Seis anos após recuperar de um cancro, Susana Tomé foi submetida a uma mastectomia à mama direita, com reconstrução imediata, no Hospital de São João, no Porto, a 7 de março de 2016. Quando acordou da operação, em que iria ser colocada uma prótese na mama esquerda, que estaria totalmente saudável, percebeu que a retiraram sem a sua autorização.

Menina de 7 anos com cancro da mama. Além de raro, o tumor cresceu porque resultados dos exames demoraram meses a chegar
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Os dois médicos cirurgiões vão começar a ser julgados esta quinta-feira, dia 2 de março, no Tribunal do Bolhão, por ofensas à integridade física por negligência. Segundo a decisão instrutória que pronunciou os arguidos, no processo físico do historial de Susana Tomé havia um consentimento assinado pela própria, em como esta informava que apenas queria retirar a mama direita, opondo-se à mastectomia à mama esquerda, revela o "Correio da Manhã".

Contudo, de acordo com o despacho, um dos médicos arguidos não assegurou que essa informação constava no sistema informático do hospital e, no bloco operatório, o outro cirurgião baseou-se apenas nos dados inseridos no sistema do hospital e fez a mastectomia à mama esquerda, sem reconstrução.

Consta no despacho que este cirurgião foi alertado pela médica anestesista e por duas enfermeiras já no bloco operatório de que a mastectomia seria apenas à mama direita, tendo ignorado esta informação e avançado para a operação de retirar ambas as mamas, "agindo a título de negligência grosseira".

O cirurgião que realizou a mastectomia agiu “com elevado grau de culpa”, uma vez que “tinha obrigação de consultar o processo físico” e “deveria ter procurado confirmar a atualidade do consentimento prestado”. Já o outro médico “não assegurou a correspondente inscrição no processo clínico eletrónico, nem tão pouco disso deu qualquer conhecimento direto ao outro arguido”, além de se ter ausentado “do bloco antes da chegada do colega [que realizou a mastectomia] com quem deveria ter verificado a consonância dos procedimentos”.

Susana Tomé espera “que seja feita justiça e que esta seja rápida e eficaz” e que os médicos sejam “punidos” pelo que lhe fizeram. “Nessa altura, o médico sugeriu que fizesse uma mastectomia aos dois peitos, mas não aceitei. Iria ser um abalo psicológico muito forte. Contra a minha vontade, o hospital fez exatamente isso”, disse ao “Correio da Manhã”.

Aquando do sucedido, o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde era o diretor do Hospital de São João e vai ser testemunha no processo. Este explicou que, se no bloco informam o médico de que a mastectomia é de uma forma e gera dúvida, deve-se consultar o processo físico ou acordar a doente.