"Vão quase nuas para provocar e depois vêm com moralismos a acusar de assédio". Foi este um dos comentários no Facebook que Sara Sequeira destacou nos seus InstaStories e um dos que, noutra publicação, a levou a escrever:  "Não consigo ler os comentários porque, mais uma vez, estão a dar-me vómitos."

Em causa estará a situação de assédio que viveu num comboio da CP, quando um revisor comentou o seu decote, acusando-a, posteriormente, de estar a provocar todos os homens que viajavam naquele comboio. Seja no mural, seja nos InstaStories, depois de ter vivido esta situação, a modelo tem feito uma série de publicações, ora a defender o fim do assédio e do machismo, ora a sublinhar o facto de que, nas notícias referentes à polémica, são quase sempre as mulheres que assinam os comentários mais depreciativos.

"E quando as mulheres são machistas?", questiona numa imagem. Na legenda, escreve: "Tenho evitado ler os comentários. Na verdade pedi a uma amiga minha para fazer essa gestão. Estou enojada! se ontem fiquei admirada com a quantidade de comentários a gerar ódio, hoje nem me atrevo a ler. Ontem ainda consegui fazer humor. Hoje, não. Hoje estou preocupada com o futuro de todas as mulheres que se oprimem."

A modelo relata que tem recebido vários print screens. "Os que me mandam são de mulheres a destilar ódio. Talvez essa seja a surpresa... que para mim, não é surpresa. Mulheres seguras sempre tiveram outras mulheres a desejar e a dizer o pior. O tal machismo feminino. Sim... existe."

"Ainda bem que não está frio lá fora ou as mamocas constipavam-se"

Em causa estará a situação que Sara Sequeira viveu no final da semana passada e que já foi notícia em vários meios de comunicação social: quando a modelo viajava de comboio do Carrascal para Tomar, foi abordada por um revisor da CP que terá comentado o seu decote. "Ainda bem que não está frio lá fora ou as mamocas constipavam-se", ter-lhe-à dito o funcionário dos Comboios de Portugal (CP), no momento lhe cobrava o bilhete — tarefa em que, alegadamente, levou mais tempo do que o suposto. "Estava mais interessado em olhar para o meu peito do que para a máquina", escreveu a mulher no primeiro post de Instagram, publicação entretanto que já se tornou viral, com quase 318 mil visualizações.

Depois do comentário, Sara Sequeira terá apresentado queixa à CP, alertando o revisor para o seu comportamento. A resposta piorou a situação: "Apresentei queixa à CP e de seguida disse ao revisor que o seu comportamento foi nojento. No mínimo deveria pedir desculpa. Mas não!!!", escreveu

No vídeo publicado pela modelo, é possível ouvir a resposta deste funcionário. "Não ofendi ninguém", começa por questionar o homem. "O que é que eu disse de mal?", continua. "Há normas para viajar nos transportes públicos (...) Anda a provocar os homens todos que andam a viajar."

Sara Sequeira relata que foi apresentar queixa deste homem às autoridades. "Fui apresentar queixa às autoridades competentes porque este tipo de atitudes devem ter consequências para quem as pratica", escreveu. E alerta: "Não se calem. Não deixem estas coisas passar em branco. Somos livres de andar de vestido fora e dentro de um comboio!"

Entretanto, em comunicado, a CP confirmou a "conduta inadequada" daquele funcionário. Relata que foi aberto um processo disciplinar e garante que "repudia e não se revê neste tipo de comportamento".

"Na sequência do incidente ocorrido, no passado dia 4 de setembro de 2020, a bordo de um comboio regional com destino a Tomar, a CP – Comboios de Portugal procedeu a imediatas e preliminares diligências de averiguação interna, no sentido de apurar os factos denunciados pela sua Cliente. Comprovada a existência de uma conduta inadequada do Operador de Revisão e Venda a Empresa determinou a instauração de Processo Disciplinar ao referido trabalhador."

"O vestido da indecência, da moral e dos bons costumes"

Depois do acontecimento, Sara Sequeira tem feito uma série de publicações na sua conta de Instagram, "pela liberdade", pelo "fim do machismo" e pelo fim da "normalização do assédio", tendo criado o hashtag "não nos vamos calar".

sara sequeira

Além disso, publicou uma fotografia com o vestido em torno da situação, escrevendo "o vestido da indecência, da moral e dos bons costumes".

Apesar dos comentários negativos, a modelo tem recebido também várias mensagens de apoio.  "São bem mais de 1000 mensagens de apoio e de testemunhos! Ninguém tem noção da força que ganho ao ler cada um. Vamos ganhar voz! Vamos lutar pelos nosso direitos! Não normalizem o assédio!"