"Mais vale parir no shopping. Pelo menos não tens restrições ao acompanhamento". É esta a frase destacada na página do site da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto (APDMGP) dedicada à campanha #parirsozinhanao. No Instagram, há outras comparações: "Mais vale parir numa festa", "Mais vale parir no Shopping" ou "Mais vale parir num restaurante" ou ainda no "autocarro."
Foi esta a campanha que levou à disposição de meia centena de sapatos de homem, mulher e bebé no relvado da Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, frente à Direcção-Geral de Saúde, na quarta-feira, 23 de setembro. Ao lado, um cartaz com as palavras: "Por partos dignos e respeitados."
O protesto é uma forma de exigir à DGS que reveja as regras "lesivas" e "desproporcionadas" impostas pela COVID-19 às grávidas nos hospitais públicos, que vieram proibir a mulher de ter consigo um acompanhante tanto no parto, como nas consultas ou exames. No manifesto, publicado no site, apelam ao levantamento da medida, justificando que as famílias estão a perder "o momento irrepetível do nascimento dos filhos", destacando ainda uma alegada incoerência face às normas que foram estabelecidas noutros contextos e que permitem a livre circulação de várias pessoas.
"As grávidas e parturientes continuam, em muitos hospitais portugueses, impedidas de ter acompanhante durante internamentos, parto e pós-parto, a pretexto da pandemia por COVID-19, enquanto centros comerciais, restaurantes e transportes públicos, para só nomear alguns, há muito tempo podem ser frequentados quase livremente", pode ler-se.
"Esta situação está a roubar às famílias o momento irrepetível do nascimento dos seus filhos e a afetar a saúde emocional de mães, pais e bebés. Até quando? A APDMGP defende o levantamento imediato desta proibição de acompanhante, lesiva e desproporcionada.
Carla Pita Santos, da APDMGP, em declarações à Agência Lusa, ressalvou que o direito da grávida ter um acompanhante (ou três alternadamente) foi interrompido no setor público devido à COVID-19, situação que resulta na mulher grávida sozinha em qualquer exame e que, mesmo depois de o bebé, os pais só o podem ver quando este vai para casa. Considera também que está a haver um "aproveitamento" dos hospitais privados, uma vez que estes autorizam acompanhantes, mas apenas mediante testes pagos à COVID-19, de dois em dois dias.
“Esta é a única alternativa, mas não é bom. Os parques de estacionamento dos hospitais públicos estão cheios de pais que não podem ver os filhos. Agora já há alguns hospitais que estão a começar a deixar o bebé na transferência do bloco de partos para o quarto."
Carla Pita Santos, que relata que a associação tem recebido vários pedidos de ajuda de pais e mães, considera ainda que não faz sentido separar pessoas que vivem juntas, ressalvando que nem a Organização Mundial de Saúde o aconselha. Relata ainda que a DGS afirmou que, brevemente, seria emitido um parecer sobre o acompanhamento de grávidas.
"Não conseguimos identificar nenhum dado que a DGS possa usar para não tomar uma decisão e consideramos que devia ser permitido pelo menos um acompanhante, porque era importante que o pai acompanhasse as consultas, as ecografias, os exames. O afastamento torna mais distante a relação do pai com o filho e os pais acabam por se sentir culpados por não estarem presentes”.