Fui mãe da Francisca a 25 de janeiro de 2017. Em pleno inverno. Os primeiros tempos com a bebé foram passados maioritariamente em casa. Não só por causa do tempo, mas por ser ainda muito pequenina e porque a minha recuperação foi lenta.

A partir do momento em que recuperei e que a Francisca já tinha umas semanas, começámos a sair. Desde que não chovesse, estávamos na rua. Não queria passar a minha licença de maternidade fechada em casa, até porque sou a pessoa menos caseira que conheço, e queria que a Francisca se habituasse a ver pessoas, a ouvir barulho e a algumas das minhas rotinas.

A partir do final de fevereiro, o tempo começou a melhorar e achei que podíamos deixar de ter que andar de carro para todo o lado. E a melhor forma para ir para um dos meus sítios preferidos de Lisboa, o Chiado, era de Metro. Era rápido, barato e não tinha que me preocupar com o estacionamento.

Mas todas essas vantagens deixaram de fazer sentido no dia em que experimentei ir de Metro com a Francisca, no carrinho de bebé, até à Baixa-Chiado. Experiência que me fez desistir da ideia de andar de Metro com um bebé e voltar aos passeios de carro, a gastar gasolina e a andar às voltas para estacionar. Tudo isso é melhor do que ter que carregar com pelo menos 20 quilos ao colo a subir ou a descer escadas, acreditem.

Voltei a fazer a experiência, agora sem bebé, de andar de Metro, em Lisboa, com o meu carrinho. Comecei na estação mais perto de minha casa, Roma, com destino ao Marquês de Pombal e com algumas paragens pelo meio: Alameda, Anjos e Baixa-Chiado. Em cada uma delas, encontrámos algum tipo de dificuldade. Ou pela falta de elevadores (sem dúvida o mais grave), ou apenas pelo tempo que demoraram a abrir as portas para passarmos com o carrinho.

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Essa é outra questão. Os canais de passagem para o cais, onde os utilizadores validam os bilhetes, contam sempre com um mais largo, onde devem passar os carrinhos e cadeiras de rodas, mas para entrar, é sempre necessário chamar um segurança para que este abra as portas. Conforme nos explicou o Metro de Lisboa, "o canal de maiores dimensões, também designado por canal largo, encontra-se sempre, e em todas as estações, com o sentido de abertura de saída, sendo que, em caso de necessidade, como seja fazer entrar um carrinho de bebé, o Agente Metro de Lisboa (ML) de serviço pode alterar o sentido do canal, tendo que repor o sentido de saída logo que entre o carrinho."

Ou seja, qualquer pessoa que precise de passar por uma dessas portas para entrar no Metro tem que pedir ajuda. "Caso um cliente queira entrar num átrio de uma estação e necessite de entrar pelo canal largo, deverá dirigir-se a um Agente ML e solicitar-lhe a entrada por esse canal ou, não encontrando nenhum Agente ML, deverá dirigir-se à Linha de Controlo e carregar no Ponto de Ajuda, a fim de entrar em contacto com o Agente ML da estação para lhe pedir apoio na passagem do canal largo, designadamente invertendo o sentido do mesmo", explicaram.

Um processo que permite que alguém com um carrinho ou com cadeira de rodas ande de Metro, mas que pode ser lento. Exatamente o que me aconteceu na estação da Alameda.

A paragem no Metro dos Anjos foi mais problemática ao deparar-me com a falta de elevadores e de ajuda. Para poder chegar às portas de saída e ao Ponto de Ajuda, tinha sempre que subir as escadas com o carrinho. E foi o que fiz. Alguém ofereceu ajuda? Não.

Seguimos então para a Baixa-Chiado, e dali a ideia era trocar de linha e seguir para o Marquês de Pombal. O sentido é Reboleira e existe apenas um elevador que vai para esse cais. Elevador esse que estava avariado. A vontade de voltar a carregar com 13,5 quilos de carrinho não era muita, por isso desisti e resolvi tentar sair na estação Baixa-Chiado.

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Esta é a estação onde atualmente passo todos os dias e de onde sabia que era bastante complicado sair. Mas tentei. Saí do Metro, apanhei um elevador até ao piso do meio (que estava em manutenção mas funcionou) e fui em direção ao canal largo no sentido da saída. Estava fechado, e o funcionário do Metro recusou-se a abrir a porta, obrigando-me a dar a volta até às outras portas. Nessas outras portas, o canal também se encontrava fechado. Voltei a carregar no Ponto de Ajuda e lá me abriram a porta.

No piso do meio, há duas saídas possíveis. Uma apenas com escadas e escadas rolantes, e outra com as mesmas escadas e ainda uma plataforma elevatória, que achei que me fosse resolver o problema. Carreguei no Ponto de Ajuda, pedi para utilizar a plataforma e a resposta foi: "Isto é apenas para cadeira de rodas. Se quiser, sobe as escadas rolantes com o carrinho, ou pega no bebé, desmonta o carrinho e sobe."

Nunca a solução foi oferecer ajuda, mas sim violar as regras do Metro — que tem uma placa que diz que é proibido usar carrinhos de bebé nas escadas rolantes. Decidi seguir a sugestão, mas apenas porque não levava a Francisca no carrinho — se estivesse comigo nunca o teria feito.

Tendo em conta que as mães ao longo da licença de maternidade (e não só) passam a maior parte do tempo sozinhas com o bebé, terem meios para passear com o carrinho, sem precisarem de pedir ajuda a estranhos, seria importante. Pelo menos foi o que eu senti.

É possível andar de Metro em Lisboa com um carrinho de bebé? É. Mas não é fácil. Se a mãe não tiver uns bons músculos e tempo de sobra, mais vale ir de carro ou chamar um Uber.

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