Em 2015, Mónica Vale de Gato apostou no universo das redes sociais, depois de um ex-namorado a acusar de recorrer ao humor porque "queria atenção". Em 2022, está prestes a protagonizar uma digressão de norte a sul do País, com um espetáculo de stand-up comedy a solo, cuja primeira data para Lisboa esgotou em menos de 5 horas.

Mas, afinal, quem é a comediante que esgotou três datas em Lisboa em menos de uma semana e já conta com poucos bilhetes para as restantes? A MAGG foi à procura de respostas. E, para isso, nada melhor do que acompanhar a produção do cartaz do espetáculo de Mónica Vale de Gato, naquela que será a estreia da artista de Mem Martins nos grandes palcos nacionais.

Quando começou a atuar enquanto comediante, foram vários os comentários que ouviu acerca da roupa que usava: "estás demasiado bem vestida para fazer stand-up" foi talvez o principal. À data, sempre disse que se vestia como bem entendesse. Agora, prestes a correr o País a solo, aposta em brilhos e cores para a produção do cartaz do espetáculo "Demasiado". Isto porque, afinal de contas, o que é isto de ser demasiado? A resposta chega já a partir de 4 de março.

Mas, até lá, desvendamos os bastidores daquela que foi a produção do cartaz e de todos os profissionais que deram vida à ideia de Mónica Vale de Gato. Com o apoio da Redken, Lucinda Bernardino tratou dos penteados, Maria Ricou, da TopKnot, foi a artista por detrás da maquilhagem e o visual ficou por conta de Rita Prieto Alves. Tudo isto com o espaço Estoril Models como palco e captado pelas lentes da fotógrafa Rita Almeida e videógrafa Ana Gonçalves, da MAGG Agency.

Especialista em Marketing Digital, Mónica é de Mem Martins e tem a certeza de que a comédia faz parte da sua vida desde que nasceu. E apesar de já marcar presença nas redes sociais desde 2015, só em 2020 é que tomou a decisão de mudar para sempre aquela que era a sua realidade. Em plena pandemia, Mónica Vale de Gato despediu-se da agência de comunicação para a qual trabalhava e, diz, "a partir daí tudo mudou".

Mas calma: o que é que a carreira no marketing digital e a atual vida de influenciadora e comediante de Mónica Vale de Gato têm em comum? Aparentemente tudo. E até a entrada no meio da comunicação se revelou inusitada.

"Entrei neste mundo graças a um colega que teve uma depressão e meteu baixa"

"Sempre trabalhei na área da comunicação, comecei por fazer assessoria de imprensa e entrei neste mundo [do marketing digital] graças a um colega que teve uma depressão e meteu baixa. Ou seja, pediram-me para o substituir e a verdade é que eu gostei tanto e gostaram tanto de mim que acabei por ficar nessa área", explica Mónica Vale de Gato, que atualmente trabalha enquanto freelancer na área do Marketing Digital. Por escolha própria e para se libertar daquilo a que chama uma "cultura de trabalho tóxica".

"Parece que estamos sempre na rodinha de um hamster no nosso dia a dia, então quis mudar", conta a artista, que diz que a pandemia foi o empurrão de que precisava para refletir sobre o estilo de vida que levava há mais de oito anos.

"A questão de termos de trabalhar em casa fez-nos refletir sobre muita coisa. Principalmente o tal 'será que gosto do que faço?'. Sentia que acordava, passava o dia inteiro a trabalhar e depois ia para o sofá. Era só isto e apercebi-me do tempo que perdia no trabalho. E há stresses que não compensam. Nessa altura, para mim, era muito complicado desligar, até porque eu jantava e trabalhava no mesmo sítio", diz. "Então decidi começar a ter os meus próprios clientes internacionais e pensei: 'siga'".

"E a verdade é que, a partir daí, muita coisa mudou: a Mónica de hoje faz surf, tem aulas de kuduro, começou a pintar. Sinto que, neste momento, o trabalho é só um aspeto dentro de tantas outras coisas na minha vida, como é o humor, a dança ou o surf".

Atualmente, Mónica Vale de Gato continua a apostar no marketing digital, enquanto freelancer, mas divide-se entre a carreira de influenciadora digital e comediante. Ainda que, confessa, não encare o humor como um trabalho ou uma profissão. Até porque, garante, rir e fazer rir faz parte do ADN.

