"É óbvio que temos 50 por cento do ADN do pai. Herdamos genes de ambos os lados, por isso, a história clínica familiar materna e paterna têm o mesmo peso." No entanto, a verdade é que a genética tem um papel menos importante na altura de verificar o risco de desenvolver cancro da mama. Quem o diz é Kristi Funk, uma das maiores cirurgiãs americanas de cancro da mama, perita em diagnósticos e métodos de tratamento minimamente invasivos, no seu novo livro intitulado "Mama: Manual de Instruções".

No novo livro, lançado esta quinta-feira, 10 de outubro, a autora reúne um conjunto de mitos e factos sobre o cancro da mama. Além de desconstruir a ideia de que o consumo de café possa estar associado à doença, desmistifica ainda a questão do uso do sutiã como nocivo para a saúde do peito.

A propósito do Dia Mundial da Saúde da Mama, que se celebra esta terça-feira, 15 de outubro, a MAGG publica um excerto do capítulo chamado "Desmascarar os Mitos do Cancro da Mama".

Editado pela Lua de Papel, “Mama: Manual de Instruções" conta com 480 páginas e custa 17,90€.

O que fazer para reduzir o risco de cancro da mama

"Neste livro, vou falar extensivamente sobre como comer, beber, fazer exercício e comportar‐se, por forma a otimizar a saúde dos seus seios e a reduzir o seu risco de cancro. Tudo sustentado por pesquisa credível e excitante. Mas, por mais informação útil que haja por aí, persistem ainda demasiados mitos que nos confundem e distraem daquilo que precisamos de saber. Não lhe sei dizer com que frequência as pacientes me chegam paralisadas com medo, porque leram ou ouviram dizer que algo que fizeram no passado – ou fazem agora – lhes vai arruinar a saúde. São mitos genéticos, mitos relacionados com hormonas, mitos sobre alimentação, mitos sobre o ambiente. Podia passar um dia inteiro a jogar voleibol com todas as ideias falsas que andam por aí: preparar, servir, repetir.

Eu sei, não devia andar com o meu telemóvel no bolso da camisa... O meu nutricionista disse para comer bife de vaca alimentada a erva. Isso reduz o cancro, certo? Os medicamentos da minha fertilização in vitro é que me provocaram este caroço no peito?

Oh, minhas senhoras. Vamos abandonar a ansiedade e a desinformação em que acabaram, sem querer, por confiar, e começar a implementar as mudanças significativas que a ciência mostra que as vão ajudar a viver durante mais tempo uma vida mais vibrante. É altura de desmascarar os mitos mais comuns sobre os seios, que as têm feito suar e mantido os vossos telemóveis a três metros da armação dos vossos sutiãs.

A genética só é responsável em 10% dos casos

Tal como referi, a genética tem um papel menos importante do que provavelmente pensa. Tenha em consideração este facto: a gémea idêntica de uma mulher com cancro da mama só tem 20 por cento de probabilidade de um dia ter cancro da mama. O que, já agora, é o mesmo risco de qualquer mulher com uma irmã afetada.1 Uma vez que estas gémeas partilham o mesmo ADN, se a genética fosse a responsável por tudo no cancro, o risco seria próximo dos 100 por cento, mas não é, porque os genes não são a causa de tudo, como muita gente pensa.

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Paciente atrás de paciente diz ‐me que não tem cancro da mama na família, por isso, não está em risco. No entanto, 87 por cento das mulheres diagnosticadas com cancro da mama não tem um único familiar em primeiro grau com cancro da mama. Na realidade, apenas 5 a 10 por cento dos cancros da mama são hereditários, o que significa que ocorrem porque mutações anormais dos genes passam dos pais para os filhos.

Claro que uma parte muito importante da avaliação de risco inclui a análise genética e a história clínica familiar, e eu encorajo todas as mulheres a usar o teste grátis no nosso site para verem se deveriam fazer mais testes. Mas se só se pode culpar o ADN dos pais em 10 por cento dos casos, então, os fatores externos à herança genética causam o cancro da mama 90 por cento das vezes. Um dos principais objetivos deste livro é ensinar-lhe a fazer proativamente escolhas diárias que reduzam o risco não genético de cancro. Para quê esperar de forma passiva por um diagnóstico de cancro quando se pode envolver ativamente na sua detenção?

As pacientes também acham que a história clínica familiar de cancro da mama do lado da mãe é muito mais importante do que do do pai. É óbvio que temos 50 por cento do ADN do pai. Herdamos genes de ambos os lados, por isso, a história clínica familiar materna e paterna têm o mesmo peso.

