Cláudia Ribeiro, de 27 anos, autora da página de Instagram Aos olhos da minha mamã usou as redes sociais para partilhar o caso do filho Martim, com cinco meses, que precisa de ser operado às hérnias inguinais bilaterais. O apelo desta segunda-feira, 12 de julho, foi feito após a operação que pode melhorar a condição do filho de Cláudia ter sido cancelada devido à sobrecarga dos serviços de saúde pela COVID-19.

"Esta operação foi marcada há coisa de um mês e meio para segunda-feira [19 de julho]. Tínhamos o teste COVID-19 marcado para sexta-feira [16 de julho] e ontem ligaram-me dos serviços administrativos a cancelar a operação porque efetivamente não iriam ter a sala disponível devido à sobrecarga do hospital com casos COVID-19", conta Cláudia Ribeiro à MAGG. A unidade em causa é o hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), que disse à mãe de Martim que a nova operação ficava "possivelmente marcada para agosto, mas que posteriormente entrariam em contacto para remarcar ou confirmar a data".

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A mãe, desesperada, vê o caso arrastar-se desde março — mês em que as hérnias foram diagnosticadas e esperava-se a qualquer momento a marcação da operação — e teme que a situação do filho piore. "Ele tem hérnias inguinais bilaterais e num dos lados já tem o intestino dentro do canal inguinal e o intestino já chega ao saco escrotal. Ou seja, neste momento, a hérnia pode estrangular aquela parte do intestino que está saído. Pode prender as fezes do Martim. Se não for operado a tempo, pode também causar infertilidade no futuro, porque pode estar a condicionar os testículos", explica Cláudia Ribeiro.

Inicialmente, Martim tinha apenas hérnias, mas há cerca de dois meses, a situação progrediu e o intestino passou para dentro do canal inguinal. O choro do bebé com quase seis meses tem deixado a mãe em aflição, ainda que os médicos lhe digam que o problema não cause dor. Um dos exemplos foi partilhado a seguir ao apelo desta segunda-feira na rede social Instagram.

Com o apelo, Cláudia não pretendia receber apoio financeiro, apenas divulgar a situação para que o Serviço Nacional de Saúde cedesse à pressão, como acabou por acontecer. "[O que motivou a partilha] foi efetivamente a pressão que eu sei que os media iriam fazer no hospital. Muitas pessoas perguntaram se queríamos donativos para fazer a operação no privado e não era de todo essa a ideia. Não queremos donativos, porque fazemos descontos, temos tudo em dia, portanto, temos direito ao Serviço Nacional de Saúde e, tendo esse direito, era só isso que queríamos: que chegasse a alguém ou algum lado e isso fizesse com que o hospital operasse. E graças a Deus conseguimos", diz a mãe de Martim.

A verdade é que em menos de 24 horas — desde a publicação do apelo e as partilhas feitas por figuras públicas como Madalena Abecasis, Carolina Deslandes, Bárbara Lourenço, Ana Marta Ferreira e Sara Matos —, a mãe de Martim foi contactada pela diretora do serviço de cirurgia pediátrica do hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) para a remarcação da operação. "Eu disse isto hoje à diretora: para mim não fazia sentido ontem ligarem-me a dizer que não existe vaga e não podem operar devido à COVID-19 e em menos de 24 horas refazem novamente tudo e então já é possível operar. Eu própria disse: 'Vocês estão a fazer isto porque os media entraram em contacto convosco. Porque, caso contrário, não o faziam'", relata Cláudia.

A mãe de Martim reconhece que o apelo "tomou uma proporção muito grande", mas que só assim foi possível alcançar a solução que garante o bem estar do próprio filho.

"É triste dizer isto, mas é verdade. O Serviço Nacional de Saúde só funciona de duas maneiras: ou mal ou à pressão. E foi o que aconteceu neste caso", continua. A mãe de Martim afirma à MAGG que está confiante de que a operação vai mesmo acontecer. "Penso que não vão ter coragem de desmarcar para não aumentar o escândalo."

No entanto, o hospital Fernando Fonseca, após ter conhecimento do caso partilhado pela mãe nas redes sociais, emitiu um comunicado sobre o caso do Martim, que é também o de outros bebés que viram a cirurgia não "cancelada ou adiada", mas sim reprogramada e nega que tenha sido devido à sobrecarga da COVID-19 na unidade hospital.

O reagendamento aconteceu "por motivos de baixa médica de um dos profissionais de saúde da equipa médica que estava destacada para o procedimento", esclarece o departamento de cirurgia pediátrica do hospital Fernando Fonseca.

"Tendo sido possível efetuar rapidamente a sua substituição, a cirurgia foi novamente agendada para a data inicialmente prevista", continua o hospital, declaração que corresponde à remarcação feita telefonicamente junto de Cláudia na manhã desta terça-feira. Segundo os especialistas do departamento de cirurgia pediátrica, as "hérnias são quase sempre indolores" e a cirurgia remarcada para 19 de julho é um "procedimento não urgente".

De acordo com Cláudia, a operação vai resolver o problema diagnosticado em março a 100%. "Pelo que me foi dito desde sempre, inclusive na consulta de cirurgia, se fosse feito até aos 2 anos, isto não tendo aqui a situação de poder haver o estrangulamento — nessa situação teria de ser o quanto antes —, não teria qualquer tipo de problema. No entanto, fazendo a operação, sempre me foi dito que resolveria o problema e não teria qualquer tipo de consequências futuras para o Martim", termina.