Sara Rodrigues, influenciadora digital, tem 31 anos e descobriu um cancro na mama a 14 de abril de 2022. Na passada terça-feira, 7 de junho, decidiu partilhar um pouco da sua história no Instagram. "Com muito soco no estômago, medo e a incerteza do futuro", partilha a jovem na publicação, que é também ex-namorada do jogador de futebol André Silva.
A influenciadora e engenheira química descreve que o processo passou por consultas, exames e principalmente por uma fase de aceitação. Explica ainda que não se entregou à doença, mas que precisa de "abraçar esta nova fase" da sua vida, com "determinação, resiliência e força".
Além disso, assume o longo caminho que terá de percorrer, com o apoio e carinho "da família, namorado e amigos/as que desde o primeiro dia têm sido incansáveis". No dia seguinte à partilha, 8 de junho, começou o tratamento de quimioterapia no IPO de Lisboa.
O cancro da mama é uma doença essencialmente pós-menopáusica, mas o diagnóstico também surge mais cedo. Cerca de 7% de todos os diagnósticos de cancro na mama correspondem a mulheres jovens, com idades inferiores a 40 anos.
"Nem todas as alterações são malignas", mas há que ter atenção aos sinais de alarme
O médico oncologista Daniel Romeira, do Serviço de Sáude da Região Autónoma da Madeira, explica à MAGG que o autoexame da mama, conhecido como a palpação, deve ser feito “duas a três vezes para tentar perceber se está tudo tranquilo”.
Mas sublinha a importância de compreender que “nem todas as alterações são malignas”, como por exemplo no tempo da menstruação, onde as características da mama são diferentes.
O médico enumera alguns sinais de alarme como “uma inversão do mamilo, alteração da cor da pele, uma inflamação ou um nódulo”, explicando que qualquer situação que proporciona desconforto deve ser logo consultada e avaliada por um médico. Algumas mulheres também chegam a sentir algo na axila, mama, mamilos ou até o corrimento mamário.
As mamografias apenas são aconselhadas a partir dos 50 anos. Daniel Romeira explica que “a mamografia não é uma coisa inócua".
"Além do desconforto que provoca à doente, há a questão da radiação”. Salienta ainda que quando a mulher começa a fazer o exame muito cedo, acaba por ter uma exposição à radiação muito grande, onde “o risco-benefício acaba por ser baixo”, argumenta o médico.
“A velha questão de quanto mais velho, mais agressivo o cancro, é um mito”, salienta o médico oncologista. A agressividade da doença depende do subtipo do cancro e das características do tumor. "Existem pessoas muito idosas com tumores menos agressivos e jovens com tumores mais agressivos, não está relacionado com a idade."
No caso de mulheres com histórico familiar, deve existir um rastreio mais recorrente, quase anual, desde os 18 anos. Contudo, o oncologista diz que isso acontece “num mundo ideal, porque em Portugal é um bocadinho diferente”. As falhas passam pela falta de oportunidade de serem realizados rastreios a toda a gente, pois “nem todos os hospitais acabam por ter essa consulta bem definida”.
Em Lisboa, o centro de referência é o Instituto Português de Oncologia (IPO), com "tempos de espera muito grandes", e o Hospital Santa Maria, que tem uma "consulta de genética familiar um bocadinho mais rápida", comenta Daniel Romeira. No Norte, há o IPO do Porto. O oncologista salienta que “para as pessoas fora destes centros, acaba por ser um bocadinho mais difícil (um acesso a consultas)”.
Numa auditoria divulgada esta quinta-feira, 9 de junho, o Tribunal de Contas fez uma avaliação da dificuldade acrescida no acesso a cirurgias oncológicas, entre 2017 e 2020, assinalando a as “assimetrias geográficas significativas”, explica a Agência Lusa, citada pela “TSF”.
A pandemia também afetou grandes questões de oncologia em Portugal. Entre 2020 e 2021 existiram menos consultas, exames diagnósticos e rastreios, o que resultou em chegadas a consultas com cancros mais avançados. Vítor Rodrigues, antigo presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, diz que as dificuldades que existiram durante a pandemia no acesso a rastreios oncológicos vão ter resultados na mortalidade dentro de três, quatro ou cinco anos, garantiu à “Rádio Renascença”.