Cian Ducrot, 27 anos, vai atuar pela primeira vez em Portugal a 6 de dezembro no LAV – Lisboa ao Vivo e, no dia seguinte, ruma a Braga, para o Festival Authentica, podendo comprar bilhetes para ambos os espetáculos na Ticketline.
O cantor irlandês tornou-se um fenómeno no TikTok e, depois do sucesso do single “All For You”, a sua carreira explodiu, passando a encher salas de espetáculos e estádios. Depois desse, lançou o êxito “I’ll Be Waiting”, que esteve a promover fazendo flashmobs com um coro em centros comerciais, estações de metro e não só.
À MAGG, Cian Ducrot relembra a passagem pelo "The Voice" do Reino Unido, em 2016, onde não conseguiu virar nenhuma cadeira, fala sobre este início estrondoso de carreira, conta como surgiu a ideia dos flashmobs e aborda ainda a canção “Can’t Even Hate You”, que fez sobre o seu pai, que o abusou sexualmente quando era criança, tal como revelou recentemente nas redes sociais.
Leia a entrevista.
Vai atuar pela primeira vez em Portugal em dezembro, em Lisboa e em Braga. O que é que o público pode esperar destes concertos?
Espero que passem um bom bocado, com muita energia, muita diversão. Provavelmente, será a última vez que vamos fazer esta versão do espetáculo, porque depois, espero, estarei com um novo álbum. Acho que vai ser muito especial poder fazer este concerto outra vez com a maior energia possível. Obviamente, faremos algo muito especial para Portugal e vamos adicionar algumas coisas novas. Para mim vai ser muito especial também, porque é, como disse, a minha primeira vez a atuar aqui. Quando se tem um novo concerto, um novo público, uma nova plateia – e eu ouvi dizer que o público português é incrível –, isso realmente acrescenta muito à energia do espetáculo. É um espetáculo muito divertido e emocionante e quero tentar, em Portugal, conectar-me com o público o máximo possível. Estou muito, muito entusiasmado.
É a primeira vez que vem a Portugal?
Acho que só estive em Portugal uma vez, de férias, acho que é o que a maioria das pessoas faz. Estive em Albufeira, acho, no Algarve, na altura da COVID-19. Então estava muito calmo, era um dos únicos lugares para onde se podia viajar. Fui para lá durante o verão e foi incrível. Eu adorei, na verdade, passámos uns dias muito, muito bons, as pessoas eram tão queridas. Mas, sim, eu nunca estive propriamente em Portugal, por isso vai ser muito divertido experimentar mesmo a cultura e conhecer os fãs também.
Tem muitos fãs cá? Que feedback costuma receber dos portugueses?
É um lugar onde quero atuar há muito tempo, porque estou constantemente a receber mensagens de pessoas a pedirem para eu ir aí e, quando anunciei que ia, todos estavam tipo ‘finalmente!’, ficaram muito entusiasmados. Também estou sempre a receber vídeos, provavelmente é um dos países de onde eu recebo mais vídeos da minha música na rádio, das pessoas em festas e estão a ouvir a minha música, o que eu acho sempre interessante. Vai ser muito giro, porque é um lugar onde eu ainda não estive e percebi que há uma grande procura dos fãs. Quero muito ir aí, quero ver os fãs, quero conhecê-los e atuar para eles. Acho que vai ser muito, muito especial.
Lançou o álbum “Victory” em 2023, mas está a escrever um novo. O que nos pode adiantar?
É onde eu estou, seja lá o que isso for. Está num lugar em que eu estou muito feliz e estou a escolher as músicas. Eu escrevi muitas canções, talvez 100 canções, e tenho que decidir quais quero colocar no álbum. Foi uma viagem enorme, foi uma longa experiência até chegar onde o álbum está agora. Vai ser muito... Não muito diferente, mas é bem diferente do “Victory”. Tem influência dele e ainda soa a mim, mas acho que é algo diferente. Eu não queria fazer o mesmo álbum duas vezes e acho que eu ainda estava muito no caminho de descobrir como é que eu realmente quero soar, porque ainda estou no início da minha carreira. Para mim, é a melhor música que eu já fiz e é, talvez, a primeira vez que fiz música que eu realmente adoro e que eu ouviria, é a música que eu gostaria de ouvir. Vai ser diferente, mas ainda vai ter muito para os fãs originais, tem um pouco de tudo para todos. Será para o próximo ano, de certeza.
Agradece várias vezes às pessoas pela forma como a sua carreira tem corrido nos últimos meses, sendo que começou a atuar para oito pessoas e agora atua para milhares. As redes sociais, principalmente o TikTok, tiveram um grande impacto nessa mudança, certo?
Sim, se não fosse o TikTok, acho que não teria uma carreira. Acho que a indústria da música mudou muito e houve um tempo em que se era meio que escolhido a dedo pela indústria da música e eles davam-te uma carreira. Se não fosse uma dessas pessoas, era muito difícil ter uma carreira. O TikTok é uma oportunidade para qualquer pessoa no quarto ou em casa poder mostrar o que fazem, a música que estão a fazer. A mim, permitiu-me realmente conectar com o público e criar uma base de fãs, compartilhar a minha música e isso foi muito especial, foi realmente importante para mim. Há pessoas em todo o mundo que querem ouvir a música, que querem ir aos concertos e isso é super fixe. O que realmente importa são essas pessoas.
Apesar de ter lançado o EP “Make Believe”, em 2021, foi a canção “All For You” que mudou a sua vida. Quando percebeu o sucesso deste single, teve aquele sentimento de “consegui!”?
Quando vi o sucesso daquela canção, eu realmente não sabia se alguma vez iria conseguir fazer isso outra vez. Nem sei como consegui fazê-la e nunca pensei que “I'll Be Waiting” teria ainda mais sucesso e que seria capaz de fazer um álbum, vender bilhetes, dar concertos e fazer tours. Foi mesmo o início de tudo. “All For You” foi uma canção que eu queria mesmo muito. Estava tão pronto para isso, estava tipo: ‘tem de ser isto’. Estava muito entusiasmado com a canção e, como o primeiro vídeo que eu publiquei teve muito sucesso, fiquei muito animado. Foi uma canção que continuou a dar e a atingir os tops, foi muito emocionante. Eu acho que foi apenas o começo, eu estava tipo: ‘ok, talvez isto possa funcionar, talvez seja o começo de algo’. E foi, definitivamente, o começo de algo. Tudo é o começo de algo. Foi num momento em que eu acho que precisava de restaurar a fé em mim mesmo, restaurar essa crença e perceber que, se eu desse tudo, eu conseguia.
Quando lançou o tema seguinte, “I’ll Be Waiting”, começou a fazer flashmobs com um coro em centros comerciais, estações de metro e não só. De onde surgiu esta ideia?
Quando eu era mais jovem, costumava ter estas ideias estúpidas ou para vídeos ou apenas para brincar com os meus amigos. Nós íamos ao McDonald's e, para pedir a nossa comida, subíamos às mesas, cantávamos ou o que fosse. Só fazíamos isso por diversão, porque nós basicamente crescemos numa cultura do YouTube, de fazer partidas às pessoas e isso era muito como o que víamos enquanto crescíamos. Um amigo meu estava a gravar todos os meus vídeos comigo e, naquela altura, estava a pensar em maneiras de promover a canção e pensava: ‘como é que eu posso fazer algo que, primeiro, seja autêntico para mim, que seja diferente, único e que eu goste de fazer?’. E depois pensei: ‘se eu visse isto, iria parar e assistir’. Agora, isso tornou-se uma coisa enorme, toda a gente faz esses vídeos, vê-se a toda a hora, mas naquela época ninguém fazia vídeos em público, mesmo musicalmente.
Esses flashmobs foram, definitivamente, uma das primeiras coisas que aconteceu com música em público. Basicamente, eu percebi que tinha um coro, que tinha acesso a todos esses cantores por um dia, porque nós estávamos a gravar um vídeo para o Youtube, um longo da canção inteira. Quando eu me apercebi disso, estava ao telemóvel com o meu amigo e tive essa ideia, tipo: ‘oh meu Deus, se nós os temos, porque não os levamos e vamos para cafés, bares, centros comerciais? Tentámos alguns lugares. Eu canto, as pessoas não vão perceber o que se está a pensar, depois o coro junta-se e as pessoas nem se vão aperceber que o coro se está a juntar’. Foi uma ideia aleatória que eu tive, que era baseada em coisas que eu sempre quis fazer e, de repente, a oportunidade alinhou-se. Foi um momento ‘eureca!’. Mudou a minha vida completamente e essa música também. Foi muita sorte que eu tenha pensado nisso.
"Quero ser alguém que encoraja a honestidade e a transparência, que encoraja as outras pessoas a não esconder o que elas passaram"
Participou no “The Voice” do Reino Unido, em 2016, e não virou nenhuma cadeira. Alguma vez pensou em desistir deste sonho da música?
Acho que não. Houve muitos fatores sobre o que aconteceu naquele dia. Primeiro, eu pessoalmente sabia que não tinha cantado muito bem. Foi uma situação muito intensa que me deixou muito desconfortável e muito nervoso, apesar das pessoas terem sido muito simpáticas, não teve nada que ver com o “The Voice”. Estava muito nervoso, porque, na altura, eu basicamente quase perdi a voz. Eu estava a descansar a voz há cerca de uma semana, mas ainda não tinha voz, então eu lembro-me de ir e dizer que nem conseguia cantar, por isso eu sabia que não iria correr bem. Parte de mim sabia que, primeiro de tudo, eu não estava capaz de dar o meu máximo, mas também tive sorte porque eles me pediram para eu cantar uma segunda canção e eu tive um momento incrível.
Houve uma ovação de pé, o júri estava a chorar e toda a gente estava a pedir para que me passassem, mas como eles não viraram, não podiam fazer isso. Na verdade, eu não queria estar no programa de qualquer forma, por isso foi um momento um pouco agridoce. Se tivesse sido apenas aquela primeira e única canção e eu tivesse de ir embora, provavelmente teria ficado desanimado, mas como consegui cantar a canção que realmente queria, apenas eu e a minha guitarra, senti que pude provar o meu ponto um pouco mais e fazer uma boa performance. Consegui sair com a cabeça levantada. Foi uma grande curva de aprendizagem que eu precisava, porque há muitos momentos na carreira em que se está no alto e, depois, as coisas vão cair e não vão correr como planeado.
O que nós vemos nas carreiras das pessoas são apenas os sucessos, o que se vê de fora. Não se percebe os falhanços, os erros, não se vê as lutas e esses momentos. Então, para mim, ter essa experiência tão cedo e conseguir voltar para cima novamente e continuar a avançar, foi uma grande curva de aprendizagem de que isso pode acontecer outra e outa vez. É tudo sobre se se consegue levantar e continuar. Eu acho que não há nada que me fizesse desistir de qualquer forma, porque é algo que eu amo tanto que eu vou continuar a fazer, não importa o que aconteça. Acho que é isso que leva ao sucesso, espero.
Recentemente lançou “Can’t Even Hate You”, um tema sobre o seu pai, abusou sexualmente de si quando era criança, tal como revelou nas redes sociais. Porque decidiu fazer esta partilha tão íntima?
Para mim, é muito importante ser tão aberto, tão honesto e tão real quanto possível com os meus fãs. Esse é o tipo de conexão que eu tenho com eles. Às vezes é fácil escondermo-nos atrás de uma canção. Primeiro, fiz esse vídeo para mim mesmo, mas também com a intenção de que talvez o fosse publicar no momento de lançar a canção e explicar porque queria lançá-la e porque era importante para mim. Obviamente, foi uma coisa difícil e assustadora e, quando o publiquei o vídeo, desliguei o telemóvel e não vi nada até a manhã seguinte. Além disso, eu quero ser alguém que encoraja a honestidade e a transparência, que encoraja as outras pessoas a não esconder o que elas passaram, especialmente os homens. Eu defendo isso. Então, senti que se eu próprio não fizesse isso, não seria verdadeiro. Foi importante e também é bom, às vezes, deitar estas coisas cá para fora, é como se um peso saísse dos nossos ombros e é uma forma de as pessoas sentirem que me conhecem melhor.
Também disse que ainda está a aprender a lidar com isso. A música tem sido importante neste processo de cura?
Eu acho que sim. A música é como terapia ou é como escrever ou ter um diário. Às vezes, é pôr em palavras coisas que nunca diria em voz alta, porque não se anda por aí a dizer estas coisas. São coisas que vão flutuando na nossa cabeça. Acho que a música é uma forma de pegar em algo e colocá-lo num lugar. É, definitivamente, um processo terapêutico.