Esta quinta-feira à noite, 2 de setembro, os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lisboa nas próximas eleições autárquicas juntaram-se num debate, transmitido em direto pela SIC e SIC Notícias. E embora temas como a habitação, a expansão do metro, o próximo aeroporto e até o escândalo dos e-mails enviados à embaixada da Rússia pela CML — presidida atualmente por Fernando Medina, candidato do Partido Socialista —tenha marcado o decorrer do debate, o momento insólito chegou no fim, quando Bruno Horta Soares, da Iniciativa Liberal (IL), acabou por fazer um comentário pouco habitual.

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No último minuto de debate dos candidatos, o candidato da IL falava da necessidade de baixar os impostos quando referiu que os portugueses tiveram "um ano e meio de merda". Como era de esperar, as reações não se fizeram tardar, principalmente no Twitter.

"O candidato da IL a Lisboa disse em direto 'tivemos um ano e meio de merda'. Muito bem. Gráfico, cru, desprendido e popular. A via adequada para elevar o nível do debate político está encontrada", "'Epá, vais lá à televisão e dizes uma merda qualquer!' Candidato da IL: 'Tivemos um ano e meio de merda'", foram alguns dos comentários deixados ao momento na rede social.

Outro momento insólito é o da reação de Manuela Gonzaga, do PAN, perante uma interrupção de Nuno Graciano, candidato do Chega. "Não me interrompa", disse prontamente a candidata, momento também amplamente partilhado nas redes sociais.

O escândalo dos e-mails

Em janeiro de 2021, a CML enviou dados pessoais de manifestantes anti-Putin à embaixada da Rússia, facto que se tornou público apenas em junho deste ano, e que apesar de ter merecido um pedido de desculpas de Medina, não foi suficiente para muitos — com Carlos Moedas, candidato do PSD, a insistir na demissão do atual presidente de Lisboa.

"Foi uma situação gravíssima. Em qualquer Câmara Municipal na Europa, o presidente tinha-se demitido. Não me parece normal que aconteça num País como Portugal, os políticos têm que assumir o erro político, demitindo-se e não demitindo um técnico, mesmo com a proximidade das eleições", disse Carlos Moedas.

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Já Medina voltou a assumir o erro, salientando que "não houve qualquer problema com a lei da manifestação em 40 anos, houve desta vez". "Nunca escondemos o problema, assumimos e realizámos uma auditoria em tempo recorde. Chegámos à conclusão que não era um caso isolado e tomámos medidas para corrigir", referiu Fernando Medina no debate.

Passando para a habitação, o candidato do PS salientou a necessidade de encontrar habitação "para os jovens e para a classe média". "Neste mandato conseguimos atribuir casas a 1200 famílias. Tinha prometido seis mil casas? Sim, ficou aquém. Houve uma pandemia pelo meio, as coisas não andaram ao mesmo ritmo. Não vou poder prometer uma habitação fora de regras. A cada adversidade, procuramos uma resposta", disse o autarca.

Do aeroporto ao metro, as posições dos candidatos

Quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa, Fernando Medina assumiu que o Montijo poderá vir a ser o principal, enquanto o atual, da Portela, se tornará secundário — assumindo também que já pediu ao governo para se decidir entre Montijo e Alcochete. "O aeroporto não pode é ser alargado em Lisboa. Quando turismo recuperar, ter só a Portela é insustentável. Alcochete é mais caro que o Montijo", defendeu o autarca.

Já as posições do Bloco de Esquerda e da CDU entram em concordância com a do PSD quanto a este tema, pelo menos no debate desta quinta-feira. "A minha visão é Portela mais um. Montijo poderia ter 24 movimentos por hora, Alcochete permite mais movimentos. Penso que Alcochete é uma melhor decisão, mas isso terá de ser decidido pelos técnicos. Não me parece mal que Alcochete passe a ser o aeroporto principal", explicou Carlos Moedas.

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"Aeroporto de Lisboa existe naquela localização há 80 anos e chegou-se à conclusão há 40 anos que era preciso mudar a localização. Lisboa é a única capital com esta aberração que é um aeroporto no interior da cidade. (...) Alcochete é a melhor decisão", acrescentou João Ferreira, candidato da CDU. Também Beatriz Gomes Dias, candidata do BE, assumiu que "o aeroporto tem de sair da cidade".

No tema da expansão do metro, CDU e BE defendem o prolongamento da linha até à zona da Ajuda, Belém e Loures, bem como a extensão da linha verde de Telheiras a Carnide. "Tudo isso vai cair por terra devido a uma linha circular. Vamos andar para trás a nível de mobilidade, vai haver transbordos que hoje não existem", disse João Ferreira (CDU), mostrando-se contra o projeto que vai unir grande parte das linhas amarela e verde.

"O Metro é a solução para a mobilidade na cidade de Lisboa, nomeadamente a sua expansão para oeste. Não queremos colocar obstáculos à mobilidade das pessoas", referiu Beatriz Gomes Dias.

O debate não terminou sem Nuno Graciano (Chega) criticar o excesso de ciclovias na capital, apelidando-as de "ciclovazias".