Do altar-palco às obras de requalificação na zona oriental de Lisboa, passando pelos custos das casas de banho portáteis e de todas as infraestruturas necessárias para receber, segundo as estimativas, mais de um milhão de visitantes, a Jornada Mundial da Juventude tem sido tema de discussão e polémica.

O que é a Jornada Mundial da Juventude?

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), é um evento instituído pelo Papa João Paulo II em 1985, após o sucesso do encontro em Roma no Ano Internacional da Juventude. O evento reúne milhares de católicos de todo o mundo, em particular jovens, durante uma semana para promover eventos da igreja Católica.

Quando e onde se vai realizar?

Este ano, as JMJ vão acontecer em Portugal de 1 a 6 de agosto. As principais cerimónias decorrerão no Parque Tejo, na margem ribeirinha do rio, zonas que pertencem aos concelhos de Lisboa e Loures. 

A decisão sobre o local onde se vai realizar a Jornada foi tomada pelo Patriarcado de Lisboa, pelo Governo, pela Câmara de Lisboa e pelo presidente da República. O Patriarcado só apresentou a candidatura ao Vaticano depois de avaliar junto das autoridades civis a viabilidade, os locais e apoios necessários. Surgiu então a ideia de fazer a Jornada à beira do Mar da Palha, uma grande bacia no estuário do Tejo (na zona da ponte Vasco da Gama), por ter as mesmas dimensões que o Mar da Galileia em Israel.

A Câmara Municipal de Lisboa olhou para esta proposta como uma oportunidade de requalificar o espaço, criando algo novo que ficará para a cidade.

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Quanto custam os bilhetes?

Ainda que seja um evento mais direcionado para jovens, qualquer pessoa pode participar. Há inscrições para peregrinos e voluntários, que têm espaços próprios em cada local do evento. O acesso a transportes, alojamento e alimentação, vão depender da modalidade dos bilhetes que adquirirem. Os preços variam entre 50 e 255 euros.

O dinheiro das inscrições é destinado a pagar as refeições dos peregrinos e voluntários, contratualizadas com restaurantes e cadeias de alimentação, para pagar os transportes e para ajudar jovens de países mais pobres a vir até Lisboa. São esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas. Já estão 420 mil jovens inscritos, mas apenas 10% fez o pagamento.

Quem vai investir e em quê?

Só com todas as obras concluídas é que se vai conhecer qual o valor real das despesas da passagem da JMJ por Portugal. Apesar de ainda haver equipamentos e infraestruturas por contratualizar, é possível fazer as contas do que foi gasto até agora e quais são os tetos definidos por cada investidor.

As despesas da Câmara Municipal de Lisboa com a Jornada vão rondar os 35 milhões de euros. O executivo liderado por Carlos Moedas revelou que 21,5 milhões serão destinados ao evento principal e 13,5 milhões para os outros espaços que vão ser utilizados. “O retorno vai ser multiplicado, tudo isto que vamos investir, vai ser multiplicado por 10 ou por 20.”, referiu o autarca citado pelo "Observador".

O Governo vai gastar cerca de 36 milhões para assegurar os planos de mobilidade, segurança e saúde e as torres multimédia do Parque Tejo.

A autarquia de Loures investiu nove milhões e o investimento da de Oeiras, onde se realizará o último evento com o Papa, ainda é desconhecido. Ainda não se sabe o valor que a Igreja vai investir na Jornada.

A polémica rebentou depois de se saber que mais de cinco milhões foram destinados apenas ao altar principal, onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final. Para além do altar-palco principal no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, vão ser montados mais quatro em Lisboa: Parque Eduardo VII, Terreiro do Paço, Parque da Bela Vista e Alameda Dom Afonso Henriques.

O projeto do altar-palco
O projeto do altar-palco

Depois de ter reunido com o autarca Carlos Moedas, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que o palco de cinco milhões terá outras finalidades e que uma das hipóteses é ser um lugar para alojar a Web Summit. "Lisboa tenciona (...) utilizar a estrutura para outras ideias que podem ser mais interessantes", disse o chefe de Estado, citado pelo "Público".

Apesar de serem de menores dimensões, vão exigir um grande investimento por parte da autarquia. O do Parque Eduardo VII está a gerar mais polémica porque, segundo o “Expresso”, estimavam gastar 1,5 a dois milhões só nessa infraestrutura, que vai ser o local de abertura e onde se vai passar o acolhimento ao Papa.

Fora os investimentos ainda desconhecidos, a conta já ronda os 80 milhões.

O bispo auxiliar de Lisboa afirmou na quinta-feira, 26, que a igreja vai reunir-se com “as equipas responsáveis” pelo projeto do altar-palco para saber qual a razão do seu valor. “A Igreja assume a responsabilidade disto tudo e, no fim, assumirá os prejuízos. Os lucros que, porventura, existam da Fundação JMJ [Jornadas Mundiais da Juventude] serão entregues a projetos que envolvam a juventude das Câmaras de Loures e de Lisboa”, referiu.

A Câmara de Lisboa deve investir neste evento?

A Associação República e Laicidade enviou uma carta ao presidente da autarquia, Carlos Moedas, em que acusa a câmara de não respeitar integralmente o princípio da laicidade do Estado. “Uma câmara municipal portuguesa não pode incluir cerimónias religiosas nas suas atividades nem incentivar à presença nas mesmas”, pode ler-se no site da associação.

"Segundo declarações suas [Carlos Moedas] que são públicas, este equipamento permanente resulta de uma encomenda da Igreja Católica, que terá 'especificado' como seria o 'altar'. Não é aceitável que uma comunidade religiosa encomende equipamentos seus às custas dos contribuintes", continua.

Em que países já se realizaram as Jornadas?

A Jornada Mundial da Juventude já passou pelas seguintes cidades: Roma (1986), Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Częstochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sydney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016), Panamá (2019). A próxima será este ano, 2023, em Lisboa.

Em 2011 a JMJ teve lugar em Madrid. O investimento total do evento rondou os 50 milhões e o Estado não fez qualquer investimento. 70% das despesas foram pagas com o valor dos bilhetes dos peregrinos e 30% foi investimento de patrocínios, revelou a “SIC Notícias”.