Até os médicos se enganam sobre isto. Portanto, quando avaliar o seu risco familiar não preste apenas atenção à linhagem materna. Verifique os familiares de primeiro, segundo e terceiro grau de ambos os lados: pais, irmãos e até os seus filhos; avós, tios, sobrinhos, e os seus próprios netos; bisavós, tios‐avós, primos e sobrinhos em segundo grau, e os seus próprios bis‐ netos. Quando analisar o lado paterno, procure cancros mamários e de ovários escondidos entre as mulheres de gerações mais distantes. Sobretudo quando a árvore genealógica tem falta de mulheres, preste mais atenção aos cancros associados a mutações que surgem com mais frequência nos homens do que ao cancro da mama, como os cancros precoces do cólon, da próstata e do pâncreas.

A taxa de mortalidade é maior nos homens

Por falar nos rapazes, a maioria acha que não pode ter cancro da mama, mas, uma vez que têm tecido mamário, também são suscetíveis. O cancro da mama masculino representa cerca de 0,8 por cento de todos os casos de cancro da mama, ou seja, cerca de 2470 homens por ano. Nos homens norte‐americanos, o risco de cancro da mama ronda os 1,3 em cada 100 mil. É interessante, porque, para o mesmo estadiamento, os homens sobrevivem ao cancro da mama na mesma taxa que as mulheres, no entanto, devido a uma falta de sensibilização para a possibilidade de terem cancro da mama, o seu diagnóstico chega geralmente em fase mais avançada, o que aumenta as taxas gerais de mortalidade.

Outro mito falso sobre o cancro da mama está relacionado com a idade: que só acontece a pessoas mais velhas. Embora seja obviamente menos comum antes da menopausa do que depois, o cancro da mama não discrimina quando se trata de idade.

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Nos Estados Unidos, 19,7 por cento de todos os cancros da mama e 11 por cento de todas as mortes causadas por cancro da mama ocorrem em mulheres com menos de 50 anos (em 48 080 diagnósticos de cancro da mama invasivo, 14 050 são diagnósticos de cancro confinado ao peito que provocam a morte de 4470 mulheres com menos de 50 anos).

Na realidade, a idade mediana do cancro da mama nos Estados Unidos é de 62 anos, o que significa que exatamente 50 por cento dos cancros da mama são diagnosticados antes dos 62 anos e que os outros 50 por cento são diagnosticados com 62 anos ou mais. Independentemente da sua idade, as células cancerígenas diminuem perante uma vida saudável, portanto, podemos empregar as estratégias anticancro deste livro ao longo de todas as décadas da vida.

Por fim, a afirmação de que todas as mulheres têm 1 em 8 probabilidades de desenvolver cancro da mama é uma das estatísticas mais usadas por aí. Embora esteja correta, a bem da verdade, não andamos todos os dias da nossa vida com a probabilidade de 1 para 8 de ter cancro da mama!

O risco aumenta com a idade. A probabilidade de uma mulher ser diagnosticada com cancro da mama aos vinte e tal anos é de 1 para 1567 (não de 1 para 8); aos 30 anos é de 1 para 220; aos 40 anos é de 1 para 68; aos 50 anos é de 1 para 43; aos 60 anos é de 1 para 29; aos 70 anos é de 1 para 25; e atinge finalmente a quota de 1 para 8, como um risco cumulativo ao logo da vida, quando chega os 80. Conhece aquelas imagens com uma linha de oito ícones “femininos”, como os que se veem nas portas das casas de banho? Elas têm uma legenda que diz: “Uma em cada oito mulheres vai desenvolver cancro da mama durante a sua vida.” Os ícones não deviam ser triângulos com ar jovem. São precisas umas bengalas e umas cadeiras de rodas ali para refletir de forma mais rigorosa que o risco se relaciona com a idade.

A alimentação é muito importante — e dizer o contrário é cometer um erro grave

Francamente, uma das mais perigosas falsidades que andam a circular é que a alimentação não tem impacto na saúde do peito, o que é completamente descabido e errado. Aquilo que coloca no seu corpo influencia os níveis de estrogénio, a inflamação, a formação dos vasos sanguíneos, o funcionamento celular e os destrutivos radicais livres, para referir apenas alguns processos relacionados com o cancro.

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Além disso, a principal mutação genética dentro de uma célula de cancro interage com centenas de outros genes, ligando‐os ou desligando‐os de acordo com os instintos de sobrevivência do cancro. O crescimento do cancro não é o trabalho de um único gene.

