O pianista de jazz João Pedro Coelho está a ser acusado de ter assediado sexualmente ex-alunas, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos, que frequentaram o Hot Clube de Portugal, uma das principais escolas de música do País, onde este lecionava. Uma das alegadas vítimas do artista, a artista Liliana Cunha, que o acusa de violação, recorreu às redes sociais para partilhar o seu testemunho.

"Está na hora de denunciar este boneco, que abusou de mim em maio de 2023", começou por escrever a artista, no Instagram. "Decidiu atrair-me para uma noite de prazer, que acabou por me fazer fugir às 6 da manhã na Ajuda cheia de nojo, sujidade e tristeza", continuou Liliana Cunha, dizendo que já não compactua "com pseudo-músicos que acreditam que o seu ego é uma porta aberta para magoar os outros".

A artista, que afirmou estar bastante magoada com a situação, frisou que decidiu pronunciar-se pelo facto de não querer que este episódio passe despercebido – até porque, de acordo com a própria, "ele continua a aplicar as mesmas tácticas a outras mulheres". "Por isso, se estão por aí e pensam em envolver-se com um pianista de jazz de Lisboa, pensem duas vezes antes, por favor", declarou.

"Não preciso de entrar em pormenores sobre o abuso porque não preciso de dar numa de vítima para contar a minha verdade", continuou Liliana Cunha, que acrescentou que já denunciou João Pedro Coelho às autoridades e incentivou todas as vítimas que estiverem na sua posição a fazerem o mesmo – e algumas, segundo o Notícias ao Minuto, já vieram relatar as situações de assédio em que se terão visto envolvidas.

Nas últimas horas, uma onda de solidariedade juntou anónimos, professores, ex-colegas de João Pedro Coelho, ativistas como Francisca Barros e Clara Não, e figuras públicas portuguesas como Ana Bacalhau, Iolanda, Irma e a dupla Fado Bicha, em apoio às jovens envolvidas nesta luta. E o pianista, que é um dos mais prestigiados da nova geração em Portugal, com formação em Lisboa e Amesterdão, bem como vencedor de vários prémios, também já se pronunciou.

“Perante a divulgação, nas redes sociais, de uma acusação que me imputa a prática de factos, de cariz sexual, venho aqui afirmar a falsidade da mesma e reclamar a minha total inocência”, pode ler-se. "Para reposição da verdade e reparação da ofensa ao meu bom nome e dos danos morais e materiais já causados à minha reputação pessoal e profissional, usarei os meios legais que estão ao meu alcance", diz ainda na missiva publicada no Instagram.

Entretanto, o Hot Clube de Portugal já se demarcou da denúncia dirigida a João Pedro Coelho. Isto porque o músico já não exerce funções na instituição desde o ano letivo de 2022/2023, além de Liliana Cunha não ter frequentado a mesma, de acordo com o "Observador". No entanto, a escola de jazz confirma que, no ano letivo anterior, afastou outros dois professores por conduta imprópria com duas alunas.

Segundo Pedro Moreira, presidente do Hot Clube de Portugal, as situações foram reportadas de forma informal à direção pedagógica com a ajuda de uma professora, e a direção anterior conduziu uma investigação interna. No relatório final, concluiu-se que houve abuso na relação de professor e aluna em ambos os casos, o que motivou o afastamento dos docentes envolvidos – bem como a criação de um código de conduta para a comunidade escolar, um gabinete de apoio ao aluno e um canal de denúncia anónimo.

A par disso, o responsável, segundo a mesma publicação, esclareceu que, por comum acordo com as partes envolvidas, as situações de 2021/2022 foram resolvidas internamente, não tendo sido encaminhadas para outras instâncias. O presidente sublinhou também que as alunas envolvidas eram maiores de idade, e que o HCP não tem qualquer registo ou conhecimento de casos envolvendo menores.