O novo projeto de Nuno Markl é a prova de que as coisas acontecem quando têm de acontecer e não quando são planeadas até ao mais ínfimo detalhe. Falamos de "O Homem Que Mordeu o Cão", o primeiro jogo de tabuleiro inspirado na rubrica de rádio onde Nuno relata algumas das histórias mais insólitas que foram notícia em órgãos de comunicação social.

A ideia de transportar o sucesso da rubrica, lançada em 1997, para o tabuleiro demorou 22 anos a concretizar-se. Mas o primeiro obstáculo, tal como o identifica à MAGG, não foi suficiente para o fazer desistir.

É que enquanto dava voltas à cabeça para perceber de que forma podia criar um jogo que, além de manter o espírito do programa, funcionasse ainda melhor com "algum álcool envolvido", descobriu que havia um jogo inglês com o nome "Man Bites Dog" onde se criavam títulos de notícias com cartas.

Provavelmente anda a jogar Monopólio com regras que não existem (mas muitos acham que sim)
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Nuno rodeou-se de quem o podia ajudar, teve sessões de brainstorming com um designer profissional mas nem isso serviu para avançar. "Sempre achei que o jogo devia ser muito acessível a toda a gente e com um espírito típico de party game", onde a diversão estivesse na experiência entre um grupo de pessoas.

Talvez por isso não seja de estranhar que a ideia, ainda que repentina, tenha surgido enquanto o radialista recortava cartolinas para um jogo com o filho. "A ideia ficou de molho durante anos até que há uns meses tive uma epifania e a ideia base do jogo surgiu de rompante."

Mas porque as ideias não dependem apenas da qualidade para se concretizarem, faltava o mais difícil: abordar quem percebesse do assunto para que deixasse de ser apenas uma coisa que estava há 22 anos a ser idealizada. "Não tinha contactos de nenhuma empresa de jogos e, por isso, abordei a coisa sem a levar muito a sério e comecei a falar dela na rádio."

Como homem ligado aos filmes e às séries, há muito que Nuno Markl está habituado ao conceito do plot twist enquanto mecanismo narrativo. É aquele acontecimento que nos tira o tapete dos pés sem estarmos à espera e que enriquece a história, para o bem ou para o mal.

O jogo de tabuleiro de 'O Homem que Mordeu o Cão'

Mas quando a história passa a ser a vida real, nenhum sinal poderia ter feito Nuno prever o que ia acontecer quando começou a promover o projeto. "Recebi uma mensagem da última pessoa de quem esperaria receber uma mensagem sobre um jogo de tabuleiro", referindo-se ao músico e compositor David Fonseca.

"O designer que lhe trata do look dos discos desde os Silence 4, o César Vieira, é amigo dele há muitos anos e trabalha em jogos de tabuleiro com a empresa Creative Toys."

David Fonseca, que Markl diz ter sido a fada madrinha do projeto, pô-lo em contacto com César e estava dado o primeiro passo para a criação do jogo que, em sessões de teste, revelou ser "de chorar a rir". Segundo conta à MAGG, a pessoa mais importante na criação de regras para o jogo foi a irmã, Ana Markl, que deu "dicas preciosas e rigorosas".

Mas como é que se joga? De forma muito resumida, até porque a ideia nunca foi complicar, cada jogador começa com um título formado à sua frente por várias cartas com as categorias "onde?", "quem?", "o quê?", "a quem?", "como?" e "porquê?".

Afinal, como é que se joga mesmo ao UNO?
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As cartas vão mudando a cada movimento no tabuleiro até chegar a uma casa onde o jogador vai ter de contar aos restantes "a notícia bizarra que tem formada à sua frente". Para tornar as coisas ainda mais difíceis, é obrigatório que a defenda o melhor que conseguir, mesmo que "seja muito absurda e estúpida".

Mais do que um jogo de grupo, "O Homem que Mordeu o Cão" pode também ser um passatempo divertido se não tiver ninguém com quem jogar. Afinal, "quem nunca quis criar títulos de notícias bizarros e aleatórios?", remata Nuno Markl.

O jogo de tabuleiro tem lançamento marcado para 5 de outubro nas grandes superfícies, como as lojas Fnac, mas já pode ser reservado em regime de pré-venda. Custa 24,99€ e não está posta de parte a possibilidade de se lançarem expansões.