O relatório referente ao Ruído Ambiental na Europa pela Agência Europeia do Ambiente foi publicado na quinta-feira, 5 de março, e os resultados não deixam Portugal num lugar favorável. Lisboa é, sem dúvida, a segunda capital europeia mais afetada pelo ruído do tráfego aéreo. Em primeiro lugar está Luxemburgo.

Os dados foram analisados pela Associação Zero, que diz que Portugal, quando comparado com outros países da União Europeia, "apresenta uma situação muito desfavorável em termos de níveis de ruído identificados no quadro da legislação europeia no que respeita ao tráfego aéreo" — uma situação que, segundo a mesma associação, "sobressai em relação ao ruído do tráfego rodoviário e ferroviário".

Mas não se fica por aqui. Segundo a análise publicada pela Associação Zero no seu site oficial, as conclusões são ainda mais problemáticas.

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É que Portugal é também o país da União Europeia com uma maior percentagem de crianças com idades compreendidas entre os sete e os 17 anos que se encontram afetadas, diariamente, por problemas de leitura nas áreas que estão afetadas pelo ruído do tráfego aéreo. "Em termos absolutos, [Portugal] é o quinto pior país com uma estimativa de 7,500 crianças afetadas", lê-se.

Tendo em conta as revelações, a Associação Zero considera imperativa a necessidade de reduzir o número de tráfego para avaliar quais os resultados a médio prazo. E uma das soluções pode passar pela redução, ou até a "exclusão absoluta" de voos noturnos tal como é, aliás, previsto na rei do ruído.

"Os dados apresentados tornam inequívoca a necessidade de urgentemente garantir a exclusão absoluta de voos noturnos, tal como previsto na lei do ruído, e sem quaisquer exceções após o final das obras em curso. Mais ainda, é necessário discutir de forma estratégica, o futuro do aeroporto Humberto Delgado no médio prazo, incluindo a sua eventual expansão", lê-se na análise efetuada pela Associação Zero.

E continua: "O aeroporto Humberto Delgado não tem plano de ação para o ruído atualizado (tem sido sucessivamente chumbado pela Agência Portuguesa do Ambiente) e é tecnicamente impossível, com base nas medições feitas pela ZERO e presentes também nos mapas de ruído, garantir o cumprimento da legislação sem uma enorme redução do tráfego atual, principalmente ao longo da noite, mas também durante o dia."

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O impacto na saúde pública decorrente da exposição ao ruído do tráfego aéreo é amplamente conhecido, daí que seja cada vez mais importante que se tomem medidas.

Segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente, que cita a Organização Mundial de Saúde nesta matéria, as consequências são várias — mas destacam-se os mais comuns como o incómodo, a perturbação do sono, a incidência de doença isquémica bem com a interferência na compreensão oral e escrita das criança em qualquer contexto.