A pandemia da Covid-19 fez aumentar o abandono de animais de estimação nos últimos meses, principalmente nas grandes cidades do país. A maioria dos crimes ocorreu em Lisboa, no Porto, em Setúbal e em Leiria e está relacionada com o aumento do desemprego e a morte de idosos, avança esta quinta-feira, 10 de dezembro, o "Jornal de Notícias".
Entre janeiro e agosto de 2020 foram registados 667 casos de abandono de animais de companhia em território nacional, referem os dados fornecidos pela GNR e pela PSP ao "JN". O número dá conta de mais de 167 casos do que os registados no mesmo período do ano passado em que o valor não chegou aos 500.
Maria Quaresma dos Reis, provedora dos animais de Lisboa, esclarece o que poderá justificar o crescimento dos crimes de abandono nos últimos meses: "Muitos idosos que faleceram por covid viviam sozinhos com gatos. Os familiares, por incapacidade financeira, não acolheram os felinos, que acabam por ir para a rua", referiu ao "JN".
Já a SOS Animal, reconhece que o sucedido pode estar relacionado com a pandemia, mas não admite que o aumento se deva às mortes por Covid-19. Sandra Duarte Cardoso, presidente da SOS Animal, considera que existe uma falta de estudos sobre o problema e admite que muitos dos abandonos dos animais ocorrem após a morte dos donos. "Há casos em que os detentores falecem por várias complicações de saúde e as famílias não acolhem os animais, deixando-os ao abandono. Como o crime é imputado apenas aos detentores dos animais, as famílias não são responsabilizadas", afirma Sandra Duarte Cardoso ao mesmo jornal.
Ainda assim, apesar do número de crimes por abandono ter aumentado, os maus tratos a animais diminuíram. Segundo dados da PSP, em 2019 registaram-se 538 crimes enquanto que atualmente estão a ser investigados 377 casos.
A provedora dos animais de Lisboa acredita que esta redução possa estar relacionada com o aumento de laços afetivos entre pessoas e animais durante a pandemia, mas saliente que pode também haver crimes que não estão a ser reportados. "Em muitos lares, a quarentena e o teletrabalho reforçaram os laços efetivos entre os animais e os seus detentores, evitando muitas situações de maus-tratos, como violência ou o não fornecimento de comida e de bebida", afirma Maria Quaresma dos Reis
Sandra Duarte Cardoso considera que o número de casos em investigação não reflete a dimensão do problema. "Apesar de as autoridades estarem cada vez mais sensibilizadas para estas situações, deparam-se com problemas na investigação, como a falta de espaço para acolher os animais em canis sobrelotados ou a indisponibilidade de médicos veterinários para acompanhar as operações", afirma ao "JN" a presidente da SOS Animal.
Com o confinamento, aumentaram também os pedidos de adoção de animais, tendo a SOS Animal e a Associação São Francisco de Assis recebido o dobro das solicitações. Contudo, a política de adoção responsável levou à recusa de muitos. "Há uma política de adoção responsável que tem de ser avaliada, antes da entrega de um animal", afirma Sandra Duarte Cardoso, presidente da SOS Animal, ao "JN".
Esta política de adoção responsável, que avalia as famílias pela capacidade financeira, espaço em casa e disponibilidade para tomar conta do animal, faz com que a taxa de sucesso seja de 92%, aponta João Salgado, vice-presidente da Associação São Francisco de Assis. "Os cães precisam de ser levados à rua e muitos candidatos não teriam essa disponibilidade, quando voltassem ao emprego", esclarece João Salgado referindo que, por mês, a associação entrega, em média, 50 animais.