquê de não usar a peça de roupa interior).
Antes de mais, usar ou não usar sutiã é mais uma questão cultural e de algumas crenças (não fundamentadas), para além da moda e de assuntos relacionados com a sexualidade. Este é um assunto que não é “particularmente apoiado pela evidência científica”, revela Margarida Dias, coordenadora de medicina familiar do Hospital CUF Descobertas, por isso é mais uma questão individual.
Pela ciência, não existe fundamento que suporte a ideia de que o uso de sutiã “influencie a condição da mama ao longo do tempo, e logo, afete a saúde”. Em mulheres adultas, “a questão de ser saudável, ou não, não se coloca em termos de saúde, mas sim de preferência pessoal, hábitos ou influências das marcas”, explica Margarida Dias.
Quando é que as crianças devem começar a usar sutiã? E devem ou é tudo um mito?
Também nas crianças e adolescentes esta é uma questão que depende do gosto e conforto. Conforme o médico pediatra José Aparício explica à MAGG, “não existe uma recomendação específica e também não existe um trabalho que diga que um sutiã traz vantagem absoluta. Acima de tudo, as crianças e adolescentes têm de se sentir bem e confortáveis”.
Haverá casos de raparigas que não querem mostrar o peito, ou situações em que o uso de sutiã pode trazer proteção. Mas, essencialmente, “é uma questão individual”, frisa o pediatra.
Não existe, por isso, uma idade na qual as crianças devem começar a usar sutiã. “Podem fazê-lo assim que o peito começar a crescer, mas não é obrigatório”.
O sutiã ideal, para aquelas que o desejem usar, deve ser “acima de tudo confortável e que se disfarce bem na roupa da criança”, aconselha o José Aparício. Essencialmente é necessário que liberte a criança de movimentos e por isso o sutiã de desporto acaba por ser o mais prático.
Será que há mesmo vantagens em usar sutiã?
Já percebemos que usar sutiã não é obrigatório. Mas será que traz vantagens? O pediatra assegura que há "alguns trabalhos a dizer que pode haver vantagens em não usar sutiã. Portanto, problemas nenhuns, vantagens, discute-se”.
Nem o peito descaído, uns anos mais tarde, parece ser efeito exclusivo do não uso do sutiã. “Não há evidência científica que aponte para o efeito preventivo do uso do sutiã. A flacidez da mama é inevitável com o passar dos anos porque o tecido conjuntivo perde elasticidade”, explica Margarida Dias. Um peso corporal correto, um estilo de vida saudável e uma boa hidratação são fatores que poderão minimizar essas alterações.
O não usar sutiã parece apenas ter uma contra-partida. Prescindir do sutiã em casos de mulheres com seios volumosos, onde o suporte é providenciado pelo sutiã, pode ter repercussões na “biodinâmica da coluna, podendo ser a causa de contratura muscular, desvios posturais e consequentes dores cervicais e dorsais”, refere Margarida Dias.
Neste caso, a médica aconselha que o modelo escolhido se adapte de forma adequado ao tipo de corpo e seio. Não deve comprar esta peça de lingerie sem experimentar, sendo que o modelo “deve permitir que as costas do sutiã fiquem paralelas ao chão sendo preferível optar-se por aqueles que têm uma faixa larga por debaixo do peito, para maior suporte e conforto, alças largas para melhor distribuir o peso sem magoar os ombros e com o tamanho de copa adequado ao volume da mama”.
Na amamentação o sutiã também não é obrigatório — mas no desporto é recomendado
No caso da amamentação, os pressupostos anteriores verificam-se: não é obrigatório, sendo que o sutiã assume apenas a função de conforto e suporte. No entanto, existe uma precaução: “Terá de haver um cuidado extra com a pele da lactante, uma vez que existe um risco aumentado de infeção nesse período”.
Quando se trata de desporto, o seu uso é recomendado, “para reduzir o ressalto”, confirma a médica de medicina familiar. “O grau do suporte do sutiã deve ser proporcional ao impacto da atividade”, salienta a mesma, terem alças grandes e ajustáveis potencia o conforto e a liberdade de movimentos.
Para as mulheres que não prescindem desta peça, podem fazê-lo sem qualquer problema uma vez que “o seu uso não tem limite de hora de uso”, sendo o mais importante a adequação ao tipo de seio e o seu conforto. Durante a noite, recomenda-se a utilização de tecidos à base de algodão e modelos sem aros para que o conforto impere sempre.