A greve dos trabalhadores do Global Media Group (GMG) continua. Esta quinta-feira, 11 de janeiro, os jornais detidos pelo grupo – "Jornal de Notícias", "Diário de Notícias" e "O Jogo" – não estão disponíveis nas bancas, como consequência da paralisação de 24 horas iniciada esta quarta-feira, 10, cuja adesão rondou os 100%, segundo o "Observador".

A greve foi convocada pelos Sindicato dos Jornalistas, Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) e pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT). E a paralisação abrangeu todos os trabalhadores do grupo.

Os manifestantes concentraram-se em Lisboa e no Porto e lutaram contra o atraso no pagamento dos salários e subsídios, mas não só. Os trabalhadores também pedem transparência em relação aos novos investidores, que estão a gerar incerteza, a par de protestarem contra os despedimentos coletivos que têm sido levados a cabo. Entenda o que se está a passar em três pontos fulcrais.

1. O fundo de investimento que está a gerar desconforto

O Global Media Group é controlado por um fundo de investimento norte-americano, o World Opportunity Fund, sediado nas Bahamas, que é um paraíso fiscal. Em julho de 2023, este fundo de investimento passou a deter 51% do capital social da Páginas Civilizadas, a qual controla, direta e indiretamente, 50,25% do GMG e 22,35% da agência de notícias Lusa, segundo a SIC Notícias.

Já foram pedidas informações adicionais ao procurador daquele fundo pela Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC), para clarificar o nome e a respetiva percentagem de participação dos detentores de unidades no fundo. Na informação disponibilizada no Portal da Transparência, a sociedade UCAP Bahamas Ltd e o francês Clement Ducasse foram identificados como órgãos de administração.

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Tendo a ausência de informações claras sobre a situação financeira do GMG e as razões por detrás das decisões de reestruturação e despedimentos em conta, este cenário contribuiu para o adensar da tensão e a incerteza entre os trabalhadores.

2. A ação de despedimentos

Os trabalhadores do grupo começaram a ficar preocupados quando, a 6 de dezembro do ano passado, o GMG anunciou o eventual despedimento de 150 a 200 jornalistas. Deste número, 40 pertenciam ao "Jornal de Notícias", 30 exerciam funções na rádio TSF e um número indeterminado fazia parte do jornal desportivo "O Jogo". Além disso, foi também aberto um programa de rescisões por acordo mútuo para trabalhadores até 61 anos, com contrato sem termo, com as compensações a serem divididas por 18 meses.

Esta situação também culminou na demissão em bloco da direção da TSF, a 2 de outubro, depois de terem ficado em silêncio total a 20 de setembro – marcando a primeira greve desde a sua fundação, há 35 anos. Aquando da contratação da nova administração, a Global Media admitiu estar a atravessar um período de dificuldades financeiras, alegando que a estação de rádio teria acumulado prejuízos nos últimos 10 anos.

3. O incumprimento do pagamento dos salários

Isto fez com que, no início do mês de dezembro, os jornalistas das publicações detidas pelo GMG entrassem em greve, dos quais o "Jornal de Notícias", que ficou fora das bancas durante dois dias, é exemplo. No que aos salários diz respeito, a remuneração de novembro foi paga em atraso e, a 28 de dezembro, o grupo informou os trabalhadores de que não tinha condições para pagar o ordenado de dezembro, bem como o subsídio de Natal, que vai ser pago (ilegalmente) em duodécimos este ano, avança o "Diário de Notícias".

Tendo em conta este cenário, o secretário de Estado do Emprego afirmou que a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) já está a notificar o Global Media Group (GMG) pelo incumprimento no pagamento dos salários. Entretanto, José Paulo Fafe, administrador do grupo, diz que os salários em atraso deverão ser pagos até ao início da próxima semana, segundo o "Expresso".