Anne Frank era uma adolescente igual a tantas outras. Gostava de ler e de escrever, sonhava ser jornalista e andava sempre com um diário xadrez vermelho e branco atrás que recebeu quando fez 13 anos. Fossem outras as circunstâncias, talvez Anne Frank tivesse hoje 89 anos e recordasse com um sorriso os tempos em que foi jornalista, ou até escritora — outro dos seus objetivos.

Infelizmente toda a gente sabe que não foi isso que aconteceu. Depois de mais de dois anos escondida num anexo, a jovem judia foi enviada para um campo de concentração. Em fevereiro de 1945, sete meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial, acabou por morrer com apenas 15 anos. Da sua família só sobreviveu o pai, Otto Frank. E aquele que se tornou num dos livros mais famosos do mundo.

Tantas décadas depois, o diário de Anne Frank ainda tinha um segredo para contar. Em duas páginas cobertas por papel kraft, investigadores descobriram quatro piadas sobre sexo e 33 linhas com as suas ideias sobre o desenvolvimento sexual das mulheres, vida sexual, métodos contraceptivos e prostituição.

“Quem lê as passagens que foram descobertas não vai conseguir deixar de esboçar um sorriso”, disse Frank van Vree, diretor do Instituto para o Estudo da Guerra, do Holocausto e do Genocídio (NIOD, na sigla em holandês). “As piadas picantes são um clássico entre crianças em crescimento. Elas deixam claro que Anne, com todos os seus dons, era acima de tudo uma miúda normal.”

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Como foram descobertas estas páginas — e o que é que diziam

A descoberta resultou de uma parceria entre investigadores do Museu de Anne Frank, do Instituto para o Estudo da Guerra, do Holocausto e do Genocídio e do Institute Huygens para a História da Holanda. Desde 2010 que os especialistas tentavam descodificar o que estaria escrito naquelas páginas, mas o processo não foi fácil.

Durante muito tempo, fotografaram as páginas e iluminaram-nas por trás com um flash para tentar perceber o que diziam. Com a ajuda de um software de processamento de imagens para decifrar palavras, conseguiram finalmente descobrir o que lá estava escrito.

As páginas estavam datadas de 28 de setembro de 1942. “Vou usar esta página estragada para escrever piadas picantes”, escreveu Anne Frank.

Uma delas era assim: "Sabem porque é que as meninas da Wehrmacht [as Forças Armadas da Alemanha Nazi] estão na Holanda? Para servirem de colchões para os soldados."

Outra dizia: "Um homem tinha medo de que a mulher o estivesse a trair. Depois de procurar dentro da casa, encontrou um homem nu no armário. Quando o marido perguntou ao homem o que estava a fazer ali, este respondeu: ‘Acredite ou não, estava à espera para apanhar o elétrico'."

No texto sobre sexo, Anne descreveu como uma jovem mulher tem o período menstrual por volta dos 14 anos, dizendo que "é um sinal de que está pronta para ter relações com um homem, mas obviamente não faz isso antes do casamento."

Sobre prostituição, escreveu: "Todos os homens, se forem normais, vão com mulheres. Na rua há mulheres que falam com eles e depois vão-se embora juntos. Em Paris têm grandes casas para isso. O papá já lá esteve. O tio Walter não é normal. Existem raparigas que vendem essa relação."

A 3 de outubro de 1942, Anne Frank escreveu: "O papá começou a resmungar de novo e ameaçou tirar-me o diário. Ó horror dos horrores! De agora em diante vou esconder isto."

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