O nome de Mário Rui Pedras, padre na paróquia de São Nicolau, na baixa de Lisboa, e orientador espiritual de André Ventura, é um dos que consta na lista de suspeitos de abusos sexuais. Foi chamado ao Patriarcado de Lisboa para ser informado e anunciou num comunicado esta quarta-feira, 22 de março, o seu afastamento da paróquia.

Igreja. Cerca de 30 padres são suspeitos de abusos sexuais na diocese de Lisboa
Igreja. Cerca de 30 padres são suspeitos de abusos sexuais na diocese de Lisboa
Ver artigo

Mário Rui Pedras afirma estar “chocado” com esta acusação e diz ser uma “denúncia anónima, falsa, caluniosa, sem qualquer elemento útil ou prestável para investigação”, avança o “Expresso”. “Quero que fiquem seguros de que nada fiz de errado, de desrespeitador, ou de criminoso”, garantiu aos paroquianos.

O padre da baixa de Lisboa é membro de uma ala mais conservadora da igreja e orientador espiritual e confessor, há muitos anos, do líder do Chega, André Ventura, que até acabar a faculdade viveu na residência de São Nicolau. Quanto à denúncia anónima, Mário Rui Pedras diz ser “um golpe cobarde” e garante fazer de tudo para “desmascarar” quem o “difamou”, de forma a livrar-se de “qualquer mácula ou suspeita”.

“Alguém refere ter sido vítima de abusos por mim perpetrados, os quais teriam ocorrido na década de 90, quando frequentava o 8º ano, num colégio da periferia de Lisboa. A notícia assim transmitida chocou-me profundamente”, afirmou. “Quero dizer-vos que essas imputações são totalmente falsas. Ao longo da minha vida sacerdotal não pratiquei o que quer que fosse de censurável, seja pelo prisma da lei canónica, pelo prisma da lei civil ou da ética comportamental”, acrescentou, referindo que a denúncia “não dá a conhecer a identidade” de quem a fez, não “indica o local” onde os alegados abusos ocorreram nem “potenciais testemunhas”.

Para André Ventura, Mário Rui Pedras foi “sem dúvida” o padre que mais o “marcou até hoje”, revela o “Expresso”. O líder do Chega revelou no podcast “Entre Deus e o Diabo” que a única fotografia que tinha em cima da sua secretária era com o padre da baixa de Lisboa, dado que este o recebeu em São Nicolau quando teve uma crise de vocação e saiu do seminário.

O Patriarcado de Lisboa confirmou no dia 10 de março ter recebido uma lista de 24 suspeitos de abusos sexuais, enviada pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja, estando cinco ainda no ativo. Desses, afastou preventivamente quatro sacerdotes, sendo que “o outro sacerdote referido” “já tinha sido sujeito a medidas cautelares”, avança a “SIC Notícias”.

“O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, determinou o afastamento preventivo, também designado como proibição do exercício público do ministério, de quatro sacerdotes no ativo, recomendado pela Comissão Diocesana”, informaram num comunicado. No entanto, este afastamento é “preventivo” até as investigações estarem concluídas e D. Manuel Clemente reforça que “não há nenhuma acusação formal contra os sacerdotes”.