"Eu sei que é cliché, mas a comédia faz parte da minha vida desde sempre. Tenho muitas cassetes que mostram como, em pequenos, eu e os meus primos criávamos os nossos próprios programas de televisão. Já nessa altura eu fazia muito aqueles momentos de comédia que costumam aparecer a meio dos programas e até me lembro de que a minha referência era a Marina Mota", conta a artista de 30 anos.

"Até anúncios nós criávamos. O meu pai organizava imensas excursões e eu ia sempre ao microfone. Tinha uns 5 anos e já adorava meter-me com as pessoas e fazê-las rir. Sempre fui tão espontânea que, desde pequena, as pessoas gostavam de me ouvir falar. Até porque já sabiam que haveria de sair dali algum disparate e pensavam: ‘ai, esta miúda diz com cada coisa’ – e ainda hoje é assim", completa.

"Para mim, não é negócio. O meu espetáculo de stand-up é uma realização pessoal"

Mónica Vale de Gato apostou no universo digital, em 2015, contra a vontade de um ex-namorado que não apoiava a forma como brincava e recorria ao humor.

"Eu fui para as redes sociais, em 2015, porque já fazia vídeos e brincadeiras. O meu ex-namorado, na altura, dizia que eu queria chamar a atenção e eu pensei: ‘ai é? Agora, vou pôr as minhas coisas públicas e para toda a gente" – e a verdade é que as pessoas gostaram e comecei a ter seguidores", revela a artista de Mem-Martins, que já conta com quase 20 mil seguidores no Instagram.

"E eram vídeos simples, sei lá, eu no carro a fazer desabafos, sem edição, sobre a minha rotina trabalho/casa e casa/trabalho. E na altura nem tinha noção de que isso já era ser comediante. Mas acho que hoje ainda não olho para isto como uma carreira ou uma profissão. Olho para isto como uma coisa que gosto mesmo muito de fazer", completa.

"Para mim, não é negócio. O meu espetáculo de stand-up é uma realização pessoal", remata Mónica Vale de Gato. A artista conta que sempre apostou na comédia, neste caso, no YouTube, ainda antes de a plataforma ganhar a notoriedade que hoje tem, mas que, por vergonha, nunca apostou a sério no que realmente a faz feliz.

"Ainda antes de o Youtube ter o impacto que tem hoje em Portugal, já eu fazia vídeos para lá com amigas. Só que, na altura, as pessoas mais próximas, namorados e assim, torciam o nariz e, por vergonha, parámos. Nunca cheguei a apagar os vídeos, estão privados, mas tenho a certeza de que hoje seríamos uma referência. Porque éramos pioneiras", conta. "Então, desde aí, não deixei que mais nenhum comentário fosse um entrave a fazer aquilo de que gosto. E o solo também é uma afronta a comentários desse teor. É quase uma chapada de luva branca", diz. Sem spoilers, Mónica Vale de Gato revela aquilo que pode esperar do primeiro espetáculo, mas já lá vamos.

Ainda assim, em entrevista, Mónica recorda o arranque da sua carreira e garante que "nem sempre tudo correu às mil maravilhas".

"A primeira vez que pisei o palco enquanto profissional foi horrível. Os comediantes testam muitas vezes o texto até irem para um solo e, na altura, eu não tinha noção de nada, nem da postura que devia adotar. Não estava à vontade e o público percebe isso. Agora sei que tenho de ser como sou com os meus amigos. E só assim vou criar empatia".

À MAGG, Mónica Vale de Gato conta que o público não foi o único obstáculo à luta pelo "à vontade em palco". E o facto de a indústria do humor e do entretenimento ser maioritariamente masculina também não ajudou. Ainda assim, a artista garante que nunca a assustou.

"Sinto que o machismo de hoje é mais perigoso do que o machismo de antigamente"

"Não me assustou, mas às vezes é um bocadinho desconfortável. Não há um culpado, mas quando vais atuar e estás numa mesa com dez comediantes masculinos e és a única mulher, é estranho e chega a ser desconfortável. Sei que não devia ser, mas é. Acho que as mulheres já são levadas a sério, isso sim, mas, por algum motivo, há muitos cartazes sem uma única mulher ou com apenas uma, só para dizer que está lá", conta Mónica Vale de Gato.

"Sinto que o machismo de hoje é mais perigoso do que o machismo de antigamente. Isto porque, há uns anos, o machista sabia e dizia que era machista. Hoje, as pessoas chegam a ser machistas sem se aperceber sequer. Há muita gente que o é e nem tem noção disso, é perigoso. E isso faz com que seja mais difícil mudar mentalidades", remata.