É o resultado de uma rede de genes. Um estudo em homens com cancro da próstata pro‐ vou que a utilização apenas da alimentação e de um estilo de vida saudável reduziu as interligações entre 453 genes maus e aumentou as de 48 genes bons. Sim, sim, a alimentação é importante, pode apostar a sua vida nisso. Dedico os próximos dois capítulos a alimentos que trabalham para a melhoria da saúde dos seios ou que a destroem, mas surgem tantas vezes regras alimentares falsas, que gostaria de aproveitar para as rebater.

Não existe relação entre o consumo de café e o aumento do risco de cancro da mama

Primeiro, beba um café para acordar. Muitas mulheres que conheço acreditam que o café causa cancro da mama, mas não existe relação nenhuma entre uma sagrada chávena de café e o cancro da mama. Na realidade, há cada vez mais evidência científica que sugere que o café pode mesmo ter um efeito preventivo. Dito isto, a cafeína do café nem sempre é boa para os seus seios, porque pode aumentar a dor e os quistos, sobretudo em jovens com alterações fibroquísticas da mama, mas isso não é cancro. Portanto, se o peito não lhe dói, não faz mal gostar do seu latte.

Por falar em latte, a ideia de que os laticínios causam cancro da mama não está provada. As evidências de mais de 40 estudos do tipo caso‐controlo e de 12 estudos de coorte não sustentam qualquer relação entre o consumo de laticínios e o risco de cancro da mama.

Parece intuitivo dizer que a presença de hormonas, de gordura, de antibióticos e de contaminantes químicos nos laticínios pode levar a uma proliferação de células cancerígenas, sobretudo nas células do cancro da mama, que são sensíveis às hormonas, mas a evidência científica contradiz a nossa intuição. Portanto, os laticínios são uma das principais fontes de gordura saturada e deve estar consciente de como a gordura influencia os seus riscos, o que discutimos no capítulo.

À primeira vista, a evidência científica parece indicar que não existe uma relação causal entre o consumo de carne vermelha, de carne branca, de todas as carnes ou de peixe e o cancro da mama. Travões a fundo e vamos lá parar! Minhas senhoras, foi preciso escrever este livro para viver dentro de centenas de estudos confusos e contraditórios sobre a carne e, finalmente, perceber tudo. A carne é tão tóxica, que mesmo o consumo mais ligeiro anula uma diferença mensurável entre “grandes” e “pequenos” consumidores de carne.

Apenas quando se compara a ausência de consumo de carne com qualquer consumo é que é possível chegar a alguma conclusão. Minimize a carne. Voltamos a encontrar‐nos no capítulo 4 para saber porquê.

O corpo regula o pH do sangue — independentemente daquilo que coma

Por fim, oiço muitas das minhas pacientes mais bem informadas dizerem que os alimentos ácidos alteram o equilíbrio do pH do corpo a um nível que pode causar cancro da mama. Só que há um problema: o corpo regula com rigor o pH do sangue para estar entre 7,35 e 7,45, independentemente daquilo que coma, e mesmo pequenas alterações a este intervalo causariam sintomas graves e doenças potencialmente fatais.

De acordo com o American Institute for Cancer Research, este mito entra em conflito com tudo o que a ciência ensina sobre a química do corpo humano.

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Não há muita margem de manobra, já que o pH abaixo dos 6,8 e acima dos 7,8 equivale a morte certa. E não se deixe enganar por kits de teste para avaliar a acidez do seu corpo através da urina. Se analisar o pH da sua urina e não for um 7,35 perfeito, isso é porque o seu corpo está constantemente a afinar o excesso de ácido ou de alcalinidade para manter um equilíbrio adequado de pH e fá‐lo ao excretar o excesso através da urina.

Dito isto, é verdade que as células de cancro florescem em microambientes ácidos. No entanto, é o próprio cancro que cria o ácido em que se banha, logo, consumir alimentos com baixo pH não cria um lugar feliz para o cancro. O cancro não precisa de si para fazer isso.

Até porque os sucos do estômago são ácido puro, com um pH de 1,5 a 3,5. A sua água alcalina escorrega pelo esófago e mergulha num banho de ácido, portanto, não altera o pH do seu corpo e não neutraliza o pequeno mundo acídico de uma célula cancerígena. Diria que os alimentos (frutos secos e vegetais) que consome num esforço (fútil) para tornar o seu pH mais alcalino, na realidade, dão um murro forte nas células do cancro através dos elevados níveis de antioxidantes, controlo de danos no ADN e apoio ao sistema imunitário, mas não é por o deixarem mais alcalino.

O uso de sutiã não provoca cancro

Vamos mergulhar nas alterações de estilo de vida mais importantes quando chegarmos ao capítulo 5, mas gostaria primeiro de clarificar certos mitos populares, para não pensar que me esqueci deles.

Vamos falar de sutiãs. Não provocam nem estimulam o cancro da mama, felizmente, porque precisamos do seu inabalável apoio. Sutiãs com armação, apertados, dormir de sutiã ou usar um sutiã mais de 12 horas por dia não tem qualquer relação com o risco. Oiço as afirmações e, no início, parecem tão plausíveis, que se pode pensar que baseiam em factos. Oiço com frequência duas escolas de pensamento.

Uma envolve afirmar que os sutiãs apertados comprimem o sistema linfático do seio, o que leva à acumulação de toxinas no próprio tecido mamário, alterando as células de forma prejudicial. Isto não tem qualquer base na anatomia ou na fisiologia do peito.

'Mama: Manual de Instruções' é editado pela Lua de Papel e custa 17,90€
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Tratamos o linfedema nos seios (um bloqueio dos fluidos linfáticos dentro do seio, que ocorre por vezes após a cirurgia de remoção do cancro e a radiação) com, entre outras estratégias, compressão dos seios.

A outra hipótese que parece inteligente propõe que a armação conduz campos eletromagnéticos do ambiente. Como vai ler daqui a nada, mesmo que esta teoria da antena fosse verdade, os campos eletromagnéticos não causam cancro da mama.

Um estudo de 2014 comparou os hábitos de utilização do sutiã, de mulheres após a menopausa, com e sem cancro da mama invasivo. Os investigadores descobriram que detalhes como o tamanho da copa, a presença de armação, a idade em que começaram a usar sutiã e a média de horas que o usavam não tinha relação com um risco aumentado de cancro da mama. Portanto, minhas senhoras, aquilo que acharem que é apropriado em termos de apoio do peito, eu apoio.

Os desodorizantes também não aumentam o risco de desenvolver cancro da mama

A seguir: antitranspirantes e desodorizantes. Pode oficialmente desacelerar a sua pesquisa de substitutos naturais, porque não existe nenhuma evidência científica que suporte a afirmação de que os antitranspirantes ou os desodorizantes causam cancro da mama devido à acumulação de toxinas ou à exposição ao alumínio ou aos parabenos.

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Só para relembrar que os antitranspirantes bloqueiam os poros com adstringentes como cloridrato de alumínio, para que não possam libertar o suor, evitando assim a acumulação de bactérias e o odor. Por outro lado, os desodorizantes não evitam que sue, antes neutralizam o cheiro das bactérias em excesso, ao combinar fragrâncias que mascaram o odor com propilenoglicol, que cria um ambiente em que as bactérias não se conseguem desenvolver.

Uma teoria que relaciona isto com o cancro afirma que os compostos de alumínio que tapam os poros, quando absorvidos perto do peito, contêm atividade semelhante ao estrogénio.

Como veremos mais tarde, os estrogénios alimentam a maioria das células do cancro da mama. Portanto, a presença de com‐ postos que se comportam como o estrogénio pode aumentar a divisão das células cancerígenas. Um segundo estudo sugere que o próprio alumínio afeta diretamente, de forma negativa, as células do tecido mamário. Mas uma revisão sistemática, de 2014, da literatura sobre estes dois potenciais riscos que o alumínio representa para a saúde, concluiu que essa relação não existe.

Talvez não seja o alumínio? Uma publicação encontrou vestígios de um conservante chamado parabeno dentro de uma pequena amostra de 20 tumores da mama. Enquanto “disruptores endócrinos”, os parabenos demonstram fracas propriedades semelhantes ao estrogénio, mas o estudo em questão não estabeleceu qualquer relação de causa ‐efeito entre os parabenos e o cancro da mama, nem sequer identificou de forma conclusiva como é que ali foram parar.

A ideia de que o antitranspirante acumula toxinas nos ganglios linfáticos não passa de um rumor

Os parabenos têm até sido encontrados dentro de tumores quando as mulheres não usam qualquer tipo de produto nas axilas.20 Além disso, a dose de parabenos necessária para iniciar uma mutação num seio humano seria muito mais elevada do que a absorvida através da aplicação de um roll‐on ou de um spray. Junta ‐se a isto o facto de a maioria das marcas já não usar parabenos, mas se ainda está preocupada com isto, escolha um produto que diga especificamente “sem parabenos” na embalagem.

Outro rumor amplamente divulgado é que o antitranspirante a impede de suar as suas toxinas, que se podem acumular nos gânglios linfáticos e causar cancro da mama. Para retirar conclusões que lhe eliminem o suor de preocupação da testa (e das axilas), precisamos de estudos epidemiológicos que comparem dois grupos de pessoas semelhantes, à exceção do fator do desodorizante. Felizmente, temos alguns.

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Em 2002, investigadores do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, realizaram um estudo epidemiológico para avaliar a questão do suor e de outras teorias sobre a toxicidade relacionada com os antitranspirantes. Compararam 1600 mulheres, com e sem cancro da mama, e não descobriram relação alguma entre o cancro da mama e os antitranspirantes, com ou sem depilação. Um estudo iraquiano semelhante, mas mais pequeno, de 104 mulheres com e sem cancro da mama, também não encontrou qualquer relação.

O único estudo epidemiológico com um ponto de vista diferente observou 437 sobreviventes de cancro da mama, da zona de Chicago, e dividiu-as de acordo com os seus hábitos relacionados com os sovacos. O autor descobriu que as mulheres que usavam antitranspirante/desodorizante desde mais cedo na vida, com maior frequência e com depilação das axilas tinham estatisticamente maior probabilidade de desenvolver cancro da mama mais cedo.

Ele teorizou que os sais de alumínio encontrados nestes produtos entravam no sistema linfático através de cortes causados pela depilação. No entanto, este estudo não demonstrou uma relação conclusiva entre os hábitos de higiene dos sovacos e o cancro da mama. Além disso, existia um grande senão no estudo: a omissão de um grupo de controlo de mulheres sem cancro da mama. Os estudos mais credíveis têm sempre um grupo de controlo.

Mais uma coisa: as raparigas que usam desodorizante e se depilam mais cedo do que as outras provavelmente atingiram a puberdade mais cedo. Há provas fortes de que quanto mais cedo o período começa (menarca), mais alto é o risco de cancro da mama.

E os desfrisantes, têm impacto?

Já que estamos a falar de químicos, vamos avançar para os desfrisantes de cabelo, em particular aqueles que se teme que causem cancro nas mulheres afro ‐americanas. Não há dúvidas: os compostos que causam cancro são abundantes nos produtos de cabelo, mas, felizmente para as afro‐americanas com cabelo liso e sedoso, os desfrisantes não têm uma relação com o cancro.

Os desfrisantes e os alisantes, sob a forma de loções ou cremes, alisam quimicamente o cabelo encaracolado ao alterar a estrutura interna do cabelo. Os ingredientes do produto podem entrar no corpo através de queimaduras ou feridas no couro cabeludo.

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Uma vez que milhões de afro‐americanas usam desfrisantes para reduzir os caracóis – um estudo descobriu que 94 por cento das afro‐americanas inquiridas, com menos de 45 anos, utilizaram‐nos em alguma altura da sua vida –, estes produtos ficaram sujeitos a um enorme escrutínio, sobretudo no que diz respeito a poderem ou não estar relacionados com a causa do cancro da mama.

Financiados pelo National Cancer Institute, os investigadores acompanharam mais de 48 mil mulheres afro ‐americanas durante seis anos no estudo Black Women’s Health. Foram avaliados vários parâmetros que diziam respeito à saúde e aos hábitos.

As participantes incluíam mulheres que tinham usado alisantes sete ou mais vezes por ano durante 20 ou mais anos. Quando foram analisados 574 novos casos de cancro da mama, que ocorreram durante o estudo, os investigadores não encontraram associação nenhuma entre risco de cancro da mama e duração do uso de desfrisantes, frequência do uso, idade de início de utilização, número de queimaduras sentidas durante a utilização ou tipo de desfrisante usado.

Evite produtos com estrogénio

Talvez aquilo em que nos devêssemos estar a focar não fosse os alisantes em específico, mas o facto de haver numerosos e potencialmente cumulativos riscos para a saúde escondidos nos nossos produtos de cuidado pessoal – sobretudo nas comunidades afro‐americanas.

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Em específico, nos produtos de cabelo, incluindo champôs, amaciadores, óleos, tintas, desfrisantes e estimulantes de raiz, que contêm estrogénios e extratos de placenta, que podem imitar o estrogénio no nosso corpo de tal forma, que o uso destes produtos muito cedo na vida tem sido considerado um importante contributo para o porquê de a proporção de raparigas de 8 anos que têm puberdade precoce ser quase quatro vezes superior nas afro‐americanas do que que na comunidade branca (48,3 por cento e 14,7 por cento, respetivamente).

Verifique os rótulos dos produtos de cabelo e evite usar os que contêm estrogénio, outras hormonas e placenta, em particular em crianças pequenas ou em grávidas."