A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) realizou um inquérito sobre o assédio sexual no local de trabalho em Portugal e os números surpreendem: quase duas em cada dez pessoas (18% dos inquiridos) admitiram que já foram vítimas de pelo menos uma situação de assédio sexual. Este número não só é indicativo de que acontece frequentemente, como que a população portuguesa está alerta para a problemática.
"Existe uma elevada consciência relativamente às situações consideradas como assédio sexual. Mais de 80% dos inquiridos identifica a quase totalidade das situações expostas como assédio sexual, sendo muitas delas identificadas como assédio sexual muito grave", pode ler-se numa das conclusões do Barómetro APAV/Intercampus intitulado “Perceção da População sobre assédio sexual no local de trabalho”.
No total formam inquiridas 824 pessoas entre 9 e 23 de dezembro de 2021 e, das que responderam que já tinham sido assediadas sexualmente no trabalho, 88% são mulheres, sobretudo com idades entre os 18 e os 54 anos (80%).
Os principais ataques relatados partiram de um superior hierárquico (54,7%), sendo que o assédio de colegas também representa uma fatia relevante no estudo (45,3%). Quanto à forma de assédio, os olhares insinuantes foram os que mais ocorreram (63,5%) e sempre acima dos 50% encontram-se "perguntas intrusivas e ofensivas acerca da minha vida", "convites para encontros indesejados" e "contactos físicos não desejados (tocar, mexer, agarrar...)", por ordem decrescente do número de casos.
Apesar de o inquérito revelar que a população portuguesa está consciente do que é e quando ocorre uma situação de assédio, 73% das pessoas questionadas disseram que não apresentaram queixa.
Umas por não terem provas (46,3%), outras por vergonha (36,1%) e há também quem não o tenha feito por receio de que a situação fosse desvalorizada (34,3%). Por outro lado, quem apresentou queixa (27%) fê-lo maioritariamente junto da entidade patronal (55%) e, independentemente da via, há um outro dado animador: 62,5% ficou satisfeito com a resolução.
O que pode estar a falhar para o baixo número de queixas apresentadas? O facto de haver pouco conhecimento sobre os direitos. "Os inquiridos assumem não ter conhecimento do enquadramento jurídico sobre o assédio sexual no local de trabalho", diz a conclusão do estudo.