Terão sido 15 mil os cancros que ficaram por diagnosticar a partir do momento em que o surto da COVID-19 chegou a Portugal.
A estimativa é da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que diz que a pandemia obrigou a uma profunda reorganização nos centros de saúde. Isso mesmo, garantem, tem um efeito negativo nos utentes que queiram marcar uma consulta.

É que desde que o novo coronavírus chegou a Portugal e se manteve ativo na comunidade, os utentes que precisassem de uma consulta eram obrigados a marcá-la antes de se deslocarem às suas unidades de saúde. Isto levanta alguns problemas: é que durante a tentativa de chamada, o assistente responsável por dar resposta e seguimento pode estar em linha com outro utente. Só que isso não é claro, uma vez que o sinal que se ouve do outro lado da linha não é o de chamada interrompida ou o de linha ocupada, mas sim o de uma chamada persistente que simplesmente não tem resposta. A ideia com que um utente fica é que não há ninguém para o atender e, por isso mesmo, acaba por desistir.

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Mas os problemas não se ficam por aqui. É que muitos dos utentes não têm conta de e-mail, nem sabem, sequer, como funciona essa modalidade de comunicação. Isso, aliado ao facto de muitos dos centros de saúde espalhados pelo País não disponibilizarem centrais telefónicas, resulta em centenas de chamadas diárias que ficam sem resposta.

Essas barreiras, que se materializam em atrasos nos contactos com os utentes, trazem um problema maior que consiste na falta de diagnósticos. Alguns deles de doenças graves, como os cancros. Em Portugal, são diagnosticados cerca de 50 mil cancros por ano.

Mas num contexto de encerramento das unidades ou de uma profunda limitação dos serviços, como aconteceu durante o estado de emergência em Portugal, isso significa que os cinco mil casos por mês se traduzem em 15 mil que, diz a Associação Portuguesa de Medicina Geral, não foram diagnosticados e acompanhados.