Diana de Carvalho Pereira, médica interna de cirurgia geral no Hospital de Faro, recorreu às redes sociais, no domingo, 9 de abril, para denunciar e expôr "11 casos" de negligência médica, provocados pelo cirurgião Pedro Henriques, sendo que três terão resultado na morte dos doentes, revela o "Jornal de Notícias". A médica afirma que o cirurgião já era conhecido pelas suas competências, e por isso, evitado por doentes, e que o caso já está a ser investigado pelo Ministério Público.

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Entre janeiro e março de 2023 a médica revela que terão sido 11 os alegados casos de negligência médica com doentes. "Três morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios, os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida", escreve Diana Pereira numa publicação de Instagram, que apela à divulgação, mas onde não revela o nome do cirurgião.

No âmbito da sua formação em Medicina, a médica conta que em janeiro foi "colocada no internato de formação específica de cirurgia geral no CHUA - Unidade de Faro", tendo sido nomeado para seu orientador o cirurgião Pedro Henriques, nota o "JN".

A mulher confessou, através das redes sociais, que ponderou "desistir logo do internato de formação específica" quando soube que o médico seria o seu "orientador de formação", uma vez que seria "de conhecimento público de todos os elementos do serviço (médicos, enfermeiros, auxiliares) das competências do referido médico", bem como "do conhecimento dos doentes", relatando que já tinha contactado com "doentes que recusaram ser operados quando souberem que o cirurgião iria ser ele", conta Diana Pereira.

A médica afirma que a formação não correu da melhor forma, tendo passado "três meses de cansaço e frustração em todos os sentidos", e inclusive necessitou de ajuda psicológica. Diana revela que chegou "a trabalhar 100 horas numa semana" e que foi "posta em causa vezes sem conta".

"Sei que neste hospital se normalizam situações que noutro não seriam normalizadas", acusa a médica, que diz que "todos conhecem a realidade do serviço de Cirurgia" do Hospital de Faro e que "todos têm medo de fazer queixa", relatando que "há vários bons cirurgiões que se despediram há pouco tempo por não compactuarem com tais situações".

Diana Pereira confirma ainda, na descrição da publicação, que remeteu a queixa "à Ordem dos Médicos, à entidade reguladora da saúde, à ACSS", e que também já terá feito chegar o assunto ao ministro da Saúde e ao bastonário da Ordem dos Médicos, para além de ter reunido "com a direção clínica, a direção do internato e administração do hospital" com o intuito de informar as entidades relativamente à queixa efetuada.

Face ao sucedido, a médica alega que foi vítima de retaliações por parte de especialistas do hospital. "Inventaram uma história para me difamar junto ao hospital inteiro. Alegam insanidade, quando a minha queixa é referente a atos clínicos, baseada em provas com meios complementares de diagnóstico e relatos cirúrgicos. Alegam insanidade. Eu nunca fui um perigo para nenhum doente, ao contrário deles", escreve a médica.

Ao "JN", o Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) revelou não ter conhecimento de nenhum caso denunciado pela médica Diana Pereira, "uma vez que a mesma optou por os participar a entidades externas e só posteriormente informou o CA". Ainda assim, o conselho abriu um inquérito interno urgente, "com vista a avaliar a conduta assistencial, matéria da maior relevância para o CHUA e para os utentes", noticia ainda o "NOVO Semanário".

Também a Ordem dos Médicos já iniciou o processo de investigação, revela o "NOVO", "prevendo-se a vinda de uma Delegação do Conselho Regional do Sul ao CHUA, para in loco se inteirar dos factos relatados e das circunstâncias que lhes deram origem".

Para além disso, "o Diretor Clínico pediu ao Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos a abertura de inquérito urgente, com vista a avaliar a conduta assistencial, matéria da maior relevância para o CHUA e para os utentes", revela o JN.

O cirurgião acusado pela médica de negligência, Pedro Henriques, também falou com o mesmo órgão de comunicação social, afirmando que as declarações de Diana "não fazem qualquer sentido" e que vai "responder em sede própria". Já o diretor do serviço de cirurgia, Martins dos Santos, terá declarado que "só alguém que não está no seu perfeito juízo podia fazer declarações desta natureza", negando todas as acusações.

De acordo com o "NOVO", o CHUA garante que "tudo fará" de modo a garantir a segurança e qualidade de assistência do hospital, e "zelará pelas condições de exercício dos seus profissionais".

Veja o comunicado deixado pela médica nas redes sociais.