O ritual repete-se todos os anos: sites a postos para lançar os preços em vermelho à meia-noite, as lojas abrem as portas na manhã de sexta-feira para dar inicio à corrida aos preços baixos e as contas bancárias esperam-se recheadas nesta altura (ou pelos menos o mealheiro lá de casa).

Mas este ritual é quebrado por algumas marcas que decidem não compactuar com o consumismo que caracteriza o dia de promoções. Em vez de aderirem à Black Friday, decidem aderir ao dia sem consumismo, e promover um consumo mais sustentável.

A ideia é apelar a que o consumidor deixe de lado os habituais descontos, ofertas de portes de envio e compra de artigos que muitas vezes nem são assim tão necessários.

Conheça cinco marcas que transformam a loucura da sexta-feira negra num dia mais calmo e consciente. E começamos precisamente por aí: a consciência.

Conscious Swimwear

É uma marca de biquínis sustentáveis — de produção nacional, usa econyl, um tecido italiano feito com lixo retirado dos oceanos e aterros de todo o mundo e o fio que prende a etiqueta é de algodão 100% — e, como o nome indica, é consciente.

A consciência não diz respeito apenas ao ambiente, mas também ao consumo. E é por isso que no dia 28 de novembro, que antecede a sexta-feira de promoções, a Conscious Swimwear publicou um vídeo no Instagram cuja descrição diz: "Porque é que não fazemos Black Friday", seguindo-se uma explicação com várias razões enumeradas.

"Estamos numa missão pelo aumento da consciência. Para consciencializar o consumo no mundo e a Black Friday faz exatamente o oposto", refere o início do vídeo da marca.

Este continua a mensagem em letras gordas e minimalistas dando alguns exemplos do que contribuiu para a decisão: "A totalidade da emissão de gases com efeito de estufa da industria têxtil tem um total de 1,2 milhões de toneladas anualmente. Isso é mais do que todas as emissões de voos internacionais e de transportes marítimos juntos".

Estes exemplos mostram o impacto da indústria da moda no meio ambiente, mas só acontecem porque há algo que os faz mover: os consumidores. "Os consumidores estão a comprar 60% mais roupa e a mantê-la guardada metade do tempo", continua o vídeo.

É por estas e outras razões que para a marca não faz sentido aumentar a produção na Black Friday, até porque isso iria contra o próprio conceito: uma produção local e de acordo com as exigências de sustentabilidade.

"This Black Friday be a Conscious Swimwear", é a frase que encerra o vídeo, como forma de incentivar a que nesta sexta-feira de descontos, 29 de novembro, seja como a marca e não se deixe levar pelas campanhas que o tentam convencer de que precisa de algo novo.

"Pense duas vezes", é o apelo da Conscious Swimwear.

Naz

Nasceu em 2016 e desde então que tem tentado encontrar produtos locais, de qualidade e que gerem o mínimo de impacto no ambiente.

A Naz na Black Friday também fez uma publicação no Instagram contrária às várias fotografias chamativas de promoções que têm inundado a rede social nos últimos dias.

"Recebemos muitas mensagens a perguntar-nos sobre as promoções da Black Friday. A resposta é simples — não o fazemos. E uma vez entendidos os custos por detrás da produção de uma simples peça de roupa, pensámos duas vezes sobre nos juntarmos a este dia", começa a publicação que explica o porquê do boicote à Black Friday.

E mais uma vez as questões ambientais e os custos de produção estão na base da decisão.

Com o mote "vamos tornar esta Black Friday mais verde", a marca anuncia a iniciativa que criou para este dia: por cada compra no site entre dia 29 de dezembro e 1 de dezembro a Naz vai plantar duas árvores em nome do cliente.

A iniciativa resulta de uma parceira com a associação Plantar Uma Árvore, que luta pela conservação das florestas portuguesas.

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Baseville

A marca Baseville também tem nacionalidade portuguesa e um cuidado especial com o tipo de produtos usados e com todo o processo de produção.

O dia 29 de novembro é para a Baseville "apenas mais uma sexta-feira". Foi assim que definiu no Instagram, mostrando ao lado da descrição sobre o consumismo deste dia, um gráfico do jornal "The Guardian" que mostra o aumento das emissões de dióxido de carbono na atmosfera, da temperatura e de outros fatores que têm contribuído para as alterações climáticas que enfrentamos hoje em dia.

Publicação de Instagram da Baseville

As linhas vermelhas da imagem já são um alerta suficiente, mas a Baseville sustenta com um pedido: "Por favor, muito racionalmente, pensem em como querem gastar o vosso dinheiro. Baseado nas vossas preferências e no vosso orçamento (e não considerando a opinião de outras pessoas). Lembrem-se: só porque é barato, não significa que necessitem destes items", reforçando a ideia de que a Black Friday incita o consumidor a comprar artigos mesmo que não precise deles.

A marca fez até uma analogia com o chocolate: "Nenhum pedaço sabe igual ao primeiro", defendendo que comprar menos, significa também uma maior satisfação dos consumidores, já que as primeiras peças passam a ser únicas e ganham mais valor.

COTT. ON

"Não aceitamos encomendas". É a frase que acompanha uma das fotografias da não campanha da marca de roupa feminina cujas peças são feitas através dos excedentes têxteis de algodão de fábricas, fazendo a reciclagem dos mesmos e contribuindo para uma produção mais consciente e sustentável.

No dia da Black Friday, a Cott on também se apresenta de preto, mas neste caso como símbolo do "luto" pelo consumismo desenfreado, pelo materialismo do consumo e pelo egocentrismo do consumo.

É por isso que, de forma a não contribuir para o aumento do consumismo, durante todo o dia a marca não recebe encomendas e apela aos clientes que reflitam sobre o tema. Desafia-os também a passarem este dia de promoções sem comprarem qualquer artigo.

SKFK

O conceito da marca é simples — há apenas duas coleções de roupa por ano feitas com materiais e modos de produção mais sustentáveis — ao contrário das peças de roupa e acessórios femininos que juntam o casual, ao chique e adicionam ainda um toque de design criativo.

Como a sustentabilidade é um dos conceitos que está na base da SKFK, decidiram retirar a palavra "Black" de "Friday" e fazer desta sexta-feira um dia normal, durante a qual os clientes podem comprar as peças das coleções como em qualquer outro dia do ano, sem que isso implique altos custos para o planeta em prol dos baixos preços.

Mas apesar de ser um dia como os outros, a marca aproveita-o para deixar uma reflexão no Instagram: "Não vamos usar os recursos infinitamente, algo que esta cultura do descartável está a fazer com os recursos finitos do nosso planeta". 

A SKFK não só apresenta a problemática, como deixa a solução: o poder do consumidor, que ao não comprar, acaba por não contribuir para que o consumismo continue a disparar, quer na Black Friday ou em qualquer outro dia do ano.

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