Maria de Lourdes Sousa, mãe de Manuel Luís Goucha, morreu na manhã do passado sábado, 10 de agosto, aos 101 anos, um mês depois de completar mais de um século de vida.

A notícia foi divulgada pelo irmão do apresentador da TVI, Carlos Goucha, nas redes sociais, com uma fotografia da mãe, que vinha acompanhada de uma mensagem de despedida. Manuel Luís Goucha, na altura, dedicou a gala de domingo do “Dilema” à mulher que lhe deu vida, mas foi no sábado, dia 18, que lhe deixou uma verdadeira homenagem — e surpreendeu-se com a mãe mesmo depois da sua morte, quando soube que esta lhe tinha deixado a ele e ao irmão uma carta.

Goucha não falha "Dilema" e homenageia a mãe. "Se me permitem, hoje é por ela"
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“Eu sempre entendi que a dor é uma coisa muito íntima e, por isso mesmo, não é partilhável. Esta foi a razão que levou a que nada publicasse durante a última semana sobre a partida da minha mãe. Faço-o hoje”, começou por dizer o apresentador de 69 anos, num vídeo que publicou no Instagram.

“Estou muito grato à vida por me ter dado a minha mãe durante 69 anos, por me ter emprestado durante tantos anos. Sinto-me um privilegiado. Hoje sinto-me mais sereno para falar da minha mãe”, acrescentou.

“Estou a falar-vos de uma mulher que, aparentemente, não era uma mulher de afetos, não era uma mulher de toque, tal como eu não sou. E eu sempre procurei entendê-la, porque estamos a falar de alguém que nasceu em 1923, portanto numa época situada entre duas grandes Guerras Mundiais, e se bem que Portugal não se tenha envolvido no segundo, o que é certo é que as marcas de algo tão terrível também chegaram a Portugal. A minha mãe era a terceira, a mais nova de três irmãos, e já não havia conhecido o conforto que os irmãos mais velhos tinham experimentado”, disse. 

Mais tarde, o apresentador enumerou algumas das atividades que Maria de Lourdes gostava mais de fazer, de modo a relembrar a querida mãe. “Era uma mulher que gostava muito de ler, sempre a vi a rasgar a noite lendo romances, gostava muito de cinema, era ela que nos levava e, mais tarde, foi com ela que eu fui ver o meu primeiro filme para nove anos, havia essa classificação etária na altura”, disse. “Era uma mulher com talento para a malha, fez inúmeras camisolas de lã maravilhosas, fazia questão que tivéssemos as camisolas mais bonitas”, disse, entre sorrisos. 

“As suas mãos talentosas eram também mãos que cuidavam de outras mãos, e por isso ela foi durante toda a vida manicura. Começou aqui, em Lisboa, onde conheceu o meu pai, justamente num salão de beleza, e largadas décadas depois, já depois da separação, é manicura no salão mais elegante de Coimbra”, acrescentou.

Numa emotiva homenagem, Manuel Luís Goucha revela ainda que a mãe sempre fez questão de trabalhar para ter dinheiro suficiente para que nada faltasse em casa, assim como para os dois filhos, se quisessem, conseguissem seguir o seu percurso escolar confortavelmente. No entanto, um dos seus grandes motivos era trabalhar “para não precisar de homem algum”.

“A independência da minha mãe tinha muito que ver com o seu poder económico. Nunca dependeu do meu pai, e tão pouco dependeu daquele que depois foi o seu segundo companheiro durante mais de 10 anos”, acrescentou. “A minha mãe era uma mulher rebelde e livre, lutando pelos seus direitos num mundo em que as mulheres não tinham acesso ao que os homens tinham. A minha mãe fez da vida aquilo que quis, foi sempre senhora da sua vida. Era uma mulher indomável. Foi senhora da sua vida e da sua morte, morreu aos 101 anos tal e qual como queria, serenamente na sua casa e na sua cama. Até na morte ela mandou."

No final do vídeo, Manuel Luís Goucha faz uma confissão inesperada, que deixou o vídeo ainda mais emocional. Ao que parece, a mãe tinha escrito uma carta aos filhos em 2003, altura em que se sentiu mal e achava que ia morrer, sendo que apenas o neto mais velho conhecia a existência desta carta. Na terça-feira seguinte, a 13 de agosto, o apresentador da TVI leu esta dedicatória e, ao lê-la no vídeo, voltou a emocionar-se. “É, surpreendentemente, uma carta de amor."

“Meus filhos Manuel Luís e Carlos, quando morrer, eu quero ser cremada, e deitem as minhas cinzas ao mar porque eu sou da terra dos pescadores. Estarei sempre com vocês e peço que não sofram com a minha partida, mas que não se esqueçam de mim. Eu sempre vos amei muito, foram a minha alegria e foram a coisa mais linda que tive na vida. Por vocês daria a minha vida. Sejam amigos, e de vez em quando pensem na vossa mãe e mandem um beijo, que eu recebo onde estiver e também vos mandarei muitos, para vocês, para os meus netos, para a Isabel e para o Rui. Muitos beijos. Adeus e até um dia, eu estarei sempre ao pé de vocês. Até sempre”, lia-se na carta. 

Visivelmente emocionado, Manuel Luís Goucha acaba o vídeo a revelar que a mãe e Rui Oliveira, o seu marido, sempre foram muito amigos, e que tiveram conversas e partilharam histórias que o apresentador, provavelmente, nunca irá conhecer — mas não se importou com esse pequeno pormenor, uma vez que o marido apenas o fará para proteger o legado da sua mãe. “Um beijo, mamã, e obrigado”, finalizou.