Em dezembro de 1936, o Reino Unido ficou em choque com a decisão de Eduardo VIII em abdicar do trono. Depois de ter tentado por todos os meios legais casar com Wallis Simpson, uma americana divorciada duas vezes, a ausência de aprovação governamental levou Eduardo a abdicar do trono. A crise constitucional terminou com a sucessão do irmão, Alberto, que ganhou o título de Jorge VI. Anos mais tarde, isto levaria uma jovem de 25 anos a ascender a um trono que, pela lógica, nunca deveria ter sido seu. Isabel Alexandra Maria tornava-se, assim, na rainha Isabel II.

Mais de seis décadas depois, a família real britânica atravessa uma nova crise. A situação é bem diferente: apesar das comparações entre os dois casos, a verdade é que só uma catástrofe faria com que o príncipe Harry tivesse que subir ao trono — neste momento é o sexto na linha de sucessão, com o pai, o irmão e todos os sobrinhos na sua frente para reinar. No entanto, não deixa de ser uma situação inédita. Na viragem de 2019 para 2020, um príncipe decidiu que queria afastar-se da família real inglesa.

A imprensa britânica chama-lhe Megxit, e há uma razão para isso: é de facto de uma “saída” que se trata, uma vez que Harry e Meghan Markle pretendem deixar de ser membros seniores da realeza. Isto significa, nas suas próprias palavras, que querem “construir gradualmente um novo papel desta instituição” e trabalhar para serem “financeiramente independentes”.

A polémica capa do 'New York Post' popularizou o termo Megxit
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Claro que não é assim tão fácil. Como o Palácio de Buckingham anunciou em comunicado a 8 de janeiro, "os debates com o duque e a duquesa de Sussex ainda estão no início." Por outras palavras, eles podem querer sair da realeza, mas as coisas não são assim tão simples. Aliás, como esclarecem os representantes da rainha, "percebemos o desejo em adotar uma abordagem diferente, mas estes são assuntos complicados que ainda demorarão para serem resolvidos".

Harry e Meghan afastam-se da família real no Palácio de Kensington e no museu Madame Tussauds
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Para tentar resolver todos os meandros desta complicada situação, a rainha Isabel II convocou uma reunião familiar de emergência para esta segunda-feira, 13 de janeiro. O local escolhido foi uma das suas residências privadas, o palácio de Sandringham. Nesta reunião, que deverá acontecer por volta das 14 horas, estarão presentes Carlos, William e Harry. Do Canadá, Meghan Markle falará por telefone.

O objetivo desta reunião é sobretudo burocrático: é preciso articular um plano protocolar, financeiro e logístico que permita perceber como é que os duques de Sussex podem efetivamente cortar os laços com a família real. Não se espera que seja uma conversa fácil, até porque fontes próximas à realeza garantem que a situação atual é caótica.

Uma reunião de emergência foi convocada no palácio de Sandringham
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Do "bullying" de William a um príncipe dividido

Este domingo, 12 de janeiro, uma fonte próxima à família real contou ao jornal "Times" que Meghan Markle disse ao marido no Natal que as coisas "não estavam a funcionar". O dedo foi apontado a William, acusado de ter uma atitude de puro "bullying" no meio de toda esta situação.

"Ela quer ir embora. Ele [Harry] está sob uma intensa pressão para escolher. É triste. Ele ama a rainha. Acho que realmente vai partir o seu coração sair. Não acho que seja isso que ele quer."

Só que a decisão está tomada. Neste momento, a rainha — que segundo o "Daily Mail" está "profundamente magoada" com a decisão do neto — quer uma solução dentro de poucos dias, de modo a evitar mais danos à monarquia. Acima de tudo, Isabel II quer ter a certeza de que esta independência dos duques de Sussex não vai prejudicar a família real.

Um dos maiores receios da rainha prende-se com os rumores de uma possível entrevista a Oprah Winfrey, onde Harry e Meghan podem estar a equacionar falar abertamente sobre o racismo e sexismo da família real.

Mesmo que isto não venha a acontecer, e que o casal se remeta ao silêncio, a verdade é que este afastamento será difícil de superar. Estão todos furiosos com esta decisão: o príncipe Filipe, por exemplo, que vivia no palácio de Sandringham desde que anunciou o seu afastamento da vida pública em 2017, voltou para Buckingham com o objetivo de apoiar a mulher. Quando soube da decisão do neto mais novo, "cuspiu sangue" de tanta raiva. Às aias, gritou: "Ao que diabo estão eles a brincar?".

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William também está devastado. Segundo escreve o "Sunday Times" este sábado, o duque de Cambridge desabafou com um amigo sobre o vínculo quebrado com o irmão. "Coloquei o braço em volta do meu irmão a vida inteira e não posso continuar a fazê-lo", terá dito. "Estou triste com isto. Tudo o que podemos fazer, e tudo o que posso fazer, é tentar apoiá-los e torcer para que chegue o momento em que voltemos a estar todos na mesma página. Quero que voltemos a jogar todos na mesma equipa".

Há já alguma tempo que isto não acontece. O afastamento entre os dois irmãos é óbvio, tanto que os filhos de William só viram o primo, Archie, de 8 meses, uma ou duas vezes desde que nasceu. Com o plano dos duques de Sussex de passarem a viver no Canadá grande parte do ano, é pouco provável que os laços venham a fortalecer-se num futuro próximo.

Até porque não parecem haver planos de voltar ao Reino Unido a tempo inteiro tão cedo. Fontes próximas de Harry e Meghan garantem que o objetivo passa por viver a longo prazo nos Estados Unidos, mas não enquanto Donald Trump for presidente. Os amigos dizem que o casal pretende ficar para já no Canadá, mudando-se mais tarde para Los Angeles.