O Ministério Público está a investigar a gestão dos mais de 2,5 milhões de euros que, em 2019, foram doados aos pais da bebé Matilde para ajudar no tratamento da criança. "Confirma-se a existência de inquérito que corre termos no Departamento de Investigação e Ação Penal [DIAP] de Lisboa. O mesmo encontra-se em investigação e sujeito a segredo de justiça", confirmou a Procuradoria-Geral da República ao "Correio da Manhã".

A investigação surge depois de os pais de Matilde não revelarem, por exemplo, o saldo atual da conta que foi criada especificamente para receber as doações ou os detalhes referentes aos custos de tratamento de 55 crianças para os quais dizem ter contribuído. "Este é um processo transparente. Esse valor pertence à Matilde e será usado para todos os tratamentos, terapias e equipamentos que a Matilde necessite", explicaram à mesma publicação.

No entanto, há quem já tenha pedido o reembolso do donativo por considerar que o objetivo inicial da campanhas e alterou. É que depois de realizadas as doações, o Estado comparticipou o medicamento para o tratamento da atrofia muscular espinha tipo I que tinha sido diagnosticado a Matilde — e que custava cerca de dois milhões de euros.

"Pedi a devolução e apresentei o comprovativo. Nunca me responderam. Desejo o melhor à pequenita, mas tenho esse direito", referiu uma doadora ao mesmo jornal. Mas para o casal, este é um "não tema".

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"A nossa filha está bem e tem evoluído muito bem. É um dia de cada vez", dizem Carla e Miguel, os pais de Matilde, à mesma publicação. Questionados sobre de que forma está a ser feita a gestão do dinheiro e como se desenvolve o processo de seleção de crianças que querem ajudam, ambos dizem que "as ajudas são feitas mediante as necessidades das crianças e as transferências são sempre feitas diretamente para as clínicas, empresas e hospitais."

E defendem a posição de não entregar a totalidade ou parte das doações a uma associação de solidariedade: "Nós, pais, sabemos melhor do que ninguém quais as reais necessidades da nossa filha e jamais iríamos pôr a vida e o futuro da nossa filha nas mãos de terceiros."

Em abril de 2019, Matilde Sande, na altura com apenas um mês e meio de idade, foi diagnosticada com atrofia muscular espinhal tipo I. O medicamento necessário para tratar o problema da bebé estava disponível nos Estados Unidos, no entanto tinha o custo de dois milhões de euros. Para angariar o valor necessário, os pais criaram a página "Matilde, uma bebé especial", que reuniu a solidariedade da grande maioria dos portugueses.

Em junho, Carla Martins e Miguel Sande, os pais de Matilde, anunciaram que tinham conseguido juntar o valor necessário para adquirir o medicamento. Pouco tempo depois, porém, o estado anunciou que iria comparticipar o Zolgensma.