Can Yaman é um fenómeno em Portugal e não faltam fãs a idolatrar o ator turco de “Pássaro Sonhador”, “Viola come il mare”, “Sabor a Paixão” e “El Turco”, a série que também vai contar com a atriz portuguesa Madalena Aragão no elenco e que chega em 2025 à plataforma de streaming Disney+.

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O ator completou 35 anos no dia 8 de novembro e algumas fãs reuniram-se no Porto e em Lisboa – ao qual a MAGG assistiu – para festejar esta data. Na capital, fizeram uma viagem de barco pelo rio Tejo e despois foram, cerca de 15 pessoas, jantar ao restaurante Envy e, além de pulseiras com o seu nome, até levaram uma imagem de Can Yaman em ponto grande.

Veja um vídeo da noite.

A MAGG fala com três das maiores fãs do ator, que explicaram o que mais as fascina no mesmo. Carla Silva, uma secretária de 52 anos, viu alguns dos filmes e, além de ter gostado do seu trabalho, também aprecia a dedicação à sua fundação, a Associação Can Yaman For Children, que ajuda crianças necessitadas, nomeadamente no IPO de Lisboa e do Porto.

Carla Silva foi à gala solidária do Porto em março deste ano (tendo havido outra também em Lisboa em janeiro), com cerca de 400 pessoas e cujos bilhetes custavam 200€ com jantar e acesso à gala incluídos, e conheceu-o. “Foi muito giro. Gostei muito. Foi melhor [do que pensava], porque é muito simpático. Não fazia ideia que ele fosse tão simpático”, recorda.

Carla Silva
Carla Silva Carla Silva com Can Yaman. créditos: instagram

Carla foi uma das organizadoras do jantar de Lisboa. “Organizei um passeio no rio Tejo à tarde, levei produtos portugueses, como pastéis de nata, ginjinha, moscatel, tortas de Azeitão, queijo de Azeitão. Fiz pulseiras, cada uma diferente, que é para no próximo encontro nos encontrarmos e levarmos a pulseira. Depois, fiz um esboço em lápis e cada uma no veleiro pintou uma parte. Também fiz um jantar no Envy, gostei muito do staff”, relata.

“Isto é um movimento muito giro, porque há muitas fãs espalhadas por aí”, diz Carla, destacando o “carisma” e a simpatia do ator e realçando que as fãs pretendem fazer “vários convívios durante o ano para marcar algumas datas importantes” relacionadas com Can Yaman. O próximo em Lisboa é já este domingo, 8 de dezembro, que será um almoço de Natal.

Rute Silva, empresária no ramo automóvel, instrumentista e compositora de 45 anos, tornou-se fã do ator de uma “maneira inesperada” há quatro anos. “Eu viajo imenso para Itália e, numa das viagens com uma colega minha de trabalho, a gente estava a passear e, de um momento para o outro, ela ficou ali parada e só apontava. E disse: ‘não conheces? É o ator das novelas turcas’. Eu, na altura, não via novelas turcas, não sabia nada de novelas turcas e não fazia a menor ideia de quem era. Depois cheguei ao hotel e fui ver a novela que ela estava a ver, que era o ‘Pássaro Sonhador’, achei interessante e fiquei viciada na novela. E foi aí”, relata.

Mas o que é que o ator tem que conquistou Rute Silva? “Gostei da forma como ele interpreta as personagens, gosto mesmo da maneira como ele faz a personagem dele em vários trabalhos que vi, porque depois acabei por ver todos os trabalhos dele. Depois fui aprofundando mais as causas que ele ajudava e admirei-me imenso, também li que estudou advocacia. É um completo de tudo”, explica.

A empresária nunca esteve com Can Yaman pessoalmente, apesar de já o ter visto mais uma vez em Roma, a almoçar num restaurante. “Como prezo muito a privacidade das pessoas, não tive coragem de lhe pedir uma fotografia nem tão pouco pegar no telemóvel e filmar, porque eu acho que chega a um ponto que é uma falta de respeito para com a outra pessoa fazer-se isso, principalmente na hora da refeição”, refere.

Rute Silva já organizou cinco convívios sobre o ator, nomeadamente quando este anunciou que iria deixar de ter Instagram. “Eu pensei que uma forma de o apoiar ao longe seria unir algumas fãs. E também fazer algumas fãs verem que às vezes têm uma ideia errada de quem é o seu ídolo. Do que eu vi quando ele esteve cá, acho que há muita obsessão e há muitas fãs com essa obsessão que se deixam levar por perfis falsos e são burladas. Achei que, com este tipo de convívio, a gente também podia conversar sobre isso”, relata.

Nos convívios, além de passearem, o ator está presente na maior parte das conversas. “Falamos dele, falamos dos trabalhos que estão a sair, trabalhos futuros, onde é que as pessoas podem ver as séries, porque há pessoas que não têm noção, principalmente faladas ou traduzidas para português”, diz.

A MAGG também falou com Teresa Pestana, secretária de direção de uma empresa de arquitetura e construção de 52 anos, que ficou fã de Can Yaman quando saiu o “Pássaro Sonhador” ainda em turco. A partir daí, ficou atenta ao percurso e aos trabalhos do ator.

“Ele encantou-me muito, não só ele mas os atores turcos em geral, com a forma de representar, está muito bem conseguida a forma como eles contam a história”, diz, acrescentando que foi pesquisar mais sobre “a pessoa”, depois veio a associação, que acompanha “de perto”, e que posteriormente começou a ir aos eventos. “Foi um crescendo e tenho uma profunda admiração pelo homem, pelo ator”, garante.

Teresa Pestana já conheceu o ator. “É um homem muito acessível, extraordinariamente acessível, muito simpático, de uma paciência e disponibilidade incansáveis, mesmo num evento onde estão centenas de mulheres a querer chegar perto, tirar fotografias, fazer perguntas, dar presentes. Se ele percebe que as pessoas estão há muito tempo à espera, ele próprio tenta de alguma forma chegar a toda a gente com um sorriso, uma palavra. Comigo isso aconteceu. Eu estive imenso tempo à espera, porque não sou de empurrar ou de passar à frente, ele apercebeu-se e rapidamente fez sinal que estava atento. É de uma paciência fora do vulgar. Acho que, quando se atinge um determinado patamar, ter esta humildade de ter a paciência de receber o comum dos mortais com esta proximidade... Eu acho que ele é um homem extraordinariamente próximo dos fãs e faz questão disso. Gosta de saber o nome, de que país somos, se lhe levam presentes gosta de saber porquê aquele presente, o que significa, ouve com atenção...”, conta.

Teresa Pestana
Teresa Pestana Teresa Pestana com Can Yaman. créditos: instagram

“É esta proximidade, o fácil acesso, o trato que depois cativa uma multidão de gente e que faz com que queiram ir e estar, como é tão fácil ter ali uns momentos. Estamos a falar de cinco minutos, uma coisa relativamente rápida. Sabemos que esta gente, neste patamar, o acesso não é fácil. Isto foi fomentado por ele no início e ele defende esta proximidade com os fãs”, garante.

Mas o que é que faz Teresa Pestana ir a convívios com outras fãs do ator, mesmo que ele não esteja presente? “Às vezes não é fácil para quem está à volta perceber o que é que movimenta isto. O caminho faz-se de uma forma muito mais fácil acompanhado em tudo na vida. Quando se está com pessoas que têm o mesmo interesse, que percebem, vai-se ganhando amigos também. Eu tenho amigas hoje, que privam comigo, que vêm a minha casa, vamos jantar, vamos sair, que saíram destes eventos e que mantemos uma relação. E depois, a maior parte desta gente e desta comunidade tem páginas de fãs, onde trabalham as novidades, a imagem, a publicidade. O primeiro contacto até começa por aí, falamos umas com as outras e estabelece-se sem rosto. Depois quando há um evento em que calha irem aquelas pessoas com quem vamos falando com mais frequência, parece que já nos conhecemos desde sempre. É pôr em alguém que é relativamente próximo um rosto”, explica.

Veja as fotos do ator.

Devido a este fenómeno, a MAGG quis perceber o crescente sucesso das produções turcas em Portugal e mundialmente. “É resultado de um forte investimento em produção de ficção, que não se destina apenas ao consumo interno (na Turquia), o que revela um pensamento estratégico de posicionamento e implementação nos mercados internacionais", começa por explicar Nelson Furtado, diretor da SIC Mulher e da SIC Caras.

"A ficção turca que chega até nós apresenta argumentos simples, que exploram uma aproximação à vida real através das emoções intencionalmente adensadas. Apesar de algumas histórias incluírem elementos que remetem para a cultura turca, o revestimento contemporâneo faz com que os telespetadores criem facilmente identificação. Além da conexão com a história e personagens, a grande maioria destes produtos de ficção prende pelo ritmo narrativo rápido, repleto de reveses que tornam cada episodio ‘imperdível’. A utilização expressiva de elementos que geram a sensação de ‘urgência’ é outro dos fatores promotores de vínculo. Também a realização, a direção de atores e a inclusão massiva de trilha sonora, são fatores distintivos que promovem a adesão pela captura atencional e emocional”, acrescenta o responsável dos canais do grupo Impresa.

“Decidimos investir na ficção turca por ser uma aposta diferenciadora e com qualidade. Numa altura em que o consumo de ficção disparou, era importante diferenciarmo-nos da oferta dos canais internacionais e das plataformas. A seleção de títulos-chave, como ‘Mother’ e ‘Gulperi’ foi determinante para monitorizarmos a adesão e, rapidamente percebemos que estávamos perante um fenómeno sem precedentes. Até à data, o consumo das produções turcas continua a crescer. A ficção turca que temos hoje, tanto na SIC Mulher como na SIC Caras, permite uma ampla diversificação de géneros, impactando positivamente a programação dos dois canais. O retorno não se faz chegar apenas através do share, mas também dos inúmeros contactos diretos e participações que recebemos do público, nos quais demonstram a sua preferência, sugestões e pedidos de reposição”, explica.

Além disso, falámos com Carmino Martinez, da equipa de programação dos canais STAR, depois de a série “Love is in the Air” ter chegado à STAR Life. “Estávamos à procura de uma série que se adaptasse ao canal e que estivesse em linha com as séries que habitualmente emitimos, e que são do agrado do nosso público. A nossa opção recaiu então numa comédia romântica, com personagens e histórias muito atuais. Escolhemos ‘Love is in the Air’ para a STAR Life, um sucesso na Turquia e em vários outros países, pela qualidade da produção, pela tração da história junto do público e, sem dúvida, pela grande química entre os protagonistas. É com enorme satisfação que assistimos a um número crescente de fãs a assistirem a esta série, que é uma produção da estação de televisão turca NOW, que pertence à The Walt Disney Company”, informa à MAGG.

O sucesso crescente das produções turcas – que se tornaram um fenómeno global devido à “dimensão” e à “qualidade de produção” – em Portugal, deve-se ao facto de os portugueses gostarem de “boas histórias”, “envolventes e com bons atores e atrizes”.

“Love is in the Air” “conta a história de dois jovens, com personalidades complexas, passados recheados de intrigas, que tão depressa são inimigos, como vivem uma história de amor”, sendo que “estes elementos” “dizem algo às pessoas, porque as emoções são iguais, independentemente do sítio do mundo onde nos encontremos”.

Quanto à diferença da língua, sendo a série dobrada em espanhol e legendada em português na STAR Life, Carmino Martinez revela que não considera que a “língua seja uma barreira”. “Penso que, acima de tudo, as pessoas querem ver boas histórias, com personagens cativantes e narrativas cheias de emoção. (...) A história de amor de Eda e Serkan é sobretudo uma história sobre pessoas, que podia ser vivida em qualquer país”, garante.

A MAGG falou ainda com Ayse Uner Kutlu, a autora de “Love is in the Air”, que nos explica este fenómeno. “As produções turcas têm um storytelling de alta qualidade com temas universalmente relacionáveis. Como argumentista, acredito que as produções turcas evocam emoções poderosas, e estas histórias emocionais ressoam profundamente em todas as culturas. Além disso, a qualidade da produção, configurações culturalmente ricas e desempenhos fortes aumentam o seu apelo global. As séries turcas misturam frequentemente elementos tradicionais e modernos, o que as torna atrativas para diversos públicos. Elas também preenchem uma lacuna no conteúdo global com a sua intensidade emocional, enredos detalhados e um ritmo mais lento em comparação com as séries ocidentais”, diz.

A autora explica ainda que, na Turquia, os episódios duram cerca de 2h30, sendo “significativamente” mais longos do que nos outros países. “Isto é tanto um desafio como uma oportunidade para os argumentistas turcos. Escrever episódios de 2h30 leva-nos a construir narrativas em camadas que incluem enredos principais, secundárias e um rico desenvolvimento de personagens. Isto é bem diferente das produções ocidentais, que geralmente têm episódios mais curtos e rápidos. Esta abordagem mais lenta de contar histórias permite mais tempo para desenvolver ligações emocionais entre personagens. E muitas vezes cria uma tensão que cresce lentamente que mantém os espectadores interessados. Comparativamente com a natureza episódica e acelerada das séries ocidentais, as séries turcas priorizam a narrativa emocional em vez de ação ou espetáculo, o que é uma mudança refrescante para muitos públicos”, explica.

Quanto à diferença de língua, Ayse Uner Kutlu não considera que seja uma barreira. “Se uma história for forte e compreensível, encontrará o seu público, independentemente da língua em que é contada. E, com o quão avançadas as tecnologias de IA [Inteligência Artificial] e de dobragem se tornaram, eu acho que a língua já não é um grande problema”, garante.

Relativamente ao facto de os romances estarem a conquistar o público português, assim como já conquistaram os turcos, a autora de “Love is in the Air” considera que se deve ao facto de ser “universal”. “O amor é um assunto com que todos se podem identificar – é emocional, esperançoso e, por vezes, até confuso. Na Turquia, o romance sempre foi uma parte importante da nossa tradição de contar histórias, desde os contos populares aos às séries modernas”, conclui.