José Gomes Ferreira terá ameaçado Bárbara Reis, redatora principal do jornal “Público”, após esta criticar a gafe que o mesmo cometeu em direto na SIC sobre a demissão de António Costa. O jornalista informou que o primeiro-ministro se tinha demitido, lendo um tweet publicado por uma conta falsa do mesmo no X (antigo Twitter).
“Falei hoje com o senhor presidente da República, tendo-lhe pedido a demissão. Pedi a demissão do senhor Procurador-Geral por esta perseguição permanente ao Partido Socialista. Garanti-lhe que sou tão inocente como José Sócrates”, dizia o tweet lido por José Gomes Ferreira em direto, acabando por ser corrigido por Bernardo Ferrão e Bento Rodrigues.
Bárbara Reis escreveu a 8 de novembro sobre o momento caricato na newsletter sobre media “Livre de Estilo”, no “Público”, com o título “O erro de José Gomes Ferreira, colossal e em direto”. “Se o erro tivesse sido feito por um jornalista nativo digital, um jovem nascido nos anos 1990, diríamos: dantes é que o jornalismo era bom, os jovens são pouco rigorosos, o jornalismo está pela hora da morte, vão dar cabo disto tudo. Mas é o oposto. Gomes Ferreira é jornalista há 30 anos. Tantos que até é diretor-adjunto de Informação da SIC Notícias”, escreveu, criticando também o facto de este não ter pedido “desculpa pelo erro”.
José Gomes Ferreira, segundo a jornalista revelou num outro artigo, publicado a 15 de novembro, não gostou do que leu. “Admito tudo. Opiniões adversas, críticas, o que seja. Menos as mentiras. Ou esta senhora Bárbara se retrata e pede imediatamente desculpa pelo erro de não ter visto que eu pedi desculpa aos espectadores e aos colegas de profissão ou ela e o ‘Público’ levam com um processo. Os meus cumprimentos”, terá enviado o jornalista.
Bárbara Reis confessou que apenas viu o “pedido de desculpa no dia seguinte”, tendo adicionado ao primeiro artigo que José Gomes Ferreira o fez passados “15 minutos” de ter cometido o erro. “Dez segundos: peço desculpa, houve aqui uma intromissão via Twitter que foi errada, peço desculpa aos telespectadores e aos colegas de trabalho, mas no calor do momento... Estão a correr dezenas de milhares de mensagens deste tipo e, portanto, há muita especulação neste momento”, disse o jornalista em direto.
Bárbara Reis ironizou, dizendo que foi um “pedido de desculpa incrível”. “Gomes Ferreira podia ter sido simples e factual ao pedir desculpa. Por exemplo: ‘olhei para uma conta do Twitter que usa uma fotografia de Costa igual à da conta oficial e pensei que era a conta de Costa. Mas era uma conta humorística. Peço desculpa pelo erro’. Em vez disso, atribuiu a culpa ao Twitter, como se tivesse sido o Twitter, e não ele, a meter-se no direto da SIC. Como se Gomes Ferreira não tivesse vontade própria e um fenómeno externo – talvez de Marte – tivesse interferido no seu cérebro, obrigando-o a ler um post falso”, escreveu.
A jornalista revelou que José Gomes Ferreira fez ao seu diretor [David Pontes], "um ultimato até à meia-noite de quinta-feira [16 de novembro] com duas hipóteses”. “Ou nós ‘retirávamos’ o meu artigo ou eu ‘retratava-me’. Antes do ultimato, tínhamos feito uma nota a dizer aos leitores que o jornalista pedira desculpa 15 minutos depois, na sua terceira intervenção. Mas não bastou a Gomes Ferreira. ‘O pressuposto do artigo assumido pela própria é uma mentira’, escreveu-nos. ‘Terá as consequências’”, contou Bárbara Reis.
Além disso, a jornalista revelou ainda que recebeu uma ameaça de José Gomes Ferreira. “No fim de tudo isto, recebi uma mensagem de Gomes Ferreira por WhatsApp, às 00h48: ‘Prepara-te’”, concluiu.