Os crematórios, especialmente os da Área Metropolitana de Lisboa, não estão a conseguir responder ao elevado número de pedidos de cremação e as filas de espera vão das 72 horas aos cinco dias. O aumento da procura pela opção de cremação (processo que reduz os corpos a cinzas) — que aumentou "mais de 60%” nos últimos anos —, o excesso de mortes por COVID-19 e a falta de adaptação ao contexto que se vive são os grandes responsáveis por este compasso.
"Um enterro está a ser realizado no mesmo tempo que antes, em 48 horas, já as cremações dependem. Na Área Metropolitana de Lisboa, estamos com 72 horas a resvalar para os quatro dias, mas há outros em que a espera já vai nos cinco dias", refere o presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), Carlos Almeida, ao jornal "Público".
Apesar de o maior número de mortes nos últimos dias se registar em Lisboa e Vale do Tejo, na Área Metropolitana do Porto a situação não é muito diferente nos crematórios da Lapa (espera de cerca de 24 horas), Paranhos (espera de cerca de cinco dias), Prado do Repouso (espera de cerca de quatro dias) e Matosinhos (espera de cerca de dois dias), revela o presidente da Associação dos Agentes Funerários de Portugal, Vítor Teixeira, acrescentando que a cremação nos últimos anos sofreu um aumento de "seguramente mais de 60%”.
O que faz diferir os tempos de espera é o facto de terem sido feitos diferentes ajustes de horários em cada crematório e de, por exemplo, no crematório do Prado do Repouso terem em sido instaladas novas câmaras frigoríficas, bem como uma aceleração no “número de cremações diárias”.
O mesmo esforço tem sido feito em Lisboa, cujos crematórios "aumentaram a capacidade de cremações diárias desde o início da pandemia", diz Carlos Almeida. "Foram abandonados outros tipos de cremações, como de ossadas, para alargar o horário e dar resposta ao número de óbitos – a partir das 8h da manhã estão a funcionar”, continua.
Contudo, o presidente e também agente funerário aponta uma limitação: é preciso respeitar o número máximo de vezes em que os fornos são usados por dia, uma vez que “precisam de períodos de arrefecimento”, explica o presidente da ANEL.
O que fazer face aos tempos de espera?
Há vários dias consecutivos que Portugal regista um número de mortes por COVID-19 muito elevado. Só este domingo, 24 de janeiro, foi alcançado o valor mais elevado desde o início da pandemia no País, com um total de 275 mortes, que elevam o número total até agora registado para 10.194 mortes.
No entanto, as mortes com o novo coronavírus não são as únicas mortes registadas diariamente. “Neste momento estamos com cerca de 600 óbitos por dia, sendo que as estruturas que temos funcionam para 400 mortes diárias. Vamos considerar os 200 a mais como as vítimas de COVID-19. Se assim for, serão tratados com o protocolo que manda que não haja velório”, afirma Carlos Almeida. Assim, os cadáveres têm de ser transferidos "para as câmaras de frio nos crematórios”, diz, acrescentando que só no Alto S. João há 18 estruturas disponíveis e outras tantas nos Olivais.
O problema é que há "crematórios subaproveitados, como é o caso do de Vale Flores, em Almada", aponta Carlos Almeida. Um dos casos é o crematório de Camarate, da gestão da Câmara de Loures, que depois do apelo da ANEL vai reforçar a resposta ao volume de pedidos de cremações, abrindo ao sábado.
"Para aliviar as morgues dos hospitais, é preciso dar uso às câmaras de frio que existem fora das unidades de saúde”, avança o presidente da ANEL.
Se nos hospitais se fala em "medicina de catástrofe", nas funerárias fala-se em “um esforço de guerra” para com as famílias que perderam entes queridos para a COVID-19. Esse esforço pode estar sob a forma de “atitudes, contributos, solidariedade”, como os custos pelos dias de espera em que os corpos estão câmaras frigoríficas, que não são cobrados, por exemplo, em Matosinhos.