O cirurgião ortopédico Manuel Passarinho, que já curou uma lesão ao judoca Jorge Fonseca, disparou com uma arma de ar comprimido contra uma gata a 24 de agosto, no empreendimento turístico Soltroia, em Grândola, e atirou-a de uma grande altura, o equivalente a um terceiro andar.
O animal de 6 anos, que se baralhou e entrou na casa errada, pertencia a Teresa Figueiredo, residente em Lisboa, que tinha ido passar uns dias de férias. A gata, chamada Matcha, esteve internada durante cinco dias num hospital veterinário, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos e acabou por morrer.
Manuel Passarinho já foi identificado pela GNR e tem de responder pelo crime de maus-tratos a animal de companhia. A dona de Matcha acusa-o de ter alvejado duas vezes a gata e empurrado de um poste, levando a que esta fraturasse uma pata. Testemunhas no processo relataram que o cirurgião escalou o poste e puxou o animal pela cauda, fazendo com que este caísse de uma altura considerável.
Manuel Passarinho confirmou o que aconteceu ao “Correio da Manhã”. “Estava a disparar contra latas em casa, com familiares, quando a gata me entrou pela propriedade, perseguida pelo cão da minha neta. Tentei agarrá-la, mas arranhou-me. Pensei que fosse um gato selvagem e disparei. Escalei a um poste para o tirar de lá. Fui mordido e arranhado e o animal caiu. Já pedi desculpa à dona”, explicou, realçando que se disponibilizou para pagar todas as despesas médicas.
Teresa Figueiredo publicou no Facebook um texto emotivo a falar da patuda, relatando o episódio. “No sábado [24 de agosto] estava a carregar o carro para mais um dia na praia, com a porta meio aberta da rua, não te vi sair e nunca pensei que o fizesses, nunca. Só te voltei a ver depois no topo de um muro e já no final do mesmo, ao nível do 3.º andar, duas casas abaixo da nossa. Gritaram por mim, olhei para cima e vejo-te deitada no muro sem saída e ouvi e vi um projétil a passar em razia por ti, assustada de morte. Gritei logo para que parassem com aquela barbárie, dizendo que eras a minha gatinha. Tinhas entrado erradamente numa casa igual, com a mesma configuração que a nossa, pois estávamos num condomínio de casinhas em banda todas iguais. Mas alguém com uma espingarda tentava acertar-te? Como era possível?”, escreveu.
Teresa Figueiredo revelou ainda ter sido agredida. “Pedi para entrar e ir buscar-te, mas fui impedida de o fazer, tendo sido atirada pela escada abaixo daquela casa de pessoas tão maldosas e pré-históricas. Já na rua e cada vez mais aterrorizada, volto a olhar para cima e chamar por ti. Estavas tão alto! Fiquei petrificada. Temi logo o pior. Desculpa-me, minha doce gatinha. Eu chorava e gritava por ti, tu olhavas com receio para baixo e com dois projéteis no corpo choravas, foi horrível”, continuou.
“De repente, vejo um dos culpados deste exagero e desta ação criminosa a tentar chegar a ti pelo muro, deitando a mão ao teu cachaço. Levou logo uma arranhadela tua, estavas em pânico, claro que sim, quem te acertara com uma espingarda tentava agora apanhar-te? Reagiste, claro. Com a outra mão agarrou-te pelo rabo e levou uma dentada e a reação foi a de te largar no ar sacudindo-te para longe. Aterraste no chão e corri para ti e peguei-te ao colo, vi logo que tinhas uma patinha partida e provavelmente várias hemorragias internas e externas. Levei-te a correr para o hospital, sempre com os quatro piscas, a soluçar com os olhos marejados em lágrimas. Dizia-te: ‘a mami adora a Matchinha’ e tu respondias com o teu invulgar ‘sim’ de gatinha. Tinha sangue teu nas mãos”, relatou.
Teresa Figueiredo despediu-se também da amiga de quatro patas. “Deixaste um espaço gigante na minha cama, uma almofada com uma mantinha ao sol vazia e um pedaço do meu coração foi contigo. Chorarei sempre que falar de ti e sempre que chegar a casa e não te vir chegar. Eras parte de mim, da minha vida. Fazias-me tão bem. Fui tão feliz por te ter durante estes seis anos! Foste o ser vivo que mais meiguice me deu na tua alegria e felicidade permanentes. Agora estás nas planícies verdes onde todos os gatinhos vão parar quando nos deixam. Sei que andas atrás das borboletas e a cheirar as flores que encontras sempre com a tua alegria e mimo”, disse.