Morno e sem estridências, mas com metáforas com pedras e muros. Foi assim o debate para as presidenciais entre Vitorino Silva, popularmente conhecido como Tino de Rans e fundador do RIR – Reagir, Incluir, Reciclar, e André Ventura, líder do Chega. Apesar dos analistas políticos concordarem que ninguém saiu insatisfeito do debate — Vitorino teve a exposição que desejava, Ventura espaço para abordar os seus temas de eleição sem grande contraditório —, foi Tino o protagonista dos momentos mais impactantes.

Eleições presidenciais. Tudo o que precisa de saber (e levar) antes de ir votar
Eleições presidenciais. Tudo o que precisa de saber (e levar) antes de ir votar
Ver artigo

Vitorino Silva mostrou as várias pedras que tinha recolhido na praia. Disse ter visto pedras de todas as cores e trouxe para o estúdio algumas laranjas, rosa, brancas e pretas, trazidas pelo mar. "Mas o mar não traz só pedras, também traz pessoas, e traz pessoas de todas as cores. E há muita gente que vem por esse mar à procura de um terreno firme. Mas, às vezes, criam muros", disse o candidato, numa clara crítica ao programa do Chega. Mas Ventura sorriu, aceitou as pedras e agradeceu o gesto.

Houve também tempo para André Ventura falar das suas inspirações em Marine Le Pen e Matteo Salvini, criticar Marcelo Rebelo de Sousa, considerando-o "completamente desacreditado à direita", e ainda Francisca Van Dunen, salientando acreditar que a ministra da Justiça "não tem condições para continuar no governo".

O líder do Chega reforçou também que sem o Chega e o PSD "não haverá maiorias de direita em Portugal" e assumiu uma amizade com Pedro Passos Coelho. "É meu amigo", disse Ventura sobre o antigo líder do PSD, que apoiou a sua candidatura a Loures. No entanto, recusou-se a comentar se seria mais fácil uma eventual coligação com Passos à frente dos sociais-democratas, ao invés de Rui Rio.

O mais próximo de um embate neste debate aconteceu quando André Ventura abordou o tema dos ciganos, sugerindo que estes vivem à margem da sociedade e com recurso aos subsídios entregues pelo Estado, como o rendimento social de integração. Vitorino Silva retorquiu que a culpa não era dos ciganos, mas sim da fiscalização do Estado. "Os ciganos não são burros, são pessoas. Não gosto de etnias, mas de pessoas", disse o candidato do RIR. Ventura insistiu com números, salientando que apenas 18% dos ciganos vive do seu trabalho. Vitorino recordou que ainda existe um grande estigma sobre esta comunidade, mas o líder do Chega não desarmou. "Um estigma que 'eles' ajudam a criar".

Também houve tempo para Vitorino Silva recordar que teve mais votos nas presidenciais de 2016 do que o Chega e a Iniciativa Liberal nas legislativas de 2019 — 152.094 votos —, e classificar-se como o "representante do povo anónimo que não tem vez nem voz". No final, André Ventura afirmou que Vitorino Silva "tem mais qualidade" como adversário, numa referência ao embate com o candidato João Ferreira, do PCP. "Foi um debate porreiro", concluiu Vitorino Silva.