As eleições legislativas antecipadas estão marcadas para 10 de março. Contudo, antes de os cidadãos portugueses se deslocarem às urnas para decidir o futuro do País, os candidatos a primeiro-ministro vão debater os seus ideais na televisão nacional. Ou melhor, já começaram, sendo que os primeiros debates tiveram início esta segunda-feira, 5 de fevereiro.
Na RTP3, André Ventura e Inês Sousa Real, líderes do Chega e do Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), respetivamente, sentaram-se frente a frente, às 22 horas. Contudo, uma hora antes e noutra estação, a SIC, foi Pedro Nuno Santos, o recém-eleito secretário-geral do Partido Socialista (PS), e Rui Rocha, da Iniciativa Liberal (IL), que tiveram o seu frente a frente.
Os candidatos tiveram um reduzido tempo de discussão, que se fixou perto dos 30 minutos. Sem muito tempo para debaterem sobre os seus programas eleitorais, a conversa andou andou à volta da fiscalidade, da saúde, da educação e acabou na habitação, pasta pela qual Pedro Nuno Santos foi responsável até dezembro de 2022. E nós mostramos-lhe três momentos marcantes.
Pedro Nuno Santos diz que a IL não faz "magia ainda"
No início do debate, Pedro Nuno Santos não perdeu tempo e acusou a IL de ter "como única resposta uma redução aventureira e radical de impostos". Questionando Rui Rocha de forma retórica sobre "quais são os custos do choque fiscal que está no programa" do partido que encabeça, o líder do PS acusa o programa económico do rival de custar mais de 9 mil milhões de euros anuais.
"Os senhores não fazem magia ainda", ironizou o líder socialista, que ainda aproveitou para lançar outra farpa a Rui Rocha. "No final de um programa destes [defendido pela IL], o que espera a Portugal é a austeridade", frisou Pedro Nuno Santos, dando a entender que, a seu ver, as propostas dos liberais vão levar Portugal por maus caminhos.
Ainda assim, não descurou que se devem baixar os impostos, mas "dentro da capacidade financeira" do País e exemplificou, dizendo que o governo esteve a baixar o IRS nos últimos oito anos. "Apresentámos a redução do IVA para a eletricidade para um determinado consumo", disse, frisando que apresentaram também "a redução das tributações autónomas para as empresas sobre as viaturas".
Depois, comparou-se ao rival. "A diferença entre Rui Rocha e eu é que Rui Rocha sabe que não vai governar e eu estou preocupado com as contas que tenho de pagar dia 11 [de março]. Nove mil milhões de euros é um rombo nas contas públicas", disse, reiterando que a IL acredita "na magia fiscal".
"Radical é ter idosos à chuva e ao frio para ter uma senha"
O candidato do PS a primeiro-ministro manteve um tom sereno, chegando até a apelidar o seu adversário de "radical", fruto daquilo que a IL pretende fazer aos impostos e acusando-a, em simultâneo, de querer destruir o Estado Social. Admitiu que há problemas de gestão e de organização no Serviço Nacional de Saúde, frisando que não se deve "desistir dele" e que foi iniciada uma reforma.
Rui Rocha, que já tinha dito noutras circunstâncias que acreditava que a saúde portuguesa estava à beira do colapso e que os portugueses deviam poder escolher entre recorrer a um serviço público, a um serviço privado ou a um serviço de saúde social, segundo o "Observador", não se ficou, utilizando o campo da saúde para contra-argumentar.
"Radical é ter idosos à chuva e ao frio para ter uma senha para marcar uma consulta. O que é radical é ter grávidas a baterem à porta de urgências fechadas. O que é radical é ter a degradação dos serviços públicos que nós temos visto", ripostou o líder liberal, acrescentando que, atualmente, há um "serviço de acesso a listas de espera e não um serviço nacional de saúde".
Tendo isto em conta, afirma que a IL quer trazer para Portugal as soluções que funcionam nos outros sítios do mundo, como é o caso da Alemanha, na sua perspetiva. Assim, propõe que o paciente possa ter liberdade de escolha dentro de um sistema nacional de saúde, sem ter que pagar mais por isso ou ficar numa lista de espera.
Rui Rocha diz que "Pedro Nuno Santos foi incompetente"
No que à habitação diz respeito, Pedro Nuno Santos, que foi ministro da Habitação e das Infrastruturas, começa por dizer que este é um problema transversal a toda a Europa, acrescentando que, quando o PS tomou posse em 2015, teve de "construir todo um aparelho político e legislativo para dar resposta a este problema".
"Nós lançámos o maior programa de investimento público em habitação de que há memória", frisou o candidato socialista, dizendo que"infelizmente, não decidimos fazer uma casa hoje e está pronta amanhã". Contudo, frisa que têm, neste momento, "entre 15 e 20 mil casas" em processo.
Contudo, esse número não é nada para Rui Rocha, cujo partido que representa se propõe a construir 250 mil casas até ao final da legislatura – número que acredita ser concretizável, apesar do ceticismo do rival, que diz que "as propostas da IL ficam bem nos cartazes e provavelmente nos gráficos, mas não são exequíveis".
Rui Rocha diz que, para atingir o objetivo, deverão ser feitos licenciamentos mais rápidos, eliminar o IMT, diminuir o IVA da construção e pôr os devolutos do Estado ao serviço dos portugueses em modelo de renda acessível. E ainda passou um atestado de incompetência a Pedro Nuno Santos.
"Pedro Nuno Santos foi incompetente. Pedro Nuno Santos falhou na habitação. Pedro Nuno Santos prometeu habitação digna para todos os portugueses até 2024 e estamos longe desse objetivo. Da mesma forma que foi incompetente na ferrovia. Pedro Nuno Santos foi incompetente. Pedro Nuno Santos falhou. Pedro Nuno Santos foi incompetente e falhou na TAP, prometeu que devolveria 3,2 mil milhões de euros e nem um cêntimo foi devolvido. Pedro Nuno Santos foi incompetente e falhou", rematou Rui Rocha.
Quem ganhou o debate? E quando é o próximo?
No rescaldo do debate entre Pedro Nuno Santos e Rui Rocha, a maior parte dos comentadores políticos atribuem a vitória ao líder da IL. Foi o caso, por exemplo, dos comentadores da SIC Notícias, como Sebastião Bugalho, Bernardo Ferrão e Ângela Silva, que concederam a vitória ao liberal, embora não seja estrondosa.
O mesmo se aplica aos oito comentadores do "Expresso", dos quais quatro atribuíram a vitória a Rui Rocha. Pedro Nuno Santos conquistou a aprovação apenas de três comentadores, tendo havido apenas um empate. Na sua maioria, as pontuações estiveram sempre bastante renhidas, tirando a de João Vieira Pereira, que atribuiu sete (de 10) pontos ao liberal, em detrimento dos quatro concedidos ao socialista.
Os debates vão continuar até dia 23 de fevereiro, dia em que os protagonistas serão os partidos com assento parlamentar (PS, PSD, Chega, IL, BE, PCP, PAN e Livre), na RTP, às 21 horas. Esta terça-feira, 6 de fevereiro, serão transmitidos três debates: um entre os representantes do PCP e o PAN, na RTP3, às 18 horas; outro do PSD e do BE, na TVI, às 21 horas, e entre o Chega e a Iniciativa Liberal, na SIC Notícias, às 22 horas.