"As pessoas caem muito facilmente no erro de achar que a mulher é que está a ser paranoica e que isto do movimento #MeToo, por exemplo, é demasiado radical e torcem o nariz. Portanto, há aqui muito trabalhinho de casa para fazer. E é isso que o meu solo representa e é por isso que se chama 'Demasiado'".

Mónica Vale de Gato
créditos: Rita Almeida / MAGG Agency

"Já cheguei a ouvir que estava demasiado bem vestida para fazer stand-up. Ouvi uma vez e, quando voltei a falar sobre isso com homens comediantes, ouvi novamente. Aliás, a primeira vez que ouvi comentários deste género até estava a atuar em Mem Martins. E a verdade é que não interessa onde estou a atuar, pode ser no Casino do Estoril ou em Mem Martins, se quero estar bem vestida, visto-me como quiser", conta. "Isto nunca me fez mudar, mas claro que chateia e faz-me pensar: então tenho de ser ‘one of the boys’ para fazer parte disto? E isso é chato".

Atualmente, Mónica já não pensa duas vezes antes de dizer que quer que o futuro profissional passe pelos palcos nacionais e por mais espetáculos ao vivo. No entanto, confessa que este primeiro espetáculo é, mais do que uma realização pessoal, uma forma de retribuir o feedback que tem vindo a receber. E, ainda, uma forma de provar o seu valor enquanto comediante, numa indústria que "não leva a sério quem só atua no digital".

"Decidi fazer stand-up, porque senti que o meio não considera comediante quem só faz humor para as redes. Parece que tens de fazer stand-up para seres realmente considerado comediante. Se estiveres só no digital, é do género: dizes umas piadas, mas não és comediante. E a verdade é que eu já amava teatro e já tinha feito vários espetáculos. E quanto mais atuava ao lado de outros comediantes, mais vezes ouvia: ‘Mónica, tu podes mesmo fazer uma coisa só tua’. E mesmo os meus seguidores diziam que gostavam muito de me ver só a mim e que muitas vezes tinham pena de que eu só atuasse meia dúzia de minutos. Diziam que queriam ver mais de mim".

Mónica Vale de Gato já marca presença no Instagram com vídeos e relatos hilariantes daquele que é o seu dia a dia e conta ainda com um podcast, "Caixa de Areia", onde aposta em temas mais sérios, com o principal intuito de contrariar a ideia de que tudo o que os comediantes dizem tem de ser obrigatoriamente engraçado. Ainda assim, os fãs e seguidores imploravam por mais conteúdo.

"Acho que isto no fundo é uma resposta ao feedback que fui recebendo. E agora é: está aqui o que pediram, mas certifiquem-se de que vão ver o espetáculo. Acho que é mais para os outros do que para mim".

Mas, afinal, o que podemos esperar deste "Demasiado"?

Mónica Vale de Gato conta que trabalha de forma espontânea e não quer limitar o leque de temas que vai explorar durante o espetáculo. Mas, sem spoilers, revelou à MAGG alguns dos temas que vamos ouvir em março, em Lisboa, Porto e Tomar.

"Vou falar muito sobre esta coisa de ser de Mem Martins, com que muitas pessoas se relacionam, quando vêm assim da linha de Sintra. Mas também falo dos betos, porque o meu namorado é de Campolide e eu brinco muito com isso. Quase como se fosse assim uma luta e eu estivesse a conhecer a outra fação. Falo no nosso dia a dia. Vou explorar tanta coisa", conta.

"Para mim, conseguir sair do digital para o offline e saber que tenho cada vez mais pessoas dispostas a comprar bilhete para me ver é um dos maiores objetivos. Noto que ainda há uma barreira muito grande quando a pessoa está habituada a ver-te, em casa, no digital. Isto tudo de ter de sair de casa e comprar bilhete é sempre diferente".

Ainda assim, a venda dos bilhetes superou as expectativas de Mónica Vale de Gato. A primeira data para Lisboa, para o Lisboa Comedy Club (4 de março), esgotou em apenas 5 horas, os bilhetes da segunda data (17 de março) voaram em menos de 48 horas e, em conjunto, as três datas (4, 17 e 19) esgotaram em menos de 4 dias. 

Até à data, só restam bilhetes para as sessões no Porto, no Teatro Sá da Bandeira (11 de março), e em Tomar, no Cine-Teatro (12). Mónica Vale de Gato ainda não revelou se vai (ou não) abrir uma quarta data em Lisboa, mas garante que todas as sessões vão contar com surpresas inesperadas. Tudo isto naquela que será a sua estreia a solo nos palcos nacionais, com o apoio principal da Lactacyd.

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