No primeiro debate, esta terça-feira, 12 de janeiro, entre todos os candidatos à presidência da República, o alvo foi apenas um: Marcelo Rebelo de Sousa. E o presidente incumbente partiu em desvantagem por não ter conseguido marcar presença no Pátio da Galé, em Lisboa, depois de ter recebido um teste positivo e dois negativos, ainda por explicar, à COVID-19.
No lugar que deveria ocupar entre o liberal Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva estava, afinal, um ecrã que iria transmitir a imagem de Marcelo desde sua casa. Quando surgiu, tarde, e antes de ser atacado por todos os candidatos, foi o cenário que Marcelo tinha como fundo que serviu para que, principalmente no Twitter, se multiplicassem os comentários e as imagens hilariantes. A explicação? Um quadro com o retrato do próprio presidente.
O auto-retrato de Marcelo no escritório
Depois dos inúmeros comentários, a equipa da RTP, responsável pela montagem e organização dos equipamentos em casa do presidente para o debate a sete, terá desfocado a imagem para que o quadro não fosse percetível de forma clara aos espectadores.
Estava feito o primeiro momento do debate que, regra geral, de debate (e de interrupções) teve pouco. O primeiro ataque a Marcelo veio por parte de Ana Gomes que, quando questionada sobre a hipótese do adiamento das eleições devido à evolução negativa da pandemia em Portugal, pediu que "isso fosse ponderado pela Assembleia da República e pelo presidente da República", os órgãos com competências democráticas para o fazer
"Não desejo o adiamento. Disse é que devia ser ponderado, porque quando há vontade política, há sempre soluções. Mas aqui estou para fazer campanha e para mostrar as diferenças face aos outros candidatos”, por considerar que fazer campanha é "valorizar" o ato eleitoral e não assumi.a como uma "coroação". João Ferreira, demarcando-se de Ana Gomes, diz ser "uma evidência" que as eleições vão mesmo acontecer.
Marcelo Rebelo de Sousa ouviu e preparava-se para começar a contar os ataques. André Ventura. que falara antes de Ana Gomes, responsabilizava o governo por não ter preparado de forma devida estas eleições. "Ouvimos o ministro da Administração Interna com uma trapalhada total."
Quando chegou a vez do presidente falar, foi assertivo. A partir de casa e de máscara posta, diz ter ouvido os partidos sobre a renovação do estado de emergência e que, durante todo esse processo, nunca nenhuma das forças políticas defendeu a possibilidade de adiar as eleições. "Chego à conclusão de que não há condições para a Assembleia da República avançar para uma revisão [da Constituição] que permitisse o adiamento". Aproveitando o tempo que tinha, pediu o voto em "qualquer um dos candidatos" como forma de travar a abstenção que se prevê alta.
A tosse entre intervenções
Antes dos ataques, um novo momento no debate que, embora nada tenha que ver com política ou com as eleições, gerou comentários, memes e piadas no Twitter. Enquanto os candidatos tomavam a palavra para falar, havia alguém que tossia durante o debate e que, atendendo ao recente resultado positivo para a COVID-19 de Marcelo Rebelo de Sousa, levantou suspeitas junto dos internautas.
O momento da tosse repetiu-se por diversas vezes ao longo do debate e foram vários os que, sempre que isso acontecia, transportavam o momento para o Twitter.
Na questão da Saúde, Marcelo Rebelo de Sousa preparou-se para um novo ataque de seis contra um quando Ana Gomes o criticou por ter feito "pressão" a favor dos privados, chamando-os a Belém, enquanto Marta Temido, ministra da Saúde, negociava com o setor durante o primeiro pico da pandemia. André Ventura acusou o presidente de "preconceito ideológico" ao não ter vetado a Lei de Bases da Saúde proposta pela esquerda. "É uma vergonha termos três mil pessoas em listas de espera em alguns distritos. Estamos a falar de preconceitos ideológicos".
Vitorino Silva foi rápido e assertivo no que toca ao tema: "Se estivesse a morrer, não iria escolher ser tratado por um medico do público ou do privado. Queria era ser salvo porque a vida não tem preço. Prefiro ser tratado no público, mas se não tivesse vaga onde está o meu povo, queria ser tratado." Ventura colou-se à posição de Vitorino, concordando com "exatamente".
Marcelo criticado por tudo e o seu contrário
Do lado de Marisa Matias, a parceria entre "governo e Marcelo Rebelo de Sousa criou bloqueios" que poderão ter prejudicado o combate à pandemia. Do lado da direita representada por André Ventura e da ala liberal de Tiago Mayan Gonçalves, as críticas foram no sentido oposto: ambos defendem que o presidente foi conivente com o governo, com Mayan Gonçalves a argumentar que "entre Marcelo e Costa, já não se sabe onde começa um e acaba o outro". Vitorino concordou, dizendo que António Costa e Rebelo de Sousa "embalaram-se um no outro".
Durante toda a noite, Marcelo foi criticado por tudo e o seu contrário. Em resposta, devolveu as críticas: "Uns e outros queriam um presidente mais alinhado à direita e outros à esquerda. O papel do presidente é ser um fator de união e de estabilidade", argumentando que "ninguém saiu defraudado".
"O sistema, para não ficar coxo, precisa de uma direita forte e de uma esquerda forte”, reforçou a argumentação de que um presidente não é de fação, mas de união. Depois de acusações, como a de Mayan que diz que se o presidente for reeleito, Portugal tornar-se-á "no País mais pobre da Europa", Ana Gomes criticou-o por nunca ter falado da problemática das alterações climáticas ou da evasão fiscal.
"Não podemos continuar a viver de costas voltadas para a natureza”, diz. Sobre outra "matéria da qual o presidente nunca falou", aborda "o desvio do dinheiro para as offshores", concretizando que a evasão fiscal é "um problema que não pode continuar".
Em resposta a todas as críticas vindas da esquerda e da direita, Marcelo Rebelo de Sousa responde dizendo que não se pode "acreditar numa bazuca milagrosa que vem aí, mas fazer tudo para que tudo o que é financiamento europeu possa vir mais cedo do que tarde e de uma forma consistente e não às pinguinhas, nem de forma esporádica."
O seu sonho, caso seja reeleito, é que "os portugueses gostem ainda mais de Portugal e de serem portugueses". É esse, continua, "o sonho de um presidente da República”.