Os dados são alarmantes. Em Portugal, mais de um em cada dez trabalhadores, o que equivale a uma taxa de 11%, está atualmente a viver em situação de pobreza. É esta a conclusão da investigação "Pobreza em Portugal — Trajetos e Quotidianos", coordenada por Fernando Diogo, investigador e professor universitário de Sociologia, e promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Mas a fatia da população a viver no limiar da pobreza não está nessas condições por não ter trabalho. Muito pelo contrário: têm um emprego que, muitas das vezes, é precário ou resulta num salário muito baixo ao final do mês.
A investigação é clara e permite criar um retrato claro de quem são, afinal, as pessoas a viver em situação de pobreza. Ainda que 13% dos que vivam nestas condições sejam desempregados, 26,6% são precárias, 27,5% são reformados e 32,9% são trabalhadores empregados, escreve a Agência Lusa, citado pelo jornal "Observador".
É nessa fatia de 32,9%, que corresponde à maioria dos que vivem em situação de pobreza, que se encontram as pessoas empregadas com contrato e com direito a, pelo menos, o salário mínimo.
A taxa de pobreza infantil também é mais elevada "do que a taxa global", explica Fernando Diogo à mesma publicação. "Os agregados onde existem crianças são aqueles em que a taxa e a pobreza é mais elevada."
A explicação é simples: nos agregados familiares em que os salários são baixos, a situação acentua-se quando os trabalhadores têm de partilhar os rendimentos para sustentar a família.
E a pobreza herda-se, identificando-se a "natureza estrutural" do fenómeno — uma vez que há pessoas que, por terem crescido "num contexto mais ou menos de privação", veem condicionadas e limitadas "as suas oportunidades na